PÁGINA DE OUTONO
E tu...
És o barulho dos seixos,
O cheiro vegetal de caules machucados,
O fruto ofertado pela transcendência da seiva,
Que só conhecerá essa fugaz estação
Porque dela é parte,
E parte dela
É eternamente efêmera.
És o respirar deste dia de abril,
O estar-ficar
Que não conhece outro tempo,
A compreensão deste estado latente
Palpitando no centro da terra,
E que restará adormecido,
Mais uma vez,
Quando o outono se der por findo.
E se o teu poema restar inacabado,
Como deve ser uma página
Que antecede e sucede outras,
Quero te guardar como lembrança
Deste breve outono,
Quando fomos e vivemos feito partes,
Uma a metade da outra,
Como se não outra razão houvesse,
E que, se eu pudesse,
Teria feito deste momento
Um achado de valor
Extremo...
Lisete Göller – Outono de 1996
Foto: Acervo Pessoal, Porto Alegre, 16/06/2007
Nota: considero o Outono a estação mais bela e poética de todas. O Verão tem o seu domínio no calor extenuante, o Inverno o tem no frio desolador e a Primavera tem certo quê de histerismo, quando tudo é vento, vento, só vento... Acho que é mais prudente se esconder no veludo ocre do Outono, sem viver de extremismos...
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