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segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Café Esquina do Tempo - Poetando



















EM BRANCO
E NEGRO:
PIERRÔ,
ARLEQUIM E
COLOMBINA.


Pierrô
Toca ao luar
De prata
O alaúde
De cordas
Argênteas:
Branca
É a luz
Da música
Que o inspira,
Negra
É a noite
Que no silêncio
Conspira.


Arlequim
Recita
Poemas
Na sala
De reflexos
Prateados:
Branca
É a imagem
Que o cristal
Reproduz,
Negra
É a sombra
Que na parede
O conduz.


Colombina
Dança
O adágio
No palco
Reluzente
De ébano:
Branca
É a ribalta
Que o hoje
Ilumina,
Negra
É a incerteza
Que o amanhã
Descortina.


Pierrô
Encontra
Arlequim
Que sonha
Encontrar
Colombina
No hall de mármore:
Branco
Quadriculado
No negro,
Negro

No branco
De pérola
Emoldurado.


Pierrô
Veste-se todo em negro,
Colombina
Elege a branca veste,
Arlequim
Metade em branco,
A outra em negro se reveste:
Branco
Bordado
No negro,
Negro
No branco
Tecido
Aveludado.


Colombina
Dá sua mão
Ao arlequim,
Pierrô
Pende ao lado,
Triste e 
Inconsolável:
Branco
Despedaçado
No negro,
Negro
No branco
Pendor
Desprezado.


Pierrô
Oferta o punhal
De prata
À luz da Lua,
E paira na noite
O silêncio
Insondável:
Branca
É a paz
Do luar sem vida,
Negra
É a cor
Que se tornou
Despedida...


Lisete Göller – 1997

Foto: Desenho de Lisete Göller em grafite - 1997


A ideia para este poema, cuja leitura deve lembrar um jogral, veio de um sonho. Encontrava-me num vestíbulo de uma bela casa, cujo piso era todo quadriculado em branco e preto. Havia nele apenas uma grande escada, cujos corrimãos e balaustradas eram pintados de branco. Na atmosfera emanada deste poema, um tanto medieval, foram excluídas todas as cores, exceto o branco (a união de todas as cores) e o preto (a ausência de todas elas). O poema representa de certa forma a dualidade que existe em todos nós e da qual somos reféns.

Pierrô, Arlequim e Colombina são alegorias. Pierrô, o eterno mal-amado, veste-se em negro, porque as suas emoções são sempre contidas e não consegue realizar as suas ambições. Arlequim, por outro lado, representa o insincero. A metade branca com que se veste reproduz a exteriorização de seus bons sentimentos e a metade negra o seu perfil trapaceiro. Colombina veste-se totalmente em branco - a cor da pureza para os ocidentais -, que simboliza a ingenuidade e a indecisão.

Pierrô, ao final, oferta a sua vida para a Lua que sabidamente possui o seu lado escuro que permanecerá eternamente oculto para nós. E encontrou a paz que buscava, porque a Lua aceitou o seu sacrifício: trocou a sua veste negra pela veste de um luar de prata...



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