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segunda-feira, 13 de outubro de 2014

A Genealogia de um Sobrado - 2ª Parte

Autora: Lisete Göller


III-Jacob Luchsinger 




Jacob Luchsinger, além de se tornar o terceiro proprietário, foi o primeiro locatário do sobrado. Negociante e amigo da família Welter, amparou a viúva e os filhos menores nos momentos difíceis pelos quais estes passaram. Decidindo ir para perto de sua família e buscar o apoio de que precisava, Catharina Welter e seus filhos deixaram Rio Pardo, mudando-se em definitivo para a Picada 48, uma localidade de Ivoti RS. Na data de 04/09/1858, foi lavrada a escritura de venda do sobrado para Jacob Luchsinger, através de uma procuração feita pela viúva Catharina a Apolinário Francisco Ferreira Guimarães. O sobrado foi vendido por 1 Conto e 650 mil Réis em três pagamentos: 1 Conto de Réis à vista e dois de 325 mil Réis, no prazo de seis e nove meses respectivamente (Arquivo Público do RS, Rio Pardo, Livro de Transmissões, 2º Tabelionato, nº 16, fls. 13 a 16 v - 1858-1860).


O comerciante Jacob Luchsinger, filho de Johann Rudolf Luchsinger e Elisabeth Feldmann, nasceu em 22/08/1813, em Glarus na Suíça, tendo imigrado no Brasil por volta de 1846, ano este em que se casou com Louise Christine Fayette (*1812/1813 Lich, Darmstadt, Oberhessen/+29/05/1877 Rio Pardo RS), viúva de Friedlin Schmidt (*1791 Niedermumpf, Aargau, Suíça), que fora casada com este último no ano de 1830. Louise era filha de Guillaume Fayette e de Christine Schönhardt. O sogro de Jacob era calvinista e relojoeiro, nascido em Genebra, na Suíça (Imigrantes Alemães – 1824/1852, Gilson Justino da Rosa). O casal teve os filhos Christiana Ernestine Luchsinger (*06/08/1847 Porto Alegre RS/+Antes 1874 RS) e João Rodolfo Miguel Luchsinger (*16/10/1849 Porto Alegre RS/+31/08/1903 Rio Pardo RS), batizados na Igreja Evangélica de São Leopoldo. Provavelmente, Jacob Luchsinger tenha fixado residência com sua família na cidade de Rio Pardo em meados do ano de 1853, dado que ele e sua esposa venderam por escritura particular em 11/08/1853 as terras dos Lotes nº 97 e nº 98, na colônia de Estância Velha, pela quantia de 625 mil réis a Guilherme Stoll e João Cornélio Englert (Arquivo Histórico do RS, Códice C-351).  


Sobre o filho João Rodolfo, há informações de que este compareceu ao Cartório de Rio Pardo em diversas oportunidades, para servir de testemunha em diversos registros de documentos, assim como o seu pai o fazia anteriormente, notadamente para servirem de intérpretes nas escrituras realizadas entre os imigrantes alemães, que não falavam ou conheciam bem o português. Jacob Luchsinger era uma pessoa conhecida e respeitada em Rio Pardo. Num dos Relatórios dos Presidentes das Províncias Brasileiras - Império 1830-1889, ao ser feita referência aos serviços das colônias provinciais, constou neste trecho: “Cumpre neste lugar mencionar os serviços relevantes e desinteressados que prestaram os Senhores Jacob Luchsinger, em Rio Pardo... (segue)”. 


Uma descoberta interessante sobre Jacob Luchsinger revela que ele se tornara sócio da Sociedade Beneficente Alemã ‘Deutscher Hilfsverein’, fundada em 21/03/1858 em Porto Alegre RS. A sociedade tinha o objetivo de auxiliar os alemães ou pessoas de origem alemã que fossem necessitados, tanto no aspecto financeiro, quanto no de assistência médica e de medicamentos. Neste mesmo ano, a Sociedade conseguiu reunir agentes em diversas localidades de colonização alemã, além de Rio Pardo e de outras cidades mais desenvolvidas. A Sociedade era integrada por representantes de diversas profissões e classes sociais, com predominância de evangélicos, contando, ainda, com a presença de alguns ‘Brummer’. O ‘Deutscher Hilfsverein’ organizaria, anos depois, em 1886, o futuro Colégio Farroupilha em Porto Alegre. No livro onde estão arrolados os 99 sócios, constam o nome de Jacob Luchsinger (nº 74) e o de Nikolaus Hasslocher (nº 76), este sócio de Luchsinger em Rio Pardo, ambos descritos como sendo de confissão evangélica (Fonte: Do Deutscher Hilfsverein ao Colégio Farroupilha 1858/1974, de Leandro Telles).


No livro de sócios do Deutscher Hilfsverein vê-se os nomes de Jacob Luchsinger e Nikolaus Hasslocher, sócios em Rio Pardo – Reprodução parcial do livro 'Do Deutscher Hilfsverein ao Colégio Farroupilha 1858/1974', de Leandro Telles


Jacob Luchsinger faleceu na data de 22/07/1896, um mês antes de fazer 83 anos, de uremia, em seu domicílio à Rua Boa Vista em Rio Pardo RS, sendo sepultado no Cemitério Municipal desta cidade.


Um casamento no sobrado


O filho João Rodolfo Luchsinger, também comerciante, casou-se com Guilhermina Eichenberg (*Rio Pardo/+RS), filha de Jorge Henrique Eichenberg (*1828/1829 Prússia/+03/04/1872 Rio Pardo RS) e de Virgínia Souto Eichenberg (*Rio Pardo/+RS), na data de 12/07/1873, na residência de seu pai, às 19 horas, em Rio Pardo (Cúria Metropolitana de Porto Alegre, Casamentos, Rio Pardo, Livro 5-B, pág. 377). Conforme o registro de casamento da Igreja, João Rodolfo Luchsinger e seus pais não eram católicos, o que explica o fato de o casamento ter ocorrido fora da Igreja. Os sogros Eichenberg eram católicos e residiam numa casa da Rua de Santo Ângelo, que Jorge Henrique comprou do cirurgião José de Souza e Silva em 07/10/1862. Jorge Henrique Eichenberg veio a falecer aos 43 anos, de congestão cerebral, na data de 03/04/1872 na cidade de Rio Pardo.



João Rodolfo Luchsinger com a família, por volta de 1895. A filha Luiza aparece ao lado do futuro esposo João Bulcão e a filha Zilda não está presente - Rio Pardo RS - Foto: Acervo de Marcelo de Sousa Lerina

O sócio Nicolau Hasslocher


Nos estudos genealógicos de Carlos A. Heuser, encontramos as lembranças da vida de Hedwig Textor Trein (texto redigido em 1937 no Alemão, com tradução de Erna Krahe), cujo pai, Adolf Friederich Textor, viveu com sua família na cidade de Rio Pardo em meados de 1850. Segue o trecho:


“Em Rio Pardo naquela época só havia duas famílias alemãs: Nicolau Hasslocher (Haßlocher) (*1813 Worms, Renânia-Palatinado, Alemanha/+03/04/1864 Porto Alegre RS) e Luchsinger, que eram os proprietários de um armazém no assim chamado "Passo". Hasslocher era o avô de Dr. Germano Hasslocher e de Ernesta Haensel, cujo marido, o deputado Frederico Haensel, foi assassinado no jardim de sua casa pelas costas, na Rua da Figueira (Cidade Baixa) na revolução de 1889. As cantoras Amália Iracema Ferrari e Heidy Brugelmann eram suas filhas, assim como também a Senhora Bahlke. Ao longo dos anos, tivemos sempre uma amizade sincera. Os Luchsinger que ainda hoje vivem em Porto Alegre são descendentes deste casal de Rio Pardo. Estas duas famílias eram bons amigos de meus pais. Como Rio Pardo naquela época era uma cidade bem brasileira e os meus pais não falavam o português, não havia como manter algum negócio para sustentar uma família com cinco filhos. Tiveram que voltar para Porto Alegre após grandes prejuízos financeiros”.



A mudança de nomes da Rua da Ladeira e da Rua da Praia em que se situava o sobrado


Entre os anos de 1858 e 1872, a famosa Rua da Ladeira de Rio Pardo teve nomes diferentes antes de receber o nome atual que é a Rua Dr. Julio de Castilhos. Ela foi a Rua Direita, a Rua do Imperador e a Rua Silveira Martins.



A Rua Dr. Julio de Castilhos recebeu diferentes nomes ao longo da história - Foto: Lisete Göller


A Rua da Praia, anteriormente conhecida como Passo do Jacuhy ou Jacuí, recebeu posteriormente o nome de Rua Visconde de Pelotas, antes de receber o nome de Rua General Câmara.



A atual Rua Gen. Câmara, situada lateralmente ao sobrado, esquina com a Rua Dr. Julio de Castilhos - Foto: Lisete Göller


Um endereço antigo do sobrado: a Rua do Imperador


Na data de 17/06/1872, foi lavrada uma escritura de dívida de Jacob Luchsinger e de sua esposa Louise, para com seu cunhado João Jorge Fayette, que residia em São Gabriel, o qual foi representado por procurador, que era João Rodolfo Miguel Luchsinger, filho de Jacob. A escritura foi lavrada na casa de seu pai. A dívida, que era de 4 contos de réis, tinha como garantia hipotecária a casa de sobrado dos Luchsinger, situada na Rua do Imperador nº 7, esquina com a Rua Visconde de Pelotas, a qual seria paga no prazo de dois anos, com juros de 6% ao ano. Tal registro é considerado importante, pois esclarece que Jacob Luchsinger realmente morava no sobrado da Rua da Ladeira, mantendo nele também o seu negócio (Arquivo Público do RS, Rio Pardo, Livro de Transmissões/Notas, 2º Tabelionato, nº 20, fls. 39 v a 40 v - 1871-1874).



A doação do sobrado

Na data de 19/05/1874, Jacob Luchsinger e sua esposa fizeram a doação de todos os bens ao seu único filho João Rodolfo Miguel Luchsinger: a casa de sobrado onde toda a família residia, no valor de 5 contos de réis, uma dita velha situada na Rua Visconde de Pelotas, por 4 contos mil réis, um terreno que foi dos herdeiros de João Ignácio por 3 contos mil réis, quatro escravos crioulos, Maria, Jacintho, Francisco e Justina, por 3 contos e 200 mil réis, totalizando 8 contos e 900 mil réis. (Arquivo Público do RS, Rio Pardo, Livro de Transmissões, 2º Tabelionato, nº 20, fls. 150 v, 151, 151 v e 152 - 1871-1874).


Assinaturas de Jacob e Luisa Luchsinger, João Rodolfo Miguel e Guilhermina Luchsinger na Escritura de Doação



IV-João Rodolfo Miguel Luchsinger

João Rodolfo teve oito filhos: 


1-Luiza Luchsinger (*17/02/1878 Rio Pardo RS/+Lavras do Sul RS) casou-se com João de Araújo de Aragão Bulcão (*16/10/1874 São Francisco do Conde, Bahia, Brasil/+28/09/1955 Lavras do Sul RS), formado em Medicina em 1897. Este serviu como Médico no Colégio Militar de Rio Pardo, época em que se casou com Luiza Luchsinger. Transferiu-se para a reserva do Exército, radicando-se em Caçapava do Sul, onde permaneceu por dois anos, quando se transferiu definitivamente para Lavras do Sul em 1903, onde foi Prefeito e dedicou-se à clínica médica. O casal teve onze filhos: João (Médico), Augusto (Farmacêutico), Carlos (falecido criança), Carmen, Carlos, Oscar, Celeste, Brenno (Cirurgião-Dentista), Lauro (Médico), Gelsa e José (Militar);



João Bulcão e seu irmão Manoel Bulcão - Lavras do Sul RS - Fonte: Site da Família Bulcão


2-Georgina Luchsinger (*15/02/1880 Rio Pardo RS/+Lavras do Sul RS) casou-se com Manoel de Araújo de Aragão Bulcão (*20/11/1882 São Francisco do Conde, Bahia, Brasil/+22/05/1961 Lavras do Sul RS), Farmacêutico, irmão de seu cunhado, na data de 20/05/1908 no RS. O casal teve cinco filhos: Maria, Lucia, Licia, Luiz Antonio e Luiz Augusto;


As Famílias de Luiza Luchsinger Bulcão e de Georgina Luchsinger Bulcão - Lavras do Sul RS - Fonte: Site da Família Bulcão


3-Rodolfo Luchsinger (*1883 Rio Pardo RS/+13/12/1886 Rio Pardo RS);

4-Henrique Luchsinger (*1885/1886 Rio Pardo/+RS), residente em Porto Alegre RS, foi soldado do 25º Batalhão de Infantaria (Jornal A Federação 1884-1937) e funcionário da Tesouraria da Viação Férrea em Porto Alegre. Casou-se com Maurilia Verney (*Santa Maria/+RS) por volta de 1921;

5-Oscar Luchsinger (*24/11/1887 Rio Pardo RS/+02/11/1972 Porto Alegre RS) casou-se com Corintha de Freitas Gomes (*08/02/1897 Lavras do Sul/+23/07/1983 Porto Alegre RS) por volta de 1920;

6-Mario Luchsinger (*1891/1892 Rio Pardo RS/+RS);



Oscar Luchsinger (esq.) e Mario Luchsinger (dir.) (assinalados em vermelho) - 1932, Lavras do Sul RS - Fonte: Blog  Memórias de Lavras do Sul


7-Ivetta Luchsinger (*28/11/1892 Rio Pardo RS/+29/06/1973 Porto Alegre RS) casou-se com José Índio Barreto (*26/08/1893 Rio Pardo RS/+16/11/1978 Porto Alegre RS);

8-Zilda Luchsinger (*11/02/1894 Rio Pardo RS/+20/07/1972 Porto Alegre RS).



João Rodolfo seguiu os passos do pai, comercializando diversas mercadorias e colaborando com os colonos chegados ao Brasil. Por volta de 1882, ele fez parte de uma comissão, onde foi aberta uma subscrição, cujo produto foi aplicado no acolhimento de imigrantes, para proporcionar o sustento e o transporte daqueles que necessitavam (Almanak Literário e Estatístico 1889-1917).


No ano de 1889, foi nomeado Agente de Correio na então criada Estação do Couto (interior de Rio Pardo), pertencente à Estrada de Ferro Porto Alegre-Cacequi (Jornal A Federação, 14/10/1889).



A Farmácia Militar de Rio Pardo instala-se no prédio do sobrado


No Anuário Militar de 1891, consta: “A Pharmacia Militar acha-se installada na casa de propriedade de Rodolpho Luchsinger, mediante a contribuição mensal de 40$ rs. É dirigida pelo pharmaceutico de 4ª classe Rosendo Cesar Teixeira, que é coadjuvado pelo pharmaceutico adjunto Ananias de Siqueira Leitão Junior. No ultimo trimestre do anno findo a pharmacia aviou 269 receitas e 1220 prescripções, assim descriminadas: 28º Batalhão – 138 receitas e 208 prescripções; escola de tiro – 131 receitas e 240 prescripções; hospital, corpo de alumnos, contingentes, etc. – 772 prescripções (Anuário Militar – 1891, fl. 171)”. Algumas informações: Rio Pardo era sede do 28º Batalhão de Engenharia, cujo quartel estava situado na Rua Andrade Neves com a Rua Silveira Martins. Além de outros fornecedores de víveres e dietas para o Exército, havia Júlio Eichenberg e o fornecedor de pão chamava-se Felippe Sperb.


Num Expediente da Secretaria do Interior do Governo do Estado, datado de 08/07/1891, havia sido renovado o contrato entre João Rodolfo Miguel e o Exército, para o arrendamento da casa de sua propriedade, onde funcionava a Farmácia Militar de Rio Pardo (Jornal A Federação, 08/07/1891).



O falecimento de João Rodolpho Miguel Luchsinger


João Rodolpho Miguel veio a falecer na data de 31/08/1903 em sua casa na cidade de Rio Pardo, aos 54 anos, devido a uma enfermidade cardíaca, sendo sepultado no Cemitério Público desta cidade. Theodoro Henrique Eichenberg, provavelmente irmão de Guilhermina, é nomeado tutor dos filhos menores do falecido. Na descrição dos bens imóveis constava o sobrado, cujo endereço, em relação ao nome das ruas e o próprio número, apresentavam-se novamente alterados: “A casa de sobrado sob nº 3 à Rua Julio de Castilhos nesta cidade – esquina com a Rua General Câmara, com o terreno que lhe pertence e o terreno do lado do norte até a casa, que serviu de enfermaria militar...”, sendo avaliada em 6 contos de réis (o pai Jacob Luchsinger comprou o sobrado por 1 Conto e 650 mil réis).


Além deste bem imóvel figuravam: uma casa na Rua General Câmara nº 13, esquina com a Rua 14 de Junho, com o respectivo terreno, sendo que nas próximas folhas constou que, por esquecimento, não fora mencionado o pequeno terreno fronteiro à casa, passando a constar o referido terreno, agregando-lhe o valor correspondente. Foram incluídas no inventário as partes em casas havidas em herança da mãe de Guilhermina, Virgínia Souto Eichenberg. Demais bens: numerários e bens móveis.


No inventário há um dado interessante a ser considerado: a casa comercial de João Rodolfo Miguel em Rio Pardo não mais estava sediada no sobrado, mas, sim, na Rua 15 de Novembro em Rio Pardo (atual Rua Dr. João Pessoa). Este último prédio não lhe pertencia, mas tão somente as mercadorias, utensílios e dívidas ativas da casa de negócio que foram inventariados, conforme o balanço final realizado. O inventário foi encerrado em março de 1904.





Na Rua 15 de Novembro (atual Rua Dr. João Pessoa), João Rodolpho Miguel Luchsinger instalou a sua casa comercial - Anos 1920 - Fonte: Rogério Lima Goulart



Foi anexado ao inventário outro processo, que dizia respeito ao pedido de consentimento judicial feito pela viúva Guilhermina Luchsinger em nome de suas filhas menores púberes, Ivetta e Zilda, para que pudessem efetuar a venda de suas partes no sobrado, posto que a mãe e os demais herdeiros maiores já haviam vendido as suas partes relativas e o comprador já estava residindo no sobrado, tendo este último proposto o aluguel das frações que pertenciam às mesmas. Alegaram que a situação lhes criariam dificuldades, não sendo possível alugar parte do sobrado, posto que ali já existisse um morador. O requerimento foi feito em 13/03/1912. Uma testemunha, chamada em juízo, afirmou que o prédio precisava de reparos urgentes, o que seria oneroso para as herdeiras menores, que não possuíam recursos para arcar com estas despesas. 


A decisão veio a seguir: o Juiz Distrital da Vara de Órfãos determinou a venda em hasta pública, constando no Edital a data de 22/04/1912 para a venda das duas partes da casa de sobrado pertencentes às menores, no valor total de 1 conto, 391 mil e 170 réis. O maior lance oferecido pelo comprador foi de 1 conto 393 mil réis, cuja quantia foi entregue ao procurador de Guilhermina Eichenberg Luchsinger e das menores Ivetta e Zilda (Arquivo Público do RS, Inventários, Nº 1180, Maço 53, Estante 47, Ano 1903, Órfãos e Ausentes, Rio Pardo).


Da data aproximada do término da construção, 23 de outubro de 1852, até 20 de maio de 1912, que é a do término do leilão, passaram-se 60 anos. Pela análise dos fatos, o sobrado já se achava ressentido pela passagem do tempo, necessitando de reparos importantes. Voltemos a este ponto da história. O sobrado pertenceu à família Luchsinger por quase 54 anos, cujas datas de início e término foram 04/09/1858 e 22/04/1912, respectivamente. Um novo ciclo na história do sobrado se inicia. Quem seriam os próximos proprietários?  A resposta será revelada no próximo capítulo...



Detalhe da fachada do sobrado em Rio Pardo - 2007 - Foto: Lisete Göller



Nota da pesquisadora – Não foi possível estabelecer o parentesco com as outras famílias Luchsinger existentes na mesma época no Rio Grande do Sul. Segue uma pequena pesquisa sobre os outros comerciantes com este sobrenome:


João Rodolpho Luchsinger ou Johann Rudolf Luchsinger (*Glarus, Suíça/+10/04/1898 Zurique, Suíça), casado com Maria Luisa Bier Luchsinger (*Porto Alegre), residente em Klausstrasse, nº 2, Zurique. Filhos: Paulo Luchsinger, brasileiro, casado, residia em Rio Grande RS; Hugo Alexandre Luchsinger, suíço, residia em Rio Grande RS; Anna Luchsinger Kubly, casada com F. W. Kubly, residentes em Zurique e Johann Rudolph Luchsinger, residente em Zurique. João Rodolpho era sócio da firma Mostardeiro & Luchsinger, tendo como sócios Eurípedes Mostardeiro, Hemetário Mostardeiro e Antonio Mostardeiro Filho. Depois de seu falecimento, houve a alteração do contrato social dos outros sócios para Mostardeiro Irmãos & Cia. na data de 10/11/1901 (Arquivo Público do RS, Inventários, Nº 325, Maço 9, Estante 19, Ano 1901, 2º Cartório Cível, Rio Grande). A empresa Mostardeiro & Luchsinger atuava na importação de tecidos e comercio de artigos de vestuário. Uma filial situava-se na Rua 7 de Setembro, nº 86 em Porto Alegre RS.


O filho Paulo Arnold Luchsinger (*1869/1870 Suíça/+05/09/1926 Zurique, Suíça) era casado com Amalia Susanna Wunderly, tendo um único filho chamado Paulo Arnold Rudolf Luchsinger, brasileiro, casado, residente em Porto Alegre. Paulo possuía capital na firma Luchsinger & Cia. e era acionista da Companhia de Tecelagem Ítalo-Brasileira, com sede na cidade de Rio Grande. (Arquivo Público do RS, Inventários, Nº 6997, Maço 173, Estante 6, Ano 1930, 2º Cartório Cível e Crime – Jurisdição Comercial, Porto Alegre).


O filho Hugo Alexandre Luchsinger (*27/08/1875 Zurique, Suíça/+18/02/1932 RS), evangelista reformado, foi Cônsul da Suíça no RS, era casado com Lida Melina Von Bendemann Luchsinger (*01/12/1883), tendo os filhos: Hugo Felix Rudolf Luchsinger (*01/09/1908), brasileiro, Ulrich Hilarius Paul Walter Luchsinger (*15/01/1910 Berlim-Wilmersdorf), com nacionalidade suíça, jurisconsulto, diplomata, residia em Vevey na Suíça, desistindo do que lhe coubera na partilha de bens do pai. Hugo Alexandre era sócio solidário na firma Luchsinger & Cia., sócio solidário na empresa H. & P. R. Luchsinger & Cia., e sócio quotista na empresa Luchsinger, Madoerin e Cia. Ltda., que atuava na produção de fertilizantes e que veio a se transformar na empresa Adubos Trevo (Arquivo Público do RS, Inventários, Nº 21, Maço 2, Estante 5, Ano 1932, Porto Alegre).


Ulrich Luchsinger


Fritz Luchsinger ou Fridolin Luchsinger (*18/07/1862 Glarus, Suíça), filho de Friedrich Luchsinger e Maria Herr, era casado com Honorina da Câmara Canto Luchsinger (*22/12/1864 Uruguaiana RS/+11/08/1925 Rio de Janeiro RJ), a qual residia na Rua 20 de Novembro, nº 354, Rio de Janeiro RJ. O casal teve dois filhos: Fritz Luchsinger e Martha Luchsinger, residente na Suíça. Honorina teve dois filhos de seu primeiro casamento: Antonietta Alves Elcock, casada com Edward Howard Elcock e Homero Canto Alves Pereira (Inventário de Honorina: Arquivo Público do RS, Inventários, Nº 93, Maço 2, Estante 21 Ano 1926, Rio Grande).


Fritz aparece como Diretor da Praça de Comércio no ano de 1893 (Jornal Eco do Sul, de Rio Grande e Jornal Diário do Rio Grande) e Diretor da Associação Comercial do RS em 1905 (Jornal A Federação). Foi sócio na firma Luchsinger, Dietiker & Cia., com sede em Rio Grande, juntamente com João Rodrigues Lima e João Rodolfo Dietiker. Este último era suíço e faleceu em 3 março 1901 em Rio Grande. Fritz retirou-se desta empresa no ano de 1919. Foi Cônsul da Suíça no RS.


A empresa Luchsinger & Cia. Ltda. foi fundada em 1867 na cidade de Rio Grande como importadora de produtos e implementos agrícolas. Segunda a pesquisa feita, havia uma filial de Pelotas que atuava na importação de secos e molhados. Havia outra filial estabelecida em Rio Grande que, além de possuir uma fábrica de camisas chamada São Francisco, atuava na importação de fazendas e miudezas, com negócios de vendas por atacado, abrindo na Rua 7 de Setembro em Porto Alegre uma filial da casa atuando neste mesmo segmento. A Luchsinger & Cia. Ltda. abriu posteriormente uma oficina mecânica e de construção de máquinas na Rua da Azenha, nº 77, na cidade de Porto Alegre. Depois, esta passou a atuar na construção de hidrelétricas, além da construção de usinas de gás para iluminação pública e privada no interior do estado.



FINAL DA 2ª PARTE




3 comentários:

  1. Feel free to visit the Dodis database of the Diplomatic Documents of Switzerland -> dodis.ch/P670 (Ulrich Luchsinger)

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  2. Há também uma família Luchsinger, começando com o nome de Jacob Luchsinger, natural de Glarus e este nascido entre 1810 a 1830, no entanto, este era casado com Rosina Luchsinger, cuja filha, se chamava Rosima Luchsinger Dorsch (1853-1945), com o sobrenome de casada com Guilherme Frederico Dorsch, natural do reino da Baviera. Estes emigraram para o Brasil, em meados da década de 70 a 80 do século XIX, se estabeleceram no Rio de Janeiro e tiveram ao menos dois filhos: Frederico Guilherme Emilio Dorsch (1884) e Maria Dorsch (1884-1964). Frederico Guilherme Emilio Dorsch casou no Rio de Janeiro com a brasileira Anna Vieira Dorsch (1891), que por sua vez, teve filhos e filhas. Um deles se chamava Guilherme Frederico Dorsch (1911-1970) que é o avô de meu primo Adriano Frederico Marques. Será que a ilustre pesquisadora tem ciência desta emigração deste ramo dos Luchsinger?

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    1. Olá, me ative apenas ao Jacob Luchsinger que está na publicação, pois o objetivo dela é contar a história do sobrado. Sei que famílias Luchsinger vieram ao Brasil. Deves pesquisar para encontrar o que procuras. Abraço.

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