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quinta-feira, 18 de abril de 2024

Memórias de uma Cidade - Cemitério Espanhol


Detalhe da fachada do antigo Cemitério Espanhol em Porto Alegre RS – Foto original de Tiago Esperoto - Memorial da Angelus

A imigração espanhola no Rio Grande do Sul ocorreu por volta de 1885, a partir do qual vieram cerca de 10 mil espanhóis, que se distribuíram pelas mais importantes cidades gaúchas. No caso de Porto alegre, estes imigrantes em sua maioria colaboraram principalmente como trabalhadores braçais, nos ramos da construção civil e de obras urbanas, mas não faltaram artesãos, comerciantes, industrialistas e profissionais técnicos especializados. Passados alguns anos, surgiu a Sociedade Espanhola de Socorros Mútuos, que foi fundada em Porto Alegre em 01/08/1893, cuja sede foi inaugurada somente em 14/03/1929, esta localizada na Rua Andrade Neves, nº 23, no centro da Capital. Durante a guerra civil espanhola, houve uma cisão entre os seus membros, época em que passaram a existir duas sociedades: uma para os republicanos e outra para os franquistas. A unidade veio somente após 1994. 


O prédio da antiga Sociedade Espanhola de Socorros Mútuos, no Centro de Porto Alegre – Foto: Lisete Göller


Detalhe do prédio da Sociedade Espanhola – Foto: Lisete Göller

Os imigrantes espanhóis perceberam a necessidade de construir um cemitério a partir de 1905, porém não conseguiram realizar a edificação de um panteão, onde seriam guardados os restos mortais dos sócios mais antigos, monumento característico dos cemitérios de sociedades, por falta de recursos financeiros.


Vista da entrada do extinto Cemitério Espanhol em Porto Alegre RS – Fonte: Goggle Street View


O extinto Cemitério Espanhol, situado na Av. Porto Alegre s/nº, no Bairro Medianeira, foi desativado em dezembro de 2000, tendo abrigado no total 492 túmulos. Além de imigrantes espanhóis, havia sepultados de diversas nacionalidades, assim como exilados espanhóis, republicanos e militantes do movimento operário internacional (FORGS, COB, CNT da Espanha e da AIT).


Vista interna do antigo Cemitério Espanhol – Fonte: Internet


À esquerda, uma vista de parte do Cemitério Espanhol, nas proximidades do Cemitério João XXIII (ao centro), inaugurado em 1972 – Fonte: Site do Cemitério João XXIII – Década de 1970

Posteriormente, a Sociedade Espanhola procedeu à negociação do cemitério com a empresa funerária Angelus, partindo da doação do mesmo sem ônus, em troca da perpetuidade de 20 túmulos e 30 nichos, cujo valor foi avaliado financeiramente na época do negócio, além da desoneração de todos os trâmites legais envolvidos. Os responsáveis e familiares pelos sepultados foram notificados, devendo estes providenciarem o traslado para outros cemitérios. Os sepultados não procurados seriam removidos para o ossuário do Cemitério da Santa Casa.


O prédio da Angelus – Memorial e Crematório Angelus – Foto: Lisete Göller


Reconstituição simbólica do antigo muro de alvenaria e gradis de ferro, atribuídos ao arquiteto Fernando Corona no estilo neocolonial espanhol, inserido no muro de entrada da Angelus – Foto: Lisete Göller

A Angelus construiu um novo cemitério, no terreno do Cemitério Espanhol, que se situa entre o terreno do Cemitério da Santa Casa e o Cemitério da Igreja Batista. A empresa oferece basicamente ao público serviços de crematório, nichos, columbários, capelas funerárias e salão nobre para cerimônias.


CONHECENDO O MEMORIAL


No Memorial criado pela Angelus encontramos um pouco da história do antigo Cemitério Espanhol - Foto: Lisete Göller


No Painel In Memoriam constam os sobrenomes das famílias dos sepultados no Cemitério Espanhol - Foto: Lisete Göller


Sobrenomes em destaque no Memorial - Foto: Lisete Göller 

A ARQUITETURA DO CEMITÉRIO


Painel tendo por tema a arquitetura do Cemitério Espanhol - Foto: Lisete Göller

O arquiteto espanhol Fernando Corona, que projetou o prédio da Sociedade Espanhola no centro de Porto Alegre, elaborou um estudo para o cemitério, onde estava prevista a construção de um edifício linear com seis andares, de modo que os jazigos seriam organizados em torres verticais, o que ampliaria a capacidade de sepultamentos. Corona projetou também a construção de um panteão na parte frontal, que guardaria os restos mortais dos primeiros sócios. Tal projeto não vingou, pois as dificuldades financeiras para implantação do projeto não o permitiram. Restou o cemitério na sua concepção original, assim permanecendo até o fechamento.


Painel sobre a arquitetura: fotos originais contantes no painel de autoria de Tiago Sperotto, 2012, cedidas por Luciano Reichenbach Araújo e Tarcísio Juarez Fonseca de Araújo - Foto: Lisete Göller


Estudo arquitetônico não executado de autoria de Fernando Corona – Fonte: Acervo do Centro Espanhol - Foto: Lisete Göller


Jazigos originais do antigo Cemitério Espanhol - Foto: Lisete Göller


Levantamento do Cemitério Espanhol de 10/06/1949 com plano de implantação – Fonte: Acervo do Centro Espanhol - Foto: Lisete Göller


Detalhes internos do antigo Cemitério Espanhol - Foto: Lisete Göller


 Painel - Foto: Lisete Göller



Painel - Foto: Lisete Göller



Painel - Foto: Lisete Göller


Monumento funerário remanescente do casal Luciano Villodré Gomez e Conceição Villodré Serrano - Foto: Lisete Göller


Lápide com inscrições - Foto: Lisete Göller


A Linha do Tempo da Comunidade Espanhola e o Cemitério: desde a fundação da Sociedade Espanhola de Socorros Mútuos em Porto Alegre, em 01/08/1893, seguida pela inauguração do Cementerio Español em 18/11/1906, até a inauguração do novo Cementerio Español em 2018 - Foto: Lisete Göller


Fotos aéreas de Porto Alegre e do Bairro Medianeira nos anos 1950 e 1960 - Foto: Lisete Göller


Plantas e mapas do Município de Porto Alegre - Foto: Lisete Göller


Bairros de Porto Alegre e o Guia Histórico de Sérgio da Costa Franco com o verbete Cemitérios - Foto: Lisete Göller


Reprodução de parte do Livro de Óbitos original, da Sociedade Espanhola de Socorros Mútuos, aberto em 18/12/1906 - Foto: Lisete Göller


Listagens dos sepultados no Cemitério Espanhol - Foto: Lisete Göller


Histórico da Comunidade Espanhola e o Cemitério - Foto: Lisete Göller


Escrituras e documentos relativos ao Cemitério Espanhol - Foto: Lisete Göller


Detalhe da cobertura envidraçada do Memorial - Foto: Lisete Göller


Fachada do atual prédio do Centro Espanhol no Bairro Higienópolis em Porto Alegre - Foto: Lisete Göller

OS SEPULTADOS


A Angelus contratou empresas especializadas em museus e memoriais, para realizar um trabalho técnico e de recuperação da memória do antigo ‘Cementerio Español’. Foram contratadas a Tedesco & Bertaso, de São Paulo, através da arquiteta Stella e a Lahtu Sensu, da cidade de Santa Maria RS, através da Sra. Lucia Silber. O Memorial está aberto para visitação ao público 24 horas por dia. Pelo contato mantido com Lucia Silber, esta explicou que foi realizada uma pesquisa sobre as pessoas sepultadas no antigo Cemitério Espanhol, através de fontes distintas, cujos dados foram cruzados e, por fim, apresentados num dos expositores existentes no Memorial. As fontes da pesquisa foram as seguintes: 

1) Angelus – 11 listas de exumações realizadas no antigo cemitério;

2) Centro Espanhol - levantamento cadastral das pessoas enterradas até 1988, cujos registros manuscritos são oriundos dos arquivos da Sociedade Espanhola de Socorros Mútuos, no tocante ao Cementerio Español – Relacción de Sepulturas – Orden Alfabético - Dezembro, 2012;

3) Centro Histórico-Cultural da Santa Casa - índice das pessoas que foram sepultadas no Cemitério Espanhol, desde a dia de sua inauguração até a data de 30/05/1949 (fls. 1 a 8) e, em outro levantamento, até a data de 10/10/1968 (fls. 9 a 12).

A listagem abaixo foi transcrita através dos dados constantes no arquivo do Centro Espanhol e no site O Syndicalista, totalizando 465 sepultados. O ano mais antigo de falecimento é o de 1906 e o mais atual tem a data de 24/12/2000.