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segunda-feira, 20 de fevereiro de 2023

Memórias de Lugares Onde Morei II


Em algumas fases da vida, temos a oportunidade de iniciar uma história, vivê-la e, finalmente, encerrá-la. Há certa beleza triste neste lapso temporal repleto de emoções, que passaram pelas nuances da expectativa, do encantamento, das esperanças e alegrias, dando ensejo também ao prenúncio da saudade e ao pesar da despedida... É como ser o senhor do próprio destino, mas como um deus que se curva, vencido por forças de um universo incompreensível. Este post é dedicado aos saudosistas da praia de Capão Novo RS, nos seus áureos tempos.


Imagens de cartões postais dos Anos 1990 de Capão Novo: (esq.) Calçadão das Cabanas; (dir. na ordem) Rua do Amor-Perfeito e Calçadão; Vista Aérea de Capão Novo; Vista de Capão Novo com Anfiteatro e Ringue de Patinação, Cabanas: Turismo, Fliperama, Tudo por 1,99, Rádio da Praia, Sorveteria, Bares (cabanas à esq.); Play-Ground Forte-Apache e Ferrovia Norte-Sul; (frente) Canchas de Bocha Coberta e Bocha’s Bar, entre outras atrações...


A primeira vez que fomos a Capão Novo, um distrito litorâneo do município de Capão da Canoa, no Rio Grande do Sul, foi no ano de 1988, quando passamos um final de semana na única pousada existente naquela época, a qual ficava longe da beira da praia. Creio que se situava nas proximidades da Avenida das Garças. Somente em janeiro de 1989, alugamos um apartamento JK no Edifício Hawaii, pertencente a um colega de meu irmão. Como ficava a uma quadra da praia, era bem prático caminharmos até lá. A vista da sacada em frente ao mar foi a melhor lembrança que restou daquele tempo. Foi uma estadia de poucos dias, proporcionada pelas férias de trabalho. A minha filha estava com 4 anos de idade naquela época. O irmão e a cunhada estiveram por lá num final de semana.


Vista da Avenida das Garças, tendo ao lado (esq.) o Condomínio Hawaii na década de 2000


A filha no parque infantil ‘Forte Apache’ – Verão de 1989 

Noutro veraneio, aluguei um apartamento térreo situado na Rua das Camélias, sendo que o condomínio se chamava Morada das Camélias. Naquele verão de janeiro de 1990, fez frio e choveu muito. Por esta razão, acabamos voltando antes do previsto para Porto Alegre. Uma lembrança engraçada foi a de que descobrimos um sapinho dentro do apartamento, que ficou lá até que passasse a noite e o zelador viesse retirá-lo. Lembrei agora que, naqueles dias, este mesmo zelador perdeu um filho num acidente. Foi comovente ver a sua profunda tristeza...


Na Morada das Camélias – Verão de 1990


Cabe agora uma explanação sobre as ruas de Capão Novo. As ruas paralelas à orla da praia, ou seja, paralelas ao calçadão, receberam nomes de flores, como por exemplo, Av. das Dálias, Rua do Amor-Perfeito, Rua das Rosas, Rua do Jasmim, Rua dos Crisântemos, Rua das Papoulas, entre outras. As ruas que são transversais a estas receberam o nome de pássaros, como a Av. das Gaivotas e a Av. das Garças. Além dessas, há mais 4 vias: Rua do Quero-Quero, Rua da Andorinha, Rua do Beija-Flor e Rua do Bem-Te-Vi. A avenida principal é a Av. Paraguaçu, que vem desde Capão da Canoa, atravessando outros balneários, e seguindo e a rota das praias mundo afora. Nos dias de hoje, não sei se houve alguma alteração importante.


Mapa dos Anos 1990 das ruas e avenidas de Capão Novo

Mapa numerado dos prédios e estabelecimentos de Capão Novo nos Anos 1990


Capão Novo era uma praia que estava ‘bombando’ naquela época. Nos Anos 1980, o fundador e Presidente do Grupo Capão Novo, Elmar Ricardo Wagner, falecido em 11/02/2022, foi o responsável pela idealização e urbanização de Capão Novo, além de introduzir a TV a Cabo, esta com sede em Capão da Canoa, algo que não existia no Litoral Norte. O empresário participou da construção de onze projetos no litoral, tendo tudo começado no ano de 1981, quando se iniciou a construção de mais de 5 mil casas no balneário planejado. Em frente ao mar, foi desenvolvido um grande parque, que oferecia uma estrutura de lazer para os veranistas, incluindo quadras esportivas, palco para shows e clube social. A valorização do empreendimento ultrapassou os 1.000% em poucos anos. Elmar foi considerado o pai dos condomínios do Litoral Norte, tendo sido também o proprietário da Rádio Horizonte, a qual ficou a cargo do filho Ricardo, antes de passar para o Grupo Murliki de Comunicações. Ele também foi o precursor dos condomínios fechados na praia de Xangri-Lá. As fotos a seguir relembram a praia naquela época, quando as crianças curtiam demais as atrações.


O play ground Forte Apache era uma novidade que as crianças souberam aproveitar - 1989


A filha cruzando a ponte sobre o ‘rio’ de areia - 1989


Vista do mar desde o Forte Apache - 1991


Mais um recanto do Forte Apache - 1991


Chegada à Viação Férrea Norte-Sul - 1989


O trenzinho partindo para a grande aventura - 1990


Passar pelo túnel e ouvir alguns gritinhos de medo fazia parte! - 1990


Talvez o personagem mais lembrado daquela época fosse o Franguinho do Minu, que fazia a sua ‘performance’ durante as atividades culturais, que aconteciam no Palcão. Fazia sucesso entre as crianças. Parece-me que havia também distribuição de brindes de salsichas da marca. No Palcão, aconteceram inúmeros espetáculos durante os anos de veraneios: de música, teatro, dança... Lembro-me especialmente de uma apresentação de ballet, que aconteceu numa das tardes descompromissadas de verão, de que gostei muito! Pena não ter fotografado... A gente pensa que sempre haverá outra oportunidade, mas o tempo não volta atrás! E a música que tocava antes dos eventos? Quem lembra? Era o tema de Capão Novo!


O Franguinho da Minu na frente do Palcão - 1990


O Palcão e os ‘bancos’ de madeira passaram por algumas reformas ao longo dos anos, pois a maresia não perdoa nem as lembranças - 2007


No Anfiteatro e Ringue da Patinação - chamado de Redondão - eram dadas as aulas de patinação aos interessados e eram feitas algumas apresentações. Era diversão certa! Dar voltas e mais voltas; às vezes, levando alguns tombos...


A filha andando de bicicleta, tendo ao fundo o Redondão, passando antes pelo quiosque de crepes suíços; à esquerda, no fundo, situava-se o Calçadão das Cabanas - 1993


O Redondão numa fase, digamos, menos colorida - 2007


Havia outras atrações, que ainda recordo. Numa época, houve uma atividade de educação para o trânsito, com karts à disposição para a gurizada, que funcionou uma ou duas temporadas. Havia as canchas de bocha, o campo de futebol, as aulas de ginástica na frente da praia, o clube... O Capão Novo Praia Clube proporcionava uma série de atividades, tanto para os sócios, quanto para os não sócios. Havia cursos de artesanato, culinária, etc. Sediava os bailes de Carnaval, infantil e adulto, enfim, era o centro das atividades de lazer da praia. Lembro-me especialmente de uma peça de teatro que fui assistir com minha filha, numa das salas do clube. Parece-me que se chamava Lili Inventa o Mundo, se não estou enganada, pois é o título do livro infantil de Mário Quintana. O tema era a Lili e a sua visão inusitada do mundo, cujas falas me emocionaram profundamente. Quisera lembrar-me de algum dos trechos. Mas hoje, tendo o livro, posso voar nas asas da fantasia! 


Vista do calçadão, tendo à direita as canchas de bocha cobertas e o Bocha’s Bar - 2007


Detalhe do campo de futebol em frente à praia - 2007


Capão Novo Praia Clube - 2007


As piscinas do Capão Novo Praia Clube - 2007


Canchas de tênis do clube - 2007


Foi durante estas idas e vindas nos primeiros anos de veraneio é que começou a construção do Edifício Residencial Mont Blanc, na Av. Paraguaçu, n° 4.260.  Recordo-me que havia apenas a demarcação do terreno, quando fui obter informações na Habitamar sobre o empreendimento. Acho que me decidi mesmo pela aquisição foi quando apareceu um anúncio no jornal, em que eram detalhadas as condições de venda. Fiz contato com o Grupo Capão Novo e lá fui eu entrar numa nova aventura! Depois de acertar a compra do apartamento ainda na planta, só fui conhecê-lo quando me foram entregues as chaves. O contrato com o grupo Capão Novo Empreendimentos Imobiliários foi feito em 30/10/1990. Naquela época, o prédio nem possuía número, mas apenas o numero da quadra. Quanto ao número do apartamento, não há necessidade de comentar, mas digo apenas que ficava no 4º andar. Fiz um cálculo de numerologia antes, para que desse um resultado mais ‘auspicioso’. A escolha, entretanto, foi em função de poder ver da sacada do apartamento as piscinas do condomínio, porque me preocupava a segurança de minha filha. Queria ficar de olho no que acontecia lá embaixo. Esta foi uma decisão desastrosa, porque ela acabou crescendo, depois tive que aturar noite e dia aquela gritaria costumeira da gurizada na parte interna do Condomínio. Lamentei não escolher um apartamento que fosse localizado para o lado da Av. das Gaivotas, onde há muito verde em volta, além de possuir uma vista melhor para o mar e para os morros, que ficavam no lado oposto à praia. Além do apartamento, quase ia me esquecendo de dizer, havia o box de estacionamento, que acabava sempre sendo usado sem licença pelos condôminos ou seus parentes. O financiamento foi feito pela Caixa Federal, sendo o contrato assinado em 1991. Tudo foi realizado com muito sacrifício, com a esperança de que, ao final, o esforço valesse à pena. Fui mobiliando com as coisas necessárias, para tornar o lugar mais acolhedor. Ter um telefone e uma TV a cabo lá foi o máximo!


Recordações do Condomínio Edifício Mont Blanc


Mas Capão Novo, após o boom de lançamento, começou a declinar na primeira década de 2000. Nada era mais como antes. A programação cultural que havia no Palcão, até mesmo a do Clube, os eventos realizados no Redondão, as casinhas do calçadão ocupadas por lojas e bares viraram recordação dos ‘verões passados’. Nem a pracinha do Forte Apache se salvou: aquela do trenzinho que levava as crianças para passear e que entrava no túnel quase ‘mal-assombrado’. O frango do Minu sumiu do mapa da mina, o antigo Supermercado Capão Novo fechou as portas, o ônibus Mico Preto, um ônibus preto que fazia a rota Porto Alegre-Capão Novo-Porto Alegre, também saiu de cena, o ‘Lilico’, uma espécie de jardineira puxada por um jeep, que conhecia lá de Tramandaí por ‘dindinho’, parece que se aposentou... Quem lembra das ‘quedas de luz’, explicadas pelo grande número de pessoas durante os veraneios? De repente, a luz ficava bem fraquinha... Isto foi resolvido depois de alguns anos, sendo uma das coisas que melhoraram com o tempo em Capão Novo. 

Ficaram as lembranças das caminhadas à beira da praia ouvindo músicas no walkmann, dos passeios entrando e saindo das ruas em zigue-zague, de pegar um DVD na locadora Replay Film’s, dos almoços no Restaurante Trespach em frente ao condomínio (atualmente mudou-se para depois da Av. das Garças), das sorveterias, das idas à loja de artesanato Ferrari depois do almoço, que vendia ‘de tudo um pouco’, de dar uma olhada nas casas de revistas e outras mercadorias, como a Miscelânea, da pequena galeria em que funcionou numa época uma loja de bijuterias e acessórios, a Confraria da Vaidade da Zazá, onde hoje há uma imobiliária, além de dar uma olhada em outras lojinhas que funcionavam nas temporadas, de passar pelo Posto de Saúde, que nunca precisei, pelas farmácias, pelo Posto Policial que antigamente era outra construção, coberta por uma cúpula esférica, pelas imobiliárias que ainda ocupam boa parte da Av. Paraguaçu, pelo comércio de serviços diversos que às vezes precisava, como lavanderia e costureira. Tudo o que era de mais importante ficava nesta avenida. Lembro, ainda, da Floricultura Raízes, no começo da área residencial de Capão Novo, que me inspirou e me alegrou muitas vezes com suas flores e materiais de jardinagem, a nossa rodoviária, um pequeno posto com horários restritos, que marcava o compasso do tempo da alegria das chegadas e o da tristeza das despedidas. 

A lembrança de que me arrependo de não ter feito fotos, foi a da única visita que a minha mãe fez ao apartamento. A gente acha que vai ter todo o tempo do mundo, para repetir a experiência, mas infelizmente não é assim. Como ela ficou muito tempo cuidando de meu pai e não podia viajar, passaram-se vários anos sem que conhecesse a nossa praia. Depois que ele faleceu, ela se animou a ir conosco. Foi quando um pequeno acidente aconteceu, na esquina do condomínio, quando ela tropeçou e caiu na calçada. Ela achou aquilo tudo muito engraçado, tanto que começou a rir. Coisas que são imprevisíveis e, de certa forma, cômicas! Algum tempo se passou, e ela também nos deixou...

Lembro da rotina de ir à praia pela manhã, voltar para o almoço, depois fazer compras no supermercado da esquina, à tarde ler algum livro, fazer exercícios de francês, assistir um filme alugado da locadora, preparar alguma receita... Na estante da sala havia poucos livros para ler, muitas vezes comprados em Capão Novo mesmo. Lembro-me que garimpei um deles, da autoria de Neide Archanjo, do qual me restaram apenas estes versos, que os reproduzo, enviando-lhe a minha cordial saudação:


“Abre os olhos
cor do Nilo
imprevisivelmente verde
em certas horas da tarde
entre Luxor e Karnac
quando as hastes de papiro
balançam silenciosas
nas egípcias margens
e
me olha”.

 

Série Animais de Capão Novo: (acima) um garboso cavalo na Av. das Gaivotas; um grupo de garças na orla do mar; (abaixo) um pequeno bando de gaivotas-alegres atravessando o céu azul e gato passeando pelas ruas de Capão Novo


Capão Novo, com o passar do tempo, entrou numa fase mais acomodada. Apareceram novos condomínios e foram sendo construídas novas casas, até mesmo mais bonitas do que aquelas dos verdes anos. Começou a funcionar a Faculdade do Campus Avançado da Universidade de Santa Cruz do Sul, entrou em serviço a lotação Capão Novo-Capão da Canoa, que também passava na faculdade, o Clube foi remodelado, houve tantas mudanças... Cheguei até a pensar que, se fosse poderosa e tivesse muito dinheiro, faria algo por Capão Novo. Não para virar uma ‘Capão da Canoa’, da qual não gosto, mas para voltar à sua concepção original, a fim de que não perdesse a sua característica primordial de balneário ligado ao lazer, à tranquilidade e à segurança. Mas este dia nunca chegou. Vamos voltar à realidade! 

Há um bom tempo vinha me acostumando com a ideia de despedir-me do apartamento da praia. Apesar de haver conseguido um acordo favorável com o banco credor, havia a necessidade de recursos para a montagem do novo apartamento em Porto Alegre. Cada vez que ia lá, pensava que era uma pré-despedida, até que viesse o final fatídico. Havia feito uma lista de coisas que me desagradavam em Capão Novo, no condomínio e no apartamento em si. Colocava tudo numa balança, talvez mais para me convencer de que era a coisa certa a fazer. Havia a infiltração no teto da sala, advinda do telhado que nunca fora sanada pela Administração do Condomínio, a gritaria da vizinhança, sobretudo na época de veraneio, mais ainda nas horas da madrugada, o uso do meu box sem autorização por pessoas desagradáveis, como o mal-educado vizinho peruano que teve a petulância de afrontar a minha filha, quando esta lhe pediu para tirar o carro dele do meu box, as despesas de manutenção, a necessidade de limpeza e conservação que acabava assumindo sozinha, além dos problemas com os carunchos, que vieram de brinde nas portas e janelas desde a entrega do bem, as infindáveis escadas até o 4º andar, as infiltrações do meu banheiro no apartamento de baixo e, finalmente, a faltava a colaboração, que nunca conhecera, para suportar tudo isto sozinha! 


Série Flores & Plantas de Capão Novo: (acima) hortências azuis, flores vermelhas de Calistemo, flores fucsia do chorão-das-praias (Carpobrotus edulis) e tuias; (centro) girassol; (esq.) flor de hibisco vermelha, flores brancas do jasmim-estrela; (dir.) flores fúcsia de bougainvillea (primavera) e alamandas amarelas; (abaixo) iuca-gigante, flores azuis da bela-emília, flores amarelas da margarida-das-dunas (foto tirada na primavera) e eucaliptos na Av. das Gaivotas


A necessidade de recursos financeiros, entretanto, falou bem mais alto. Na contrapartida, ficaram as boas lembranças durante o período de tempo de aproximadamente 19 anos em que fui a proprietária deste sonho construído sobre a areia. Ficaram as fotos, os derradeiros filmes, as memórias do ontem, do hoje e as incertezas que despertaram invariavelmente o amanhã. Durante estes anos todos, a vida seguiu o seu curso, a filha cresceu, a minha fase laborativa seguiu adiante e se findou, sobreveio a doença e a despedida do meu pai e, depois, a de minha mãe: havia se fechado um grande ciclo. Eu o havia começado sozinha - com a cara e a coragem - e o terminara sozinha. Nada mais justo: eu devia apagar a luz! Na vida temos poucas oportunidades de ver como uma história que começamos seja realmente terminada. Escrever o primeiro e o último capítulo, fechar o livro, dar por finalizada a leitura. Nada mais terrível, por exemplo, para um compositor não conseguir acabar a sua sinfonia, um escritor deixar de escrever os últimos capítulos de seu livro, ou um cineasta não filmar as últimas cenas de seu adorado filme. Talvez esteja aí o sentido das coisas: mais triste é não ver como as coisas acabam! 

Mas o final foi rápido e o menos doloroso possível. Mal coloquei à venda na Imobiliária, só pela movimentação do corretor no prédio, apareceu o comprador que já estava de olho no apartamento fazia tempos. Vou declinar de seu nome por vários motivos. A incerteza de quando e quantas seriam as minhas despesas finais com relação ao novo apartamento não me deixaram escolha. Mesmo barganhando, acabei aceitando o preço de venda, digamos, meio vil. A partir daí, foram idas à praia para trazer coisas do apartamento de que gostava - não muitas -, ver aos poucos o novo dono trazendo outros móveis e se desfazendo dos meus que estavam lá comigo há anos, tudo por minha gentileza, porque, àquelas alturas, não fazia a menor diferença.


Série Céu, Areia & Mar: imagens que resgatam o céu, o caminhar solitário pela areia molhada, as cenas de banhistas e de pescadores na beira da praia, a vegetação que se impõe ao vento, as flores que embelezam as dunas, o pote com conchas sobre a areia da praia guardado há anos e as ondas do mar cintilando ao sol! 


O dia da despedida foi o de 28/11/2010, para a entrega das demais cópias das chaves. Um último passeio pelas ruas de Capão Novo, pelo calçadão da praia, pela avenida que ia dar no prédio. Sabia que sentiria falta de andar pelas ruazinhas com nomes de pássaros e flores, com os seus condomínios e suas casas com belos jardins, algumas destas dignas de filmes de cinema... Ao Mar reservei uma despedida (às vezes, o chamava de ‘Pai Oceano’), aquele que sempre se renova: todo dia é diferente. O Mar é teu espelho, onde contemplas a tua alma, como escreveu o poeta Baudelaire.

Na volta para o apartamento, um incidente me fez parar no caminho. Um cavalo exausto estava deitado na grama do campo de futebol, perto da praia. Havia gente em volta daquele pobre animal, talvez já agonizante, o que me deu uma profunda tristeza. Um ser nobre por excelência naquela posição de submissão, de desamparo... Lembrei-me de um cavalo que fotografei ali perto, foto que faz parte do meu álbum de recordações. O tempo do ontem e o de hoje havia se interseccionado... Estava diante de uma encruzilhada. Segui adiante, até chegar ao destino e começar a filmar a vista, que me proporcionava a sacada do apartamento. Naquela oportunidade, o prédio estava quase todo vazio. Reinava o silêncio: como deve haver nos momentos solenes! Depois, só restava ir embora, mas deveria ser um ‘sem olhar para trás’... 


Série Ruas, Prédios & Recantos de Capão Novo


Para terminar, apresento esta receita que fazia nas tardes de Capão Novo: um pão integral para ser ‘assado’ no micro-ondas. Simples e pouco demorado, para um descompromissado chá de final da tarde! Clicar no link abaixo da foto. 







5 comentários:

  1. Nossa, que legal achar todas essas lembranças de capão, veraneio por anos aí, e o tempo que tinha a festa do sol era muito legal.. toda aquela infra.. ia sempre na pista de bicicros.. parabéns por recuperar e guardar um pouco dessa história.

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    1. Obrigada! Isso mesmo, a Festa do Sol... Bons tempos! Abraço.

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    2. Lindo o trabalho, Capão novo com a festa do Sol estava a frente d seu tempo

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  2. Oi, li suas lembranças de CN. Eu lembro de tudo. Pois eu ainda veraneio nesta praia, a 31 anos. Fui adolescente, em 92. Peguei está época boa. A pouco tempo falava com a minha mãe sobre isso. O auje até o declínio de CN.

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    1. É bom relembrar as coisas boas que a gente viveu! Abraço.

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