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terça-feira, 19 de novembro de 2019

Família Rohr - 190 Anos da Imigração - 1829 -2019


Neste ano de 2019, comemoramos os 190 anos da chegada das irmãs Susanna Rohr e Maria Anna Rohr ao Brasil, que saíram da cidade de Klüsserath, na Alemanha, com seus esposos e filhos, com a expectativa de construírem um futuro promissor para a família. Na postagem sobre os 190 anos da chegada da Família Schmitz, cujos patriarcas eram Philipp e Susanna Rohr, meus tetravós, acompanhados de seus dois filhos, Maria Anna e Peter, o assunto da vinda destes para o Brasil foi plenamente abordado. Nesta postagem, entretanto, a homenagem é feita à irmã, Maria Anna Rohr, seu esposo Matthias Feiten, os filhos Jacob e Matthias, este falecido no decorrer da viagem.




O 10º Encontro da Família Feiten-Rohr – 16/11/2019 – Ibirubá RS – Foto: Acervo de Elói Edmundo Franz

Segue um breve relato sobre a viagem baseado nos artigos do genealogista alemão Friedrich Hüttenberger, além da correspondência pessoal com o mesmo. Ele é pesquisador do engano histórico envolvendo os navios Cäcilia, que nunca existiu, e o Helena e Maria, que sofreu um quase-naufrágio próximo ao porto inglês de Falmouth.

A Família Feiten começou os preparativos para a saída de sua pátria nos últimos meses do ano de 1827. Dentre os registros da Igreja de Ensch, encontramos uma nota revelando que um grupo formado por emigrantes desta cidade e de Klüsserath havia partido de suas cidades em 11/11/1827. Provavelmente, a Família Feiten tenha ido de Klüsserath até Bingen, como fez a maior parte dos emigrantes do Palatinado e do Hunsrück e, de lá, seguiram para a cidade de Amsterdã. Os Feiten, assim como os demais emigrantes que pretendiam vir para o Brasil, contrataram a viagem com o Comandante Bartolomeus Karstens, pagando-lhe previamente uma vultosa quantia. Este capitão possuía um velho veleiro, um hoeker holandês, chamado "Helena en Maria" (no português, Helena e Maria ou Helena Maria, como ficou conhecido entre nós). Mas, como este serviria de navio de emigração, mandou instalar diversos beliches para poder acomodar os passageiros. Em função de seu tamanho, contendo três mastros, o navio não poderia zarpar direto de Amsterdã e, por isso, ele sairia do porto de Texel, uma das Ilhas Frísias, situada ao norte de Amsterdã.

Segundo a carta do imigrante Johannes Weber, de Neunkirchen, Bosenbach, no Palatinado, que se encontrava guardada e esquecida nos USA, conforme Hüttenberger, seriam mais ou menos 40 famílias do Rio Mosel, que já estavam instaladas no “Helena e Maria”, além de famílias do Hunsrück, como Johannes Spindler, conhecido pela carta que escreveu em 1828, isto é, famílias que provinham de regiões do lado esquerdo do Reno, predominantemente católicas, que estariam a bordo, antes que outras famílias da região de Kusel, distrito da Alemanha, no oeste do Palatinado, de religião protestante, chegassem ao navio.

Como o número de passageiros e de bagagens excedia à capacidade do navio, ocorreu um sério conflito, que resultou na ordem do comandante de zarpar mesmo que todos passageiros não tivessem embarcado, permanecendo certo número de emigrantes em terra, com ou sem suas bagagens e, pior ainda, mesmo que estes tenham ficado separados dos demais membros de suas famílias, que já estavam no navio, sem que pudessem impedir a partida do veleiro “Helena e Maria”. Os que ficaram para trás conseguiram embarcar posteriormente no bergantim holandês Alexander para o Rio de Janeiro, sendo depois levados à cidade de Santos pelo navio Rocha e, mais tarde, seguiram para a colônia de Santo Amaro em São Paulo. 


Imagem de um antigo Hoeker, como o ‘Helena e Maria’, veleiro que era utilizado normalmente para a pesca no Mar do Norte – Fonte: http://ijsselvallei.info/

Depois desta situação inusitada, os passageiros embarcados partiram no navio “Helena e Maria”, na data de 06/01/1828, do porto de Texel, e não no suposto navio chamado Cecília ou Cäcilia. Depois de quase uma semana de navegação, no dia 12/01/1828, o navio foi atingido por uma violenta tempestade ou furacão no Canal da Mancha, perdendo os três mastros, cujas partes superiores se partiram e caíram. Na tradição oral, o marceneiro Philipp Schmitz (o Grande), com ajuda dos imigrantes, teria tido a idéia de cortar os mastros, como tentativa de estabilizar o navio. O incidente aconteceu na Ponta de Lizzard ou Manacle Rock, perto da cidade portuária de Falmouth, onde o Canal da Mancha se encontra com o Oceano Atlântico.

Cessada a tempestade, o “Helena e Maria” ficou à deriva por 3 dias, pois a chegada ao porto de Falmouth aconteceu em 15/01/1828, segundo consta no registro no Lloyd’s List. Providencialmente, o “Helena e Maria” foi socorrido pelo navio Plover Packet, comandado pelo Capitão Edward Jennings. Este navio foi lançado no ano de 1821, e foi nomeado em 06/12/1823 pelo Almirantado inglês para atuar em viagens regulares entre o Reino Unido e a América do Sul, além das Índias Ocidentais. Não houve abandono do navio “Helena e Maria” por parte da tripulação, nem do Capitão Bartholomeus  Karstens, os quais acompanharam os passageiros até Falmouth. Este capitão mandou reparar o navio para que os passageiros seguissem viagem, mas estes não aceitaram, por considerarem a embarcação pouco segura, já que o próprio Estado Maior da Marinha Inglesa o considerou não-navegável.

No período em que os emigrantes foram acolhidos em Falmouth, durante o ano de 1828, houve muitos registros de nascimentos e óbitos, que foram registrados nos livros da Igreja de Falmouth, ou seja, os primeiros Alemães em Falmouth apareceram em janeiro de 1828. Este fato é provado pelos artigos de jornais da Inglaterra sobre o naufrágio,  pelos registros da Igreja de Falmouth, onde, por exemplo, todos os sepultamentos de crianças alemãs estão registrados, sendo que o sepultamento de Jakob Drumm, em 26 de novembro 1828, foi o último registro de um alemão em Falmouth, além de registros de batismos e casamentos. Assim sendo, os emigrantes ficaram nesta cidade por quase onze meses, ou seja, de 15/01/1828 a 10/12/1828.

Cabe referir que o filho Matthias Feiten, nascido em 25/03/1827, em Klüsserath, faleceu em 30/01/1828, sendo sepultado no Cemitério da Igreja de Falmouth Parish Church. Ele foi uma das 21 crianças, que morreram nos primeiros dois meses após o naufrágio (Fonte: Genealogista Friedrich Hüttenberger).

O "Helena e Maria" foi reparado, mas não foi mais considerado navegável. Então, os emigrantes passaram a buscar outro meio de transporte. Somente após muitos pedidos, o Governo Inglês pôs um navio à disposição destes (e não D. Amália von Leuchtenberg, como Amstad e Hunsche escreveram), mas foram advertidos que a roupa, pois estava chegando o inverno, além dos mantimentos, ficariam por sua própria conta. Esta ajuda foi dada, em parte, pela comunidade inglesa e, ao final de 1828, o navio "James Laing" foi colocado à disposição no Porto de Falmouth. Em 10/12/1828, quase um ano depois do início da viagem na Holanda, o navio zarpou deste porto com os imigrantes e, dois meses depois, sem qualquer acontecimento, chegaram ao Rio de Janeiro. A última coisa que os emigrantes fizeram antes de partir foi uma missa na capela católica de Falmouth, em 10/12/1828, para agradecer aos Ingleses pela ajuda e ao governo inglês pelo navio (conforme artigo em Devizes & Wiltshire gazette de 18/12/1828). 


Veleiro semelhante ao James Laing (imagem com finalidade meramente ilustrativa) – Fonte: Internet

O "Diário do Rio de Janeiro", de 10/02/1829, publicou a chegada do James Laing em 08/02/1829, após 61 dias, que era o tempo normal para a travessia do Atlântico naquela época, com 305 colonos. Revela que a empresa responsável era A. Miller & Comp.

A maior parte dos Hunsrükianos, Moselanos e Palatinos foi registrada em 18/03/1829 no Rio de Janeiro. Os Feiten foram embarcados em 10/04/1829 no veleiro costeiro "Florinda" e, após, encaminhados para Porto Alegre no Rio Grande do Sul, finalizando nesta cidade a grande odisséia na data de 14/05/1829. A Família Feiten se estabeleceu na cidade de Dois Irmãos, no Estado do Rio Grande do Sul, onde o casal foi sepultado no Cemitério da antiga Igreja Matriz.


Brigue-Escuna semelhante ao Florinda – Autor: desconhecido



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