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Os artigos veiculados neste blog podem ser utilizados pelos interessados, desde que citada a fonte: GÖLLER, Lisete. [inclua o título da postagem], in Memorial do Tempo (https://memorialdotempo.blogspot.com), nos termos da Lei n.º 9.610/98.

terça-feira, 19 de novembro de 2019

Família Rohr - Lápides - Imigrante Maria Anna Rohr Feiten - Ramo Catharina Feiten Marmitt


IMIGRANTES MARIA ANNA ROHR E ESPOSO MATHIAS FEITEN

RAMO CATHARINA FEITEN E ESPOSO MIGUEL MARMITT


Lápide de Mathias Marmitt, filho de Catharina Feiten e Miguel Marmitt, neto de Maria Anna Rohr e Mathias Feiten, no Cemitério Católico de Ivoti RS – Foto: Billion Graves


Família Rohr - 190 Anos da Imigração - 1829 -2019


Neste ano de 2019, comemoramos os 190 anos da chegada das irmãs Susanna Rohr e Maria Anna Rohr ao Brasil, que saíram da cidade de Klüsserath, na Alemanha, com seus esposos e filhos, com a expectativa de construírem um futuro promissor para a família. Na postagem sobre os 190 anos da chegada da Família Schmitz, cujos patriarcas eram Philipp e Susanna Rohr, meus tetravós, acompanhados de seus dois filhos, Maria Anna e Peter, o assunto da vinda destes para o Brasil foi plenamente abordado. Nesta postagem, entretanto, a homenagem é feita à irmã, Maria Anna Rohr, seu esposo Matthias Feiten, os filhos Jacob e Matthias, este falecido no decorrer da viagem.




O 10º Encontro da Família Feiten-Rohr – 16/11/2019 – Ibirubá RS – Foto: Acervo de Elói Edmundo Franz

Segue um breve relato sobre a viagem baseado nos artigos do genealogista alemão Friedrich Hüttenberger, além da correspondência pessoal com o mesmo. Ele é pesquisador do engano histórico envolvendo os navios Cäcilia, que nunca existiu, e o Helena e Maria, que sofreu um quase-naufrágio próximo ao porto inglês de Falmouth.

A Família Feiten começou os preparativos para a saída de sua pátria nos últimos meses do ano de 1827. Dentre os registros da Igreja de Ensch, encontramos uma nota revelando que um grupo formado por emigrantes desta cidade e de Klüsserath havia partido de suas cidades em 11/11/1827. Provavelmente, a Família Feiten tenha ido de Klüsserath até Bingen, como fez a maior parte dos emigrantes do Palatinado e do Hunsrück e, de lá, seguiram para a cidade de Amsterdã. Os Feiten, assim como os demais emigrantes que pretendiam vir para o Brasil, contrataram a viagem com o Comandante Bartolomeus Karstens, pagando-lhe previamente uma vultosa quantia. Este capitão possuía um velho veleiro, um hoeker holandês, chamado "Helena en Maria" (no português, Helena e Maria ou Helena Maria, como ficou conhecido entre nós). Mas, como este serviria de navio de emigração, mandou instalar diversos beliches para poder acomodar os passageiros. Em função de seu tamanho, contendo três mastros, o navio não poderia zarpar direto de Amsterdã e, por isso, ele sairia do porto de Texel, uma das Ilhas Frísias, situada ao norte de Amsterdã.

Segundo a carta do imigrante Johannes Weber, de Neunkirchen, Bosenbach, no Palatinado, que se encontrava guardada e esquecida nos USA, conforme Hüttenberger, seriam mais ou menos 40 famílias do Rio Mosel, que já estavam instaladas no “Helena e Maria”, além de famílias do Hunsrück, como Johannes Spindler, conhecido pela carta que escreveu em 1828, isto é, famílias que provinham de regiões do lado esquerdo do Reno, predominantemente católicas, que estariam a bordo, antes que outras famílias da região de Kusel, distrito da Alemanha, no oeste do Palatinado, de religião protestante, chegassem ao navio.

Como o número de passageiros e de bagagens excedia à capacidade do navio, ocorreu um sério conflito, que resultou na ordem do comandante de zarpar mesmo que todos passageiros não tivessem embarcado, permanecendo certo número de emigrantes em terra, com ou sem suas bagagens e, pior ainda, mesmo que estes tenham ficado separados dos demais membros de suas famílias, que já estavam no navio, sem que pudessem impedir a partida do veleiro “Helena e Maria”. Os que ficaram para trás conseguiram embarcar posteriormente no bergantim holandês Alexander para o Rio de Janeiro, sendo depois levados à cidade de Santos pelo navio Rocha e, mais tarde, seguiram para a colônia de Santo Amaro em São Paulo. 


Imagem de um antigo Hoeker, como o ‘Helena e Maria’, veleiro que era utilizado normalmente para a pesca no Mar do Norte – Fonte: http://ijsselvallei.info/

Depois desta situação inusitada, os passageiros embarcados partiram no navio “Helena e Maria”, na data de 06/01/1828, do porto de Texel, e não no suposto navio chamado Cecília ou Cäcilia. Depois de quase uma semana de navegação, no dia 12/01/1828, o navio foi atingido por uma violenta tempestade ou furacão no Canal da Mancha, perdendo os três mastros, cujas partes superiores se partiram e caíram. Na tradição oral, o marceneiro Philipp Schmitz (o Grande), com ajuda dos imigrantes, teria tido a idéia de cortar os mastros, como tentativa de estabilizar o navio. O incidente aconteceu na Ponta de Lizzard ou Manacle Rock, perto da cidade portuária de Falmouth, onde o Canal da Mancha se encontra com o Oceano Atlântico.

Cessada a tempestade, o “Helena e Maria” ficou à deriva por 3 dias, pois a chegada ao porto de Falmouth aconteceu em 15/01/1828, segundo consta no registro no Lloyd’s List. Providencialmente, o “Helena e Maria” foi socorrido pelo navio Plover Packet, comandado pelo Capitão Edward Jennings. Este navio foi lançado no ano de 1821, e foi nomeado em 06/12/1823 pelo Almirantado inglês para atuar em viagens regulares entre o Reino Unido e a América do Sul, além das Índias Ocidentais. Não houve abandono do navio “Helena e Maria” por parte da tripulação, nem do Capitão Bartholomeus  Karstens, os quais acompanharam os passageiros até Falmouth. Este capitão mandou reparar o navio para que os passageiros seguissem viagem, mas estes não aceitaram, por considerarem a embarcação pouco segura, já que o próprio Estado Maior da Marinha Inglesa o considerou não-navegável.

No período em que os emigrantes foram acolhidos em Falmouth, durante o ano de 1828, houve muitos registros de nascimentos e óbitos, que foram registrados nos livros da Igreja de Falmouth, ou seja, os primeiros Alemães em Falmouth apareceram em janeiro de 1828. Este fato é provado pelos artigos de jornais da Inglaterra sobre o naufrágio,  pelos registros da Igreja de Falmouth, onde, por exemplo, todos os sepultamentos de crianças alemãs estão registrados, sendo que o sepultamento de Jakob Drumm, em 26 de novembro 1828, foi o último registro de um alemão em Falmouth, além de registros de batismos e casamentos. Assim sendo, os emigrantes ficaram nesta cidade por quase onze meses, ou seja, de 15/01/1828 a 10/12/1828.

Cabe referir que o filho Matthias Feiten, nascido em 25/03/1827, em Klüsserath, faleceu em 30/01/1828, sendo sepultado no Cemitério da Igreja de Falmouth Parish Church. Ele foi uma das 21 crianças, que morreram nos primeiros dois meses após o naufrágio (Fonte: Genealogista Friedrich Hüttenberger).

O "Helena e Maria" foi reparado, mas não foi mais considerado navegável. Então, os emigrantes passaram a buscar outro meio de transporte. Somente após muitos pedidos, o Governo Inglês pôs um navio à disposição destes (e não D. Amália von Leuchtenberg, como Amstad e Hunsche escreveram), mas foram advertidos que a roupa, pois estava chegando o inverno, além dos mantimentos, ficariam por sua própria conta. Esta ajuda foi dada, em parte, pela comunidade inglesa e, ao final de 1828, o navio "James Laing" foi colocado à disposição no Porto de Falmouth. Em 10/12/1828, quase um ano depois do início da viagem na Holanda, o navio zarpou deste porto com os imigrantes e, dois meses depois, sem qualquer acontecimento, chegaram ao Rio de Janeiro. A última coisa que os emigrantes fizeram antes de partir foi uma missa na capela católica de Falmouth, em 10/12/1828, para agradecer aos Ingleses pela ajuda e ao governo inglês pelo navio (conforme artigo em Devizes & Wiltshire gazette de 18/12/1828). 


Veleiro semelhante ao James Laing (imagem com finalidade meramente ilustrativa) – Fonte: Internet

O "Diário do Rio de Janeiro", de 10/02/1829, publicou a chegada do James Laing em 08/02/1829, após 61 dias, que era o tempo normal para a travessia do Atlântico naquela época, com 305 colonos. Revela que a empresa responsável era A. Miller & Comp.

A maior parte dos Hunsrükianos, Moselanos e Palatinos foi registrada em 18/03/1829 no Rio de Janeiro. Os Feiten foram embarcados em 10/04/1829 no veleiro costeiro "Florinda" e, após, encaminhados para Porto Alegre no Rio Grande do Sul, finalizando nesta cidade a grande odisséia na data de 14/05/1829. A Família Feiten se estabeleceu na cidade de Dois Irmãos, no Estado do Rio Grande do Sul, onde o casal foi sepultado no Cemitério da antiga Igreja Matriz.


Brigue-Escuna semelhante ao Florinda – Autor: desconhecido



segunda-feira, 18 de novembro de 2019

Família Mossmann - Encontros - Ramo Jacob Mossmann (Filho)


O 6º ENCONTRO DA FAMÍLIA MOSSMANN


O 6º Encontro da Família Mossmann foi realizado no dia 16/11/2019, na cidade de Pato Bragado, no Estado do Paraná, em especial homenagem à Sra. Elsa Elma Mossmann Wiedeck, filha de João Balduíno Mossmann e Margarida Christiana Schuh, esposa de Arlindo Wiedeck, que reside nesta cidade.


O 6º Encontro das Famílias Mossmann-Wiedeck – 16/11/2019 – Pato Bragado, Paraná – Fotos: Oliveta Mossmann Zuliani


domingo, 17 de novembro de 2019

Família Schmitz (Philipp) - 190 Anos da Imigração - 1829 - 2019


No ano de 2019, comemoramos os 190 Anos da chegada da Família Schmitz, vindos de Klüsserath, Renânia-Palatinado, Alemanha, composta por Philipp Schmitz, a esposa Susanna Rohr e os filhos Maria Anna Schmitz e Peter Schmitz. A viagem da Família Schmitz está inserida num assunto polêmico, que é a viagem do lendário navio Cäcilia, que teria saído de Bremen, sofrido um quase-naufrágio no Canal da Mancha, tendo seus ocupantes sido resgatados por um navio inglês, o qual os levou para a cidade portuária de Falmouth, onde passaram a viver por quase 2 anos, até que o governo brasileiro contratasse o navio James Laing, para trazê-los para o Brasil. 

Este assunto já foi detalhado nas publicações Família Schmitz (Philipp) – A Viagem de Navio e A Lenda do Navio Cecília (Cäcilia). Esta pesquisadora segue o mesmo entendimento do genealogista alemão Friedrich Hüttenberger, que pesquisa há muitos anos o engano histórico sobre o citado navio, o qual concluiu que o Cäcilia nunca existiu, mas apenas e tão-somente o veleiro chamado Helena e Maria, sobre o qual há provas irrefutáveis de sua existência.

De forma resumida, a Família Schmitz teria partido de Klüsserath em 11/11/1827 até Bingen. De lá, seguiram até Amsterdã, onde havia sido contratado pelo grupo de emigrantes o Comandante Bartolomeus Karstens, que possuía um velho veleiro com três mastros, um hoeker holandês, chamado ‘Helena en Maria’ ou ‘Helena e Maria’. Por causa de seu tamanho, ele não poderia zarpar direto de Amsterdã, por isso, ele sairia do porto de Texel, uma das Ilhas Frísias, situada ao norte de Amsterdã. Entretanto, como o veleiro já havia excedido a sua capacidade de passageiros e bagagens, houve um sério conflito com aqueles que não puderam nele embarcar. Os passageiros que ficaram para trás, inclusive alguns deles foram separados de suas famílias, embarcaram algum tempo depois, no bergantim holandês Alexander, que partiu para o Rio de Janeiro. Mais tarde, estes imigrantes vieram a integrar a Colônia de Santo Amaro em São Paulo.


Imagem de um antigo Hoeker, como o ‘Helena e Maria’, veleiro que era utilizado normalmente para a pesca no Mar do Norte – Fonte: http://ijsselvallei.info/


O ‘Helena e Maria’ seguiu viagem em 06/01/1828. Na data de 12/01/1828, o veleiro foi atingido por uma violenta tempestade no Canal da Mancha, perdendo os três mastros, cujas partes superiores se partiram e caíram. Na tradição oral, que era narrada para o Cäcilia, o marceneiro Philipp Schmitz (o Grande, tido como primo de nosso Philipp Schmitz, o Pequeno), com ajuda dos imigrantes, teria tido a idéia de cortar os mastros, como tentativa de estabilizar o navio. O incidente aconteceu na Ponta de Lizzard ou Manacle Rock, perto da cidade portuária de Falmouth, onde o Canal da Mancha se encontra com o Oceano Atlântico.

Depois da tempestade, o ‘Helena e Maria’ ficou à deriva por cerca de 3 dias, sendo socorrido pelo navio Plover Packet, que os levou ao porto de Falmouth em 15/01/1828. Os passageiros ficaram nesta cidade no período de 15/01/1828 a 10/12/1828. Seguiu-se que o próprio governo inglês, com a ajuda da comunidade inglesa, em termos de roupas e mantimentos, providenciou o navio James Laing, para levaram os emigrantes para o Brasil, o qual zarpou em 10/12/1828, chegando ao Rio de Janeiro depois de quase dois meses. 


Veleiro semelhante ao James Laing (imagem com finalidade meramente ilustrativa) – Fonte: Internet


O ‘Diário do Rio de Janeiro’, na edição de 10/02/1829, publicou a chegada do James Laing em 08/02/1829, com os 305 colonos. Os membros da Família Schmitz foram embarcados em 10/04/1829, no veleiro costeiro ‘Florinda’, para o porto de Rio Grande no Estado do Rio Grande do Sul e, após, foram encaminhados para a Capital Porto Alegre, onde chegaram em 14/05/1829, finalizando assim a grande odisséia, que começou na cidade natal, na data de 11/11/1827.


Brigue-Escuna semelhante ao Florinda – Autor: desconhecido


Cabe aqui referir que o nascimento do filho Peter Schmitz ocorreu em trânsito, possivelmente entre Klüsserath e Amsterdã, no ano de 1827, que é o ano de nascimento que consta em sua lápide no Cemitério Católico de Bom Princípio RS. 


O KERB DE SÃO MIGUEL

A lenda do Cäcilia resultou também na história de que os imigrantes alemães, em agradecimento por terem chegado sãos e salvos ao seu destino no Brasil, haviam proposto festejar a data de salvamento anualmente, fato que ficou relacionado com as comemorações da Festa de São Miguel no mês de setembro. A festa, chamada de Kerb de São Miguel, acontece há 190 anos, na cidade de Dois Irmãos, no Rio Grande do Sul, mantendo-se até a atualidade, posto que muitos daqueles imigrantes foram lá residir.




Fotos: Site da Prefeitura de Dois Irmãos RS

Como esta pesquisadora não poderia deixar de exprimir de alguma forma a satisfação em relembrar a chegada de nossos imigrantes há 19 décadas, sabedora das dificuldades em reunir os relativamente poucos descendentes dispersos pelo nosso Estado, quiçá pelos outros Estados brasileiros, nasceu a idéia de participar de algumas atividades de cunho artístico, social e religioso na cidade de Porto Alegre, ao longo deste ano de 2019, buscando prestar uma singela homenagem aos nossos ancestrais Philipp Schmitz e Susanna Rohr.   


(1) Celebração religiosa na Igreja de São José em Porto Alegre RS – 27/06/2019; (2) Concertos Capitólio apresentando Liebeslieder – Canções de Amor e outras composições do alemão Johannes Brahms, tendo ao violino Ariel Polycarpo e Richard Bartikoski, ao piano Daniel Benitz e Fernando Rauber, Soprano Cynthia Barcellos, Mezzo Soprano Angela Diel, Tenor Roger Scarton e Barítono Francis Padilha – 05/10/2019 – Porto Alegre RS; (3) Almoço de comemoração dos 190 Anos da chegada da Família Schmitz ao Rio Grande do Sul – 06/02/2019; (4) Concerto da Orquestra Sinfônica de Porto Alegre, com apresentação do Coro Sinfônico da OSPA e da violinista do Cazaquistão, Anna Markova, tendo no programa músicas dos compositores alemães Johannes Brahms e Anton Bruckner – 28/09/2019; (5) Exposição Travessia por Terra, Ar e Mar, da artista Lilian Maus, sobrenome de origem alemã, realizada na Pinacoteca Aldo Locateli. A mostra traz pinturas, fotografias, vídeos e instalações, que resultam de uma expedição de cinco anos pelo interior de Osório RS, onde a artista mantém seu ateliê – 05/11/2019 – Porto Alegre RS


DESCENDENTES DOS SETES RAMOS DA FAMÍLIA DE PHILIPP SCHMITZ E SUSANNA ROHR

O casal Schmitz teve 7 filhos, que deixaram descendência, formando os 7 grandes ramos da família: Maria Anna, Peter, Mathias, Ignês, Margaretha, Carlos e Catharina.


1-RAMO MARIA ANNA SCHMITZ CASADA COM PETER SCHMITZ*


Família de Pedro Fridolino Schmitz, bisneto de Philipp Schmitz e Susanna Rohr, neto de Maria Anna Schmitz e Peter Schmitz, filho de Felippe Schmitz e Elisabetha Weber – (de pé, atrás) Maria Anísia (Irmã Benedita), Padre Egídio Francisco, Reinaldo Eugênio, Padre Pedro Ignácio, Aloísio Roque; (de pé, à frente) Tereza Edwig e Maria Carmen; (sentados) Pedro Fridolino e a esposa Maria Hilda Angst – Bom Princípio RS – Foto: Acervo de Ana Maria Schmitz

*Filho dos imigrantes Philipp Schmitz (Senior) e Maria Merges, de Klüsserath, Renânia-Palatinado, Alemanha


2-RAMO PETER SCHMITZ CASADO COM MARGARETHA LINK


Tetranetos de Philipp Schmitz e Susanna Rohr, trinetos de Peter Schmitz e Margaretha Link, bisnetos de Jerônimo Schmitz e Mathilde Kayser, netos de José Reinaldo Schmitz e Margarida Cecília Braun, filhos de Augusto Saturnino Schmitz e Margarida Lilia Knapp: (acima) Ana Flávia, Maria Elisabeth, Margarida, Maria Helena e Bernardete; (abaixo) Pércio Augusto, José Luciano, Alexandre Inácio e Paulo Alberto – Foto: Acervo de Margarida Schmitz Konzen


3-RAMO MATHIAS SCHMITZ CASADO COM MARIA SCHMAEDECKE


Guilhermina Seibel e João Schneider (casal sentado à direita), bisneta de Philipp Schmitz e Susanna Rohr, neta de Mathias Schmitz e Maria Schmaedecke, filha de Christina Schmitz e Mathias Seibel, no casamento do filho Fridolino Schneider com Carolina Rosalina Fröhlich, filha de Alberto Fröhlich e Anna Maria Stein (casal à esquerda) – Ivoti RS – 05/10/1935 – Foto: Acervo de Rafael Lehnen


4-RAMO IGNÊS SCHMITZ CASADA COM JOSÉ SCHMITZ*


Família de Maria Margarida Jung, bisneta de Philipp Schmitz e Susanna Rohr, neta de Ignês Schmiz e José Schmitz, filha de Luiza Schmitz e Guilherme Jung, com o seu esposo Nicolau Pies e os filhos Luiz, Bertoldo, Benedito, Daniel, Anastásia, Hedvig e Maria – Foto: Site da Família Pies

*Filho dos imigrantes Philipp Schmitz (Senior) e Maria Merges, de Klüsserath, Renânia-Palatinado, Alemanha


5-RAMO MARGARETHA SCHMITZ CASADA COM JOHANN GÖLLER


Ao centro, Idalina Schmitz*, viúva de Jacob Göller Sobrinho, este bisneto de Philipp Schmitz e Susanna Rohr, neto de Margaretha Schmitz e Johann Göller, filho de José Göller e Elisabetha Strasser, com os filhos e netos na comemoração de seu aniversário de 66 anos – Porto Alegre – 17/08/1958 – Foto: Acervo de Lisete Göller

*Neta dos imigrantes Nicolau Schmitz e Anna Maria Schmitz de Mastershausen, Renânia-Palatinado, Alemanha


6-RAMO CARLOS SCHMITZ CASADO COM MARIA THERESA ARENDT (ARENT)


Família de Amandio Balduíno Schmitz (1º à direita), trineto de Philipp Schmitz e Susanna Rohr, bisneto de Carlos Schmitz e Maria Theresa Arendt, neto de Henrique Schmitz e Carolina Böhm, filho de João Reinaldo Schmitz e Florentina Catharina Steffens, com esposa Anita Irmgard Schlüter (1ª à esquerda) e seus sete filhos: Mircon Guido, Esmeria Maria, Mirtes Inês, Delci Helena, Ildo José, Anete Margarida e Ingrid Teresinha – Oberá, Misiones, Argentina – Foto: Ildo José Schmitz


7- RAMO CATHARINA SCHMITZ CASADA COM GEORG JUNGES


Anna Sibylla Junges, bisneta de Philipp Schmitz e Susanna Rohr, neta de Catharina Schmitz e Georg Junges, filha de Carlos João Junges e Maria Christine Meyrer, com o esposo Antônio José Campani, filho do austríaco Ludwig e Rosina Crusius – Pareci Novo RS – Foto: Carlos Antônio Campani



sábado, 16 de novembro de 2019

Memórias de Lugares Onde Morei I


RUA GENERAL BENTO MARTINS


Quando nasci na Maternidade do Hospital Beneficência Portuguesa de Porto Alegre, o meu pai estava negociando a compra de um apartamento na Rua Riachuelo, a qual foi finalizada em 14/02/1956, quando eu tinha apenas oito dias de vida. Antes de nos mudarmos para lá, em 02/03/1956, ficamos morando provisoriamente na Rua General Bento Martins, nº 512, numa pensão familiar. Este sobrado existiu ainda por muitas décadas, não sei se como pensão ou moradia. Anos mais tarde, ao passar por lá, quando a porta do sobrado se encontrava aberta, vislumbrava uma escada comprida, que levava aos cômodos superiores. Ficava eu a imaginar como a minha mãe devia ter passado uns maus bocados, para subir e descer os inúmeros degraus, quando ainda estava grávida de mim... Deste tempo tão remoto, restaram os nomes de Eny de Oliveira Castro, funcionário público e o de José Carlos Mota Soares, bancário, que constaram na minha certidão de nascimento como testemunhas, os quais eram moradores da mesma pensão. Atualmente, o prédio está sendo reformado, depois que foi parcialmente demolido, em obedediência à determinação de conservação da fachada, por se encontrar no Centro Histórico de Porto Alegre. Resta aguardar para ver como será a sua nova aparência e qual finalidade terá...


Rua Bento Martins, 512 - 2013 - Foto: Lisete Göller
Rua Bento Martins, 512 - 2019 - Foto Lisete Göller






















Viajemos agora ao passado histórico desta rua. A atual Rua General Bento Martins teve seu nome adotado pela Câmara de Porto Alegre em 06/06/1870, em homenagem ao Barão de Ijuí. Hoje tem o seu início na Avenida Mauá, junto ao cais do porto, e o seu término na Rua Washington Luís. A personagem histórica que lhe emprestou o nome foi Bento Martins de Meneses (1818-1881), o Barão de Ijuí, nascido em Cachoeira do Sul RS, tendo este participado da Guerra dos Farrapos. O primeiro nome oficial desta via, dado em 1777, foi Rua do Arroio. Naquela época, ela tinha seu início nas imediações da Praça do Pelourinho (na Rua dos Andradas, próximo à Igreja das Dores), terminando na Praia do Riacho (na área da atual Rua Washington Luís). 


A Praça Pe. Tomé, antiga Praça do Pelourinho, tendo ao fundo a Igreja das Dores – Anos 1910


A Praia do Riacho deu origem à atual Rua Washington Luís – 1898 – Foto: Cores da Memória


Desconhecendo a sua denominação oficial, os moradores das redondezas lhe deram três apelidos, que correspondiam às seguintes secções:

Entre a Rua da Praia (Rua dos Andradas) e a Rua da Ponte (Rua Riachuelo) era chamada de Rua dos Pecados Mortais ou Rua dos Sete Pecados, porque ali existiam sete choupanas, que eram usadas para encontros amorosos, situadas estas nas proximidades do atual QG do Exército;

Entre a Rua da Ponte (Rua Riachuelo) e a Rua da Igreja (Rua Duque de Caxias) era chamada Rua do Jogo de Bola ou Rua da Bola, porque havia um comerciante chamado Antônio Pereira da Silva, dono de um armazém de secos e molhados, que criou um campo usado para uma espécie de jogo de bochas, nos fundos de seu estabelecimento, para que os fregueses pudessem jogar e saborear os petiscos e bebidas vendidos por ele;

Entre a Rua da Igreja (Rua Duque de Caxias) e a Rua do Arvoredo (Rua Fernando Machado) era chamada de Rua dos Nabos a Doze ou Rua dos Nabos, porque ali existia um comerciante, que vendia doze nabos por um vintém. 


Planta da cidade de Porto Alegre - 1906

Os destaques da antiga Rua do Arroio foram o Atelier Photographico Calegari, do fotógrafo Virgilio Calegari, italiano da cidade de Bergamo, que teve o seu primeiro endereço no número 40 desta via, sendo inaugurado em 1893.


O famoso fotógrafo Virgilio Calegari teve seu primeiro estúdio na Rua do Arroio nº 40


Vale referir também o prédio do antigo Arsenal de Guerra da Província, situada na esquina das ruas Bento Martins e Andradas, que foi construído em 1867, pelo Conde da Boa Vista, durante a Guerra do Paraguai, tendo sido o QG da 3ª Região Militar entre os anos de 1906 e 1907. Este prédio foi tomado pelos revolucionários em 1930. Atualmente, sedia o Museu Militar do Comando Militar do Sul. 


Prédio do atual Museu Militar na esquina das ruas Bento Martins (via à direita) e Andradas (via à esquerda) - Foto: Arquivo da 3ª Região Militar


RUA RIACHUELO


Quando nos mudamos, o prédio de nosso apartamento da Rua Riachuelo ainda não estava totalmente pronto. Os elevadores ainda não estavam funcionando, além de outros contratempos. Mesmo assim, minha mãe queria se mudar para lá... Lembro-me do nosso apartamento da Rua Riachuelo, nº 917, no 3º andar do Edifício Buriti, onde moramos por treze anos. O apartamento era 'de meio'. Da janela, víamos inúmeros edifícios das redondezas, emoldurados por uma ampla área de céu azul. Era assim naquela época... Depois que nos mudamos, construíram um edifício ao lado, uma pena para quem foi morar lá no nosso antigo lar... Ao lado deste nosso edifício, havia uma pensão no nº 933, cujos filhos da proprietária eram conhecidos de meu irmão. Deste tempo, tenho lembranças de olhar o céu à noite, cheio de estrelas e de admirar a Estrela Dalva, ou Vésper, que mais tarde soube que se tratava do planeta Vênus. Era lindíssimo vê-la a certa hora da madrugada, enorme, comparando-a com as ‘outras’ estrelas. Adormecíamos com a visão fantástica do céu noturno...


A atual fachada do nosso antigo prédio da Rua Riachuelo, 917, no Centro da cidade de Porto Alegre RS – Foto: Lisete Göller


O edifício da Rua Riachuelo, 933, onde funcionou uma pensão familiar entre 1960 e 1970, é um prédio histórico no estilo eclético do final do Século XIX, que foi restaurado pela Prefeitura Municipal de Porto Alegre em 1997 – Foto: Lisete Göller


A porta do hall de entrada do apartamento se abria para a sala situada à direita e, em frente, para a porta da cozinha, a qual não era muito grande. Havia a área de serviço, em que a mãe colocava o fogão e os armários das louças e panelas. Na sala ficavam o sofá, as poltronas, a televisão, a vitrola, a cristaleira e um vaso com uma dracena, planta que eu limpava folha por folha de vez em quando. Devo confessar que é a planta mais sem graça que deve existir... Neste canto, dedicado ao pobre espécime vegetal, que resistiu ser regado com suco de limão pelo meu irmão-cientista, armávamos a nossa árvore de Natal, quando era chegada a época. As nossas janelas eram antigas, do tipo guilhotina, aliás, coisa que considero potencialmente perigosa. Mas sobrevivemos a elas... A sala dava para um corredor que, pelo menos na minha memória, era bem comprido. Lembro-me que a mãe gostava de encerar o piso de parquet. Certo dia, brincando de correr dentro de casa, esta narradora escorregou e caiu sentada no chão. Fiquei com medo de ter quebrado a bacia... Este fatídico corredor dava para os dois únicos quartos e o banheiro.


A sala do nosso apartamento da Rua Riachuelo – 1957 – Foto: Arquivo Pessoal


O primeiro quarto, que ficava à esquerda do corredor, era meu e de meu irmão. Em frente às duas camas, ficava o guarda-roupa, que tinha portas acolchoadas no estilo capitonê, cujo tecido plastificado era da cor azul-clara, assim como a cabeceira das camas. Para completar, havia um criado-mudo entre os leitos. O meu irmão colecionava flâmulas, que ficavam dependuradas na parede do quarto, perto de sua cama. Coisas que faziam sentido naquele tempo. O quarto de meus pais, ao final do corredor, era mobiliado com móveis escuros, do jeito que hoje gosto de mobiliar. Houve uma época em que havia um dossel acima da cama de meus pais. Lembro-me que, numa tarde, eu estava deitada na cama junto com a minha mãe. Enquanto esta dormia, inventei de ficar balançando uma caneta esferográfica, como se fosse uma batuta de maestro. Quando me dei por conta, o tule do dossel estava todo salpicado com respingos de tinta. Mas fiquei bem quieta, como se eu nada tivesse a ver com aquilo. Isto me fez lembrar que, antes dos sete anos, eu só queria dormir junto à minha mãe. O pobre do meu pai ficou dormindo no outro quarto com meu irmão. Levei um bom tempo fazendo esta espécie de “reinação”...  À esquerda do corredor, ao lado de nosso quarto, ficava o banheiro, decorado com azulejos até a metade da parede. Tínhamos uma banheira de louça branca, algo habitual nos apartamentos antigos. Acima dela, havia o chuveiro. Junto à porta de entrada do banheiro, havia um nicho em que se poderia montar um armário embutido, mas a mãe o fechou com cortinas. Neste lugar, ficava uma imensidade de objetos e a máquina de costura Singer, a pedal, de minha mãe, sem que ela precisasse tirá-la dali para costurar... 


No quarto de meus pais – 1957 – Foto: Arquivo Pessoal


O corredor do nosso andar do edifício era claro e havia nele três apartamentos, servidos por dois elevadores. O prédio possuía uns doze ou treze andares. O pai foi síndico durante alguns anos, incomodando-se não poucas vezes, como não poderia deixar de ser. Mas fez uma boa administração, porque foi sempre uma pessoa muito honesta. Hoje, o edifício está com a entrada e as áreas principais modificadas. De certa forma, sinto saudades de lá. Será que a gente realmente se muda da casa de nossa infância?

Lembro-me de algumas de nossas vizinhas. Havia a Dona Ceci Cabral, que morava no apartamento abaixo do nosso. Era uma senhora solteira. Lembro-me que ia rezar o terço com ela, quando era pequena. A mãe mandava a mim, não sei por quê... Em certa ocasião, Dona Ceci levou-me para assistir ao casamento de um parente seu. Mas, como me senti mal, trouxe-me para casa, perdendo ela a cerimônia. Que papelão... Mudou-se, anos mais tarde, para a Rua General Câmara e, em 1987, veio a falecer. Apelidava o seu sobrinho de “Gatinho”. Lembro-me também, que ela tinha uma enorme pedra de quartzo embaixo do console do hall de entrada de seu apartamento. 

Outra vizinha, que foi muito amiga de minha mãe, se chamava Annita Jenisch, que depois foi morar num apartamento na Rua Riachuelo nº 948, do outro lado da rua. Lembro-me que ela tinha uma irmã apelidada de “Titá”. Depois que nos mudamos, durante muitos anos, ainda a encontrava pelas redondezas da nossa antiga rua. Eu sempre lhe mandava cartões de Natal, numa tentativa de fazer com que os nossos laços de vizinhas não se rompessem. Quando não mais recebi um cartão seu de Natal como resposta ao nosso, compreendi que ela poderia ter partido... Depois de algum tempo, soube que ela havia falecido no começo de 2016.

Havia uma vizinha ainda mais antiga, que morava no 1º andar, cujo apartamento possuía um pátio extenso, a Dona Rina Ceriana. Italiana, natural de Turim, era uma senhora viúva e que tivera dois filhos. Ela foi uma atriz famosa no passado, atuando no teatro e no cinema, mas também teve um programa de rádio de música italiana na Rádio Difusora, segundo li num exemplar da Revisa do Rádio dos Anos 1950. Rina Ceriana teve o mérito de fundar a Casa do Artista Rio-Grandense. Lembro-me que ela tinha um armário cheinho de perfumes, que me fascinavam. Uma vez, ganhei dela uma caixa de talco Madame Rochas, que guardei por muito tempo. Vivia sozinha, e creio que ela tenha falecido quando eu ainda era menina. Mas chegou um tempo em que a minha mãe queria se mudar da Riachuelo de qualquer maneira, mas isto é matéria para outro capítulo...


Cena do filme ‘Amor que Redime’, o primeiro longa-metragem feito no Rio Grande do Sul, que foi produzido em Porto Alegre no ano de 1928. Na foto, Rina Lara, nome adotado por Rina Ceriana. O filme recupera o passado da zona sul da cidade - Fonte: Cinemateca Brasileira

A Rua Riachuelo é uma das vias mais antigas da cidade de Porto Alegre. Atualmente inicia-se na Rua General Salustiano, terminando na Rua Dr. Flores, na altura da Praça Conde de Porto Alegre. Antigamente, no trecho entre a Rua da Ladeira (Rua Gen. Câmara) até a Praia do Arsenal, a via era conhecida como a Rua do Cotovelo, pelo aspecto peculiar de seu traçado, logo atrás do Teatro São Pedro. Neste trecho, na esquina com a Rua Clara (Rua João Manoel), existia uma pedreira, que atrapalhava a circulação das vias entre os anos de 1833 e 1844, quando foi finalmente demolida. Da Rua da Ladeira, até a Praça do Portão (Praça Conde de Porto Alegre), chamava-se Rua da Ponte, porque havia uma ponte, uma pinguela, na esquina onde hoje se encontra a Av. Borges de Medeiros, sendo este um trecho em que eram seguidos os alagamentos. A dupla denominação durou até o ano de 1843, quando prevaleceu o nome Rua da Ponte, situação esta que durou até 1865, quando o nome foi definitivamente mudado para Rua Riachuelo, em homenagem à vitória naval brasileira contra os paraguaios na histórica Batalha do Riachuelo.  

A Rua Riachuelo teve residências nobres, como as do Conde de Porto Alegre (Manuel Marques de Souza) e o Barão do Jacuí (Francisco Pedro Buarque de Abreu), além de prédios muito bonitos, que até hoje permaneceram, como o da Confeitaria Rocco e o prédio da Biblioteca Pública, onde existia o antigo prédio da Cia. Telefônica do ano de 1886. Endereços famosos: (nº 208) Cia. Telefônica Riograndense 1884; (nº 237) Luiz Terragno Estúdio 1861-1880; (nº 359) Gustavo Bier – Fabrica de molho Bahiano; (nº 373) Instituto Commercial de Luiz Kraemer Walter – Linguas franceza, ingleza e allemã e correspondencia nas tres linguas, ensino da lingua nacional aos estrangeiros.


O Solar de Manuel Marques de Souza, o Conde de Porto Alegre, na Rua Riachuelo esquina com a Rua General Canabarro


A Rua Riachuelo de antigamente, com seus casarios! Abaixo, a Rua Riachuelo (transversal ao fundo), esquina Rua General Salustiano (via em primeiro plano), onde a primeira começa na atualidade - Fotos: Internet


Da esquerda para a direita: (em cima) Rua Riachuelo, esquina Rua General Vasco Alves, via que sobe até a Rua Duque de Caxias; Rua Riachuelo, esquina Rua General Portinho (via que sobe à direita); (ao centro) Rua Riachuelo (via onde se encontra a Capela de São Rafael), esquina Rua General Canabarro (em primeiro plano); Rua Riachuelo (onde estão os militares), esquina Rua General Bento Martins (via transversal); (em baixo) Rua Riachuelo (via que se encontra na transversal ao fundo), esquina Rua General João Manoel (em primeiro plano); Rua Riachuelo (ao fundo, vê-se o Teatro São Pedro), esquina Rua Caldas Júnior (atrás do espectador) – Fotos: Internet


Da esquerda para a direita: (em cima) Rua Riachuelo, esquina Rua General Câmara (via que segue em direção à Rua dos Andradas ao fundo); Rua Riachuelo (via transversal ao centro), esquina Rua Vigário José Inácio (via que segue em direção à Rua dos Andradas ao fundo); (em baixo) Rua Riachuelo (a segunda transversal, pois a primeira é a Rua Jerônimo Coelho), esquina Av. Borges de Medeiros, com seu viaduto; Rua Riachuelo, esquina Rua Marechal Floriano Peixoto (via onde existia a antiga Capela de São José); Rua Riachuelo (ao fundo), esquina Rua Doutor Flores (vê-se à direita, ao final da Rua Riachuelo, a antiga Confeitaria Rocco) – Fotos: Internet



RUA DOS ANDRADAS


A nossa mudança para o Edifício Dona Aldina, na Rua dos Andradas, nº 731, ocorreu em 20/05/1969. O apartamento havia sido comprado em 20/03/1969, através do Sr. Maia, um corretor conhecido, que aceitou o nosso outro apartamento como parte do negócio.  Era uma novidade e tanto. Cada um teria o seu quarto. Eu tinha 13 anos de idade nesta época, e chegamos a residir lá por 26 anos. Morávamos no 2º andar, mas era como se fosse o 1º andar, possuindo o imóvel uma grande sacada, que se projetava para frente do edifício, com a visão do icônico Hotel Majestic, atual Casa de Cultura Mário Quintana, que foi morada do poeta Mário Quintana.


A fachada do nosso antigo edifício na Rua dos Andradas - Foto: Lisete Göller


Ao fundo o edifício Aldina, emoldurado pela Casa de Cultura Mário Quintana - Foto: Lisete Göller


A sala, o meu quarto e o do meu irmão, localizavam-se na parte da frente, enquanto que o quarto de meus pais ficava na dos fundos. Tínhamos um banheiro pequeno, com banheira, cuja janela dava para a área interna do apartamento. Havia ainda a cozinha, a dependência de empregada, o banheiro auxiliar e a área de serviço. O tamanho dele era o ideal para nós, e as peças possuíam um bom tamanho. Mais tarde, ampliamos o hall de entrada até a escada do edifício, onde foi colocada outra porta, mas esta em ferro decorado. As peças dos fundos não eram claras, mas as da parte da frente recebiam sol, já que estavam dispostas na posição norte. Na sacada havia plantas em grandes jardineiras, em frente à porta da sala. Isto me fez recordar das nossas azaléias de cor fúcsia, que ficavam carregadinhas de flores, durante o inverno e o início de primavera. O meu pai também foi síndico do Edifício Aldina em determinada época, mas não lembro qual.


A nossa pequena família na sala de estar – 22/08/1990 – Foto: Arquivo Pessoal

Na sacada do nosso antigo apartamento – Agosto/1984 – Foto Arquivo Pessoal

Das nossas vizinhas, lembro-me da Dona Vitória, que tinha uma filha bem loirinha, a Stella, da Dona Rosita, da Veleda... Lá moraram em determinada época a ‘Tita’ e a ‘Lica’ com quem fiz amizades, o ‘Totão’, ou José Alves Júnior, com quem namorei durante algum tempo... Os anos foram passando, o pai faleceu e a mãe já se preparava para as mudanças mais decisivas de sua vida. Nos últimos tempos, morar lá também se tornou um incômodo, porque na loja que havia embaixo do edifício, funcionava uma distribuidora de revistas. Os caminhões chegavam para descarregar o material de madrugada. Os donos de bancas chegavam às 5 horas da manhã e ficavam conversando na rua, como se estivem na sala de suas casas. Afora isto, a rua havia se tornado muita suja e desagradável. Nestes anos todos em que lá moramos, muita coisa aconteceu: incêndios, brigas, ações policiais, um suicídio de uma senhora do edifício do lado, coisas do quotidiano das grandes cidades. Dessas coisas não há como se ter saudades...

Lembro-me que, quando estávamos para nos mudar em 1995, ano em que vendemos o apartamento no mês de outubro para um colega de trabalho de meu irmão, fiquei olhando pela janela de meu quarto o nosso pedacinho de céu azul, aquele que os prédios da frente deixavam antever. Olhava para tudo o que havia em volta, sabedora que todo aquele cenário iria ficar para trás. Nunca mais eu voltaria a entrar em nosso apartamento. Pensava nas coisas que aconteceram durante aquelas décadas em que lá vivemos. Hoje, quando passo em frente ao edifício, sempre olho a nossa sacada, vislumbrando lembranças daqueles velhos bons tempos, esperando, quem sabe, que a mãe vá aparecer na sacada sorridente... Muitas vezes, quando ia escrever o meu endereço, me vinha à mente o endereço da Andradas, como se de lá não houvesse me mudado...

Para terminar esta narrativa, quero tentar explicar a minha busca por um lugar ideal para morar. Quando era criança, imaginava que a minha casinha ficava dentro do guarda-roupa, só faltando providenciar a janela, que seria aberta num dos lados. Lá dentro, eu pensava colocar pequenos móveis, mas somente o essencial. Quando estava na rua, quando via essas casas que têm um porão, com uma portinha e uma janelinha, imaginava como seria se este porão fosse a minha casa. Como conseguiria os móveis? Procurando-os entre aqueles trastes, que as pessoas deixam na calçada, os quais eu iria consertar e pintar. Era um exercício de imaginação e treinamento de sobrevivência. Esse ideal, na verdade, sempre me acompanhou durante a toda a infância, e desejei, de certa forma, transportá-lo para a vida adulta.


Obras da parte leste do futuro Hotel Majestic, onde se vê ao fundo o prédio que existia antes da construção daquele que seria nossa residência, com 3 andares e uma cúpula imponente – Fonte: Internet – circa 1926


No térreo, vê-se a parte leste do Hotel, no segundo piso, ainda em construção, e, ao fundo, uma visão mais claro do prédio que viria a ser substituído pelo Ed. Dona Aldina, com um comércio anunciado, através de uma placa no lado direito – Fonte: Internet – circa 1926


Anúncio do Hotel Majestic, que seria finalizado somente em 1933 – Fonte: Internet



Um pouco de história desta minha rua. A Rua dos Andradas, também chamada de Rua da Praia, é uma das mais antigas da cidade de Porto Alegre. Esta começava na ponta do Gasômetro, que na época correspondia à área onde ficavam os Armazéns Reais e o Arsenal da Marinha, até a atual Rua General Câmara (Rua do Ouvidor). Neste local havia um intenso comércio, que veio a emprestar-lhe o nome de Largo da Quitanda. Das atuais ruas General Câmara até Senhor dos Passos (antiga Rua do Couto), era chamada de Rua da Graça, até o ano de 1843. O nome definitivo de Rua dos Andradas foi dado somente em 1865, quando a Câmara Municipal deu-lhe este nome nas comemorações da Independência do Brasil. Foi nesta época que o calçamento, que havia sido feito por volta de 1799, foi substituído no formato de pista abaulada, com sarjetas junto aos passeios. A partir de 1885, surgiram os paralelepípedos e, no ano de 1923, surgiu o calçamento de granito em mosaico em duas cores. A Rua da Praia foi e ainda é o coração da cidade de Porto Alegre, com seu tradicional comércio, recantos de lazer, prédios históricos e também figura como ponto de encontro das grandes manifestações que ocorreram ao longo da história porto-alegrense e do país. Destacam-se nesta rua a Igreja das Dores, a Casa de Cultura Mário Quintana, os quartéis do Exército e da Brigada Militar, a Praça da Alfândega e a Praça Brigadeiro Sampaio, entre outros prédios e locais públicos.


A Praça da Alfândega ou Praça Senador Florêncio surgiu com o núcleo inicial da cidade no final do Século XVIII


A Igreja das Dores é mais antiga da cidade de Porto Alegre


Da esquerda para a direita: (acima) Rua dos Andradas (ao fundo), esquina Rua Senhor dos Passos; Rua dos Andradas, esquina Rua Dr. Flores (subida); (ao centro) Rua dos Andradas, esquina Rua Vigário José Inácio (com a antiga Igreja do Rosário); Rua dos Andradas, esquina Rua Marechal Floriano Peixoto (subida à direita); (abaixo) Rua dos Andradas (ao fundo), esquina Av. Borges de Medeiros; Rua dos Andradas (primeiro plano), esquina Rua General Câmara – Fotos: Internet – diversas épocas


Da esquerda para a direita: (acima) Rua dos Andradas, esquina Rua Caldas Júnior (subida); Rua dos Andradas, esquina Rua General João Manoel (subida); (ao centro) Rua dos Andradas (com a fachada do atual Museu do Comando Militar do Sul), esquina Rua General Bento Martins; Rua dos Andradas, esquina Rua General Canabarro (na esquina está o Quartel-General Integrado do Comando Militar do Sul); (abaixo) Rua dos Andradas (primeiro plano), na quadra entre as ruas General Portinho e Rua General Vasco Alves (ao fundo, à esquerda, vê-se o prédio da atual Escola Técnica Estadual Senador Ernesto Dornelles, antigo Colégio Elementar Fernando Gomes, concluído em 1922); Rua dos Andradas (esq.), esquina Rua General Salustiano (dir.) – Fotos: Internet – diversas épocas



AV. PROTÁSIO ALVES


Um lugar em que quase morei. Em 20/11/1986, numa atitude arrojada para as minhas condições financeiras, comprei o meu primeiro apartamento financiado. Situava-se na Av. Protásio Alves, n.º 6.659, no 4º andar, no Edifício Mirante de Petrópolis, o qual possuía um box de estacionamento. Quando vinha da UFRGS de ônibus, passava por lá e olhava sempre para o pequeno edifício, sabedora de antemão, por anúncios no jornal, que nele havia apartamentos à venda. Encantei-me com o lugar, embora fosse longe do centro. Estava com 30 anos de idade. Tinha uma bela vista da sacada, embora fosse de fundos. Depois mandei fechá-la com janelas de vidro. Havia um só quarto, mas era uma gracinha. Cheguei a fazer uma divisória nele, com porta de correr, de modo que, à entrada deste, pudesse colocar uma escrivaninha. Mandei fazer também uma parede de gesso com uma janela de vitral para separar o hall de entrada da sala de estar. Mais coisas eu não consegui fazer, porque estava sempre apertada de dinheiro. A questão é que não seria muito útil para mim naquela época, porque a filha precisaria de um quarto para si, mas mesmo assim fui levando o sonho adiante. Achei que um dia ela cresceria, tornando-se adulta, e eu teria o meu canto.


O Mirante de Petrópolis, numa visão mais atual em tons de amarelo; antigamente destacava-se a cor laranja em sua pintura - Fonte: Google Streets


Passei por alguns sufocos. O contrato previa reajuste das prestações pelo antigo BTN, se não me falha a memória. Estava abalada com os reajustes e tinha medo de não conseguir pagá-lo. Mas, providencialmente, falando com a mulher do síndico sobre coisas do condomínio, comentei-lhe sobre a minha preocupação. Então, fiquei sabendo que o pessoal de lá, através de um advogado, faria um acordo com o banco, na época o Sulbrasileiro S.A., porque o índice de reajuste não era permitido por lei. Assim, as coisas entraram nos eixos. Depois que viemos morar na Demétrio Ribeiro, com as intermináveis obras que exigiam cada vez mais recursos, tentei pô-lo à venda. Foi difícil, até que um dia, um amigo do filho de uma conhecida nossa, que era corretora, quis fazer o negócio. Fizemos o contrato em 11/11/1996. Estava, na época, com 40 anos. Porém, descobri que ele atrasara três prestações, pondo em risco o meu crédito. Pelo contrato, eu teria direito de retomá-lo, mas por consideração à tal corretora, que acabou comprando-o de volta do dito amigo, não o fiz. Transferi-o novamente para seu marido, em 24/08/1997. Foi uma grande besteira, da qual muito me arrependo. O que eu ganhei na venda não chegou nem perto daquilo que havia desembolsado. Coisas da vida... Tinha uma ligação sentimental com aquele lugar. Custei a adquirir a compreensão real dos fatos. Hoje, já não sinto tristeza. No fim da história, a corretora o vendeu para outra pessoa, que o quitou junto ao banco que passou a ser o Meridional S.A. As lembranças que guardo deste imóvel são ternas, como, por exemplo, as poucas vezes em que a mãe e a minha filha foram lá, ou quando fomos de carro almoçar no restaurante do SESC, ali perto, que proporcionava uma bela vista da região. Tempos esses que deixaram saudades, pois sei que não voltarão jamais...


Trecho da Av. Protásio Alves – 1995 – Foto: Site prati.com.br

O que falar do passado da Av. Protásio Alves? Esta via era um dos principais caminhos que ligavam o centro de Porto Alegre às chamadas freguesias da região rural. Por isso, recebeu nomes como Caminho de Viamão, Estrada das Capelas e Caminho do Meio, sendo este o nome prevalente. Após a Revolução Farroupilha, uma série de obras e melhorias foi feita ao longo de décadas. Depois da República, passou a se chamar Estrada do Capitão Montanha, em homenagem ao famoso urbanista e engenheiro. No século XX a urbanização foi cada vez mais sendo ampliada, sendo que neste período ocorreu a troca de nome para a atual Protásio Alves, um médico e político atuante na capital gaúcha. Atualmente é uma das principais avenidas da cidade, com cerca de 13 km de extensão, iniciando-se pelo Bairro Bom Fim e terminando nos limites dos municípios de Viamão e Alvorada.