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quinta-feira, 12 de junho de 2014

Café Esquina do Tempo - Poetando


















ASSIM É


Meu amor,
A paixão
É transbordante,
Efervescente
E evanescente;
É perigo
Inevitável,
Inadiável,
Irredutível
E incandescente;
É espera
Imperdoável,
É silêncio
Impaciente,
É insistência
Censurável,
É domínio
Complacente.


Minha paixão,
O amor
É indelével,
Invulnerável
E incomensurável;
É certeza
Transparente,
Convergente,
Intermitente
E perdurável;
É dor
Reticente,
É adoração
Idealizável,
É transformar
Infinitamente,
É resgatar
O imponderável...





Lisete Göller - 1997
Foto: Desenho de Lisete Göller em grafite - 1997



Foi escrito de um só fôlego. Um poema apaixonado, um hino a um amor idealizado. Nele uso inúmeras palavras, que começam pela letra i, denotando a riqueza em nossa língua de palavras tão significativas e expressivas, que começam por esta vogal...


segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Café Esquina do Tempo - Poetando



















EM BRANCO
E NEGRO:
PIERRÔ,
ARLEQUIM E
COLOMBINA.


Pierrô
Toca ao luar
De prata
O alaúde
De cordas
Argênteas:
Branca
É a luz
Da música
Que o inspira,
Negra
É a noite
Que no silêncio
Conspira.


Arlequim
Recita
Poemas
Na sala
De reflexos
Prateados:
Branca
É a imagem
Que o cristal
Reproduz,
Negra
É a sombra
Que na parede
O conduz.


Colombina
Dança
O adágio
No palco
Reluzente
De ébano:
Branca
É a ribalta
Que o hoje
Ilumina,
Negra
É a incerteza
Que o amanhã
Descortina.


Pierrô
Encontra
Arlequim
Que sonha
Encontrar
Colombina
No hall de mármore:
Branco
Quadriculado
No negro,
Negro

No branco
De pérola
Emoldurado.


Pierrô
Veste-se todo em negro,
Colombina
Elege a branca veste,
Arlequim
Metade em branco,
A outra em negro se reveste:
Branco
Bordado
No negro,
Negro
No branco
Tecido
Aveludado.


Colombina
Dá sua mão
Ao arlequim,
Pierrô
Pende ao lado,
Triste e 
Inconsolável:
Branco
Despedaçado
No negro,
Negro
No branco
Pendor
Desprezado.


Pierrô
Oferta o punhal
De prata
À luz da Lua,
E paira na noite
O silêncio
Insondável:
Branca
É a paz
Do luar sem vida,
Negra
É a cor
Que se tornou
Despedida...


Lisete Göller – 1997

Foto: Desenho de Lisete Göller em grafite - 1997


A ideia para este poema, cuja leitura deve lembrar um jogral, veio de um sonho. Encontrava-me num vestíbulo de uma bela casa, cujo piso era todo quadriculado em branco e preto. Havia nele apenas uma grande escada, cujos corrimãos e balaustradas eram pintados de branco. Na atmosfera emanada deste poema, um tanto medieval, foram excluídas todas as cores, exceto o branco (a união de todas as cores) e o preto (a ausência de todas elas). O poema representa de certa forma a dualidade que existe em todos nós e da qual somos reféns.

Pierrô, Arlequim e Colombina são alegorias. Pierrô, o eterno mal-amado, veste-se em negro, porque as suas emoções são sempre contidas e não consegue realizar as suas ambições. Arlequim, por outro lado, representa o insincero. A metade branca com que se veste reproduz a exteriorização de seus bons sentimentos e a metade negra o seu perfil trapaceiro. Colombina veste-se totalmente em branco - a cor da pureza para os ocidentais -, que simboliza a ingenuidade e a indecisão.

Pierrô, ao final, oferta a sua vida para a Lua que sabidamente possui o seu lado escuro que permanecerá eternamente oculto para nós. E encontrou a paz que buscava, porque a Lua aceitou o seu sacrifício: trocou a sua veste negra pela veste de um luar de prata...



sábado, 12 de outubro de 2013

Café Esquina do Tempo




















O HOLOGRAMA

Imagens tridimensionais,
Compostas pelo reflexo da tua luz,
Dão ilusão ao movimento,
Feito caleidoscópicas lembranças.
Inesperadas cores se mobilizam,
Como se vidas pudessem ser produzidas,
A partir da interseção do objeto que é o Ser
Com o raio de trajetória precisa.
Só se pode assim ver
O que não se pode de outro modo tocar:
A luz que também é matéria,
Permanece inacessível por exceção particular.
Teu holograma será por fim
A criação
Da criação sensitiva,
E também a prova cabal e singular
Da tua comparação definitiva...



Lisete Göller - 1998

Foto: Desenho de Lisete Göller em Lápis Aquarela - 1998


Nota: o Musée de l’Holographie, situado em Paris, trouxe-me a inspiração para este poema. Lá são apresentadas desde reproduções de objetos simples, até estereogramas com temas diversos, dando a ilusão de movimento. Os hologramas são produzidos por meio de um raio laser que atinge o objeto, e forma as imagens tridimensionais dos reflexos de luz.

Transpondo essa ideia para o poema, quando manipulamos a imagem elaborada pela nossa mente de um ser que é importante para nós, e que pode não estar ao nosso lado, criamos essas ilusões que se projetam no tempo e no espaço. Damos vida a elas, como se esta pudesse ser verdadeira, e dela partilhamos por alguns breves momentos. Em outras palavras, projetamos no ser amado a nossa própria imagem que, por vezes, é tão diversa da realidade do outro que, após o decurso de um longo período de tempo, compreendemos que tudo não passava de uma ilusão. Idealizamos o nosso próprio holograma...



terça-feira, 30 de abril de 2013

Café Esquina do Tempo
















 


PÁGINA DE OUTONO

E tu...
És o barulho dos seixos,
O cheiro vegetal de caules machucados,
O fruto ofertado pela transcendência da seiva,
Que só conhecerá essa fugaz estação
Porque dela é parte,
E parte dela
É eternamente efêmera.
És o respirar deste dia de abril,
O estar-ficar 
Que não conhece outro tempo,
A compreensão deste estado latente
Palpitando no centro da terra,
E que restará adormecido,
Mais uma vez,
Quando o outono se der por findo.
E se o teu poema restar inacabado,
Como deve ser uma página
Que antecede e sucede outras,
Quero te guardar como lembrança
Deste breve outono,
Quando fomos e vivemos feito partes,
Uma a metade da outra,
Como se não outra razão houvesse,
E que, se eu pudesse,
Teria feito deste momento
Um achado de valor
Extremo... 


Lisete Göller – Outono de 1996


Foto: Acervo Pessoal, Porto Alegre, 16/06/2007


Nota: considero o Outono a estação mais bela e poética de todas. O Verão tem o seu domínio no calor extenuante, o Inverno o tem no frio desolador e a Primavera tem certo quê de histerismo, quando tudo é vento, vento, só vento... Acho que é mais prudente se esconder no veludo ocre do Outono, sem viver de extremismos...