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quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Família Göller 2ª Parte - Ancestrais e Imigrantes













A ORIGEM DO SOBRENOME GÖLLER 



Com relação à origem do sobrenome, podemos encontrar diversas teorias. Em recente pesquisa sobre determinada família nobre, descobriu-se que a palavra Göller vem do nome usado na região de Kraichgau, uma região montanhosa no noroeste de Baden-Württemberg, na Floresta Negra, para denominar o corvo macho, que foi depois escolhido como animal heráldico desta família, cujo sobrenome, Göler Von Ravensburg, surgiu no ano de 1247.


Outra fonte revela que a alcunha de família surgiu no século XII nos Países Baixos, mais precisamente na Holanda do Norte. A primeira menção na Holanda foi encontrada num distrito perto de Dordrecht, na Província da Holanda do Sul, num documento datado de 02/05/1064. Uma das referências mais antigas a respeito do nome é a de Hans Göller que tem como registro o ano de 1324. O nome, na sua origem, parece ter forte influência Viking (Viking significa guerreiro).



Amsterdã - Holanda 2015



Das possíveis origens, encontradas na Internet, temos que Goller ou Koller vem desde os tempos da Alta Idade Média na Alemanha, como designação de ‘cobre pescoço’ ou ‘colete sem mangas’, o que revelaria um sobrenome de origem ocupacional de um indivíduo que era fabricante desta peça de vestuário. Além desta teoria, temos outra que manifesta ser o sobrenome de origem geográfica, sendo Gollern ou Gollau locais existentes na Baixa Saxônia. Fonte: familyeducation.com




O BRASÃO 



Um dos brasões que foi elaborado para esta família é composto por um escudo de prata, tendo como peça principal um corvo negro. A prata significa humildade, inocência, pureza, temperança, limpeza, integridade, eloqüência, procurando vencer os inimigos sem derramamento de sangue. O corvo representa a destruição e o aniquilamento do inimigo, símbolo de augúrio, agudo engenho e oratória. Segundo a tradição nórdica, a vida do corvo dura séculos.





AS ORIGENS




A família Göller emigrou de Dörrebach, cidade do atual distrito de Bad Kreuznach, no Estado da Renânia-Palatinado da Alemanha. Na época da imigração, este Estado pertencia ao Reino da Prússia desde o ano de 1815. No período de 1794 a 1815, a Renânia pertenceu à França, e o Palatinado ao Reino da Baviera. Bad Kreuznach situava-se no Département Rhin-et-Moselle durante a dominação francesa. Jakob Göller (*09/08/1786 Dörrebach/+27/10/1845 Dörrebach), filho de Mathias Göller e Anna Margaretha Müller casou-se com Susanne Lunkenheimer, (*25/07/1790 Dörrebach/+22/01/1860 Picada Holanda – Picada Café RS), filha de Nikolaus Lunkenheimer e de Catharina Wilhelmi, em 18/08/1811 na Igreja Católica de Dörrebach. Tiveram os seguintes filhos: Johann Wilhelm (*05/09/1812 Dörrebach/+06/01/1813 Dörrebach), Catharina (*31/12/1813 Dörrebach/+30/10/1887 Picada Holanda – Picada Café RS), Elisabeth (*11/06/1816 Dörrebach/+24/05/1859 Picada Holanda – Picada Café RS), Susanne (*21/09/1819 Dörrebach/+17/05/1828 Dörrebach), Jakob (*08/05/1820 Dörrebach/+Dörrebach?), Anna Elisabeth (Clara) (*27/12/1822 Dörrebach/+21/07/1900 Linha Bonita, São José do Sul RS), Christine (*10/03/1826 Dörrebach/+21/03/1826 Dörrebach), Maria Anna (*15/05/1827 Dörrebach/+04/05/1902 Picada Holanda – Picada Café RS), Johann (*29/12/1830 Dörrebach/+27/07/1882 Picada Feijão – Ivoti RS) e Bartholomeu (*23/02/1835 Dörrebach/+10/01/1883 Dörrebach). 







Dörrebach - Renânia-Palatinado - Alemanha (Foto: Site Dörrebach)





A CIDADE DE DÖRREBACH 



Dörrebach, ou Doerrebach na acomodação lingüística, é uma cidade do distrito de Bad Kreuznach (distrito de Stromberg, pertence à comarca de Kreuznach), situada na Renânia-Palatinado, Alemanha, a uma altitude de 363 metros, tendo cerca de 740 habitantes numa superfície de 13,14 km2. O nome do lugar refere-se à denominação de um arroio que corre num vale a oeste da cidade que muito frequentemente se esvazia no verão e volta a correr depois de ocorrerem precipitações mais fortes de chuva. A alusão ao nome do lugar (Durrimbach=dürrer Bach=arroio seco) aparece no brasão da cidade. O subsolo verde indica a importância da floresta e do campo para os habitantes. A cruz é uma indicação sobre o poder exercido por Sponheim. O desenvolvimento da municipalidade está estreitamente ligado ao da cidade de Seibersbach. Há indícios da passagem dos romanos por Dörrebach, como indicam os restos de uma canalização de água, assim como pelo traçado da estrada que conduz a Stromberg e a Simmern. Wolf de Sponheim e os Condes de Ingelheim reinaram sobre Dörrebach, até que a Revolução Francesa pôs fim a este poder. As cidades de Dörrebach e Seibersbach estão também ligadas sob o ponto de vista religioso. Em 1556, foi nelas introduzida a confissão luterana, após o reconhecimento das Igrejas Luteranas por Carlos V com a assinatura da Paz de Augsburg em 1555. A simultaneidade adotada conduziu a muitos litígios. Hoje católicos e protestantes vivem pacificamente uns com os outros, numa unidade ecumênica. A cidade está situada na região do Hunsrück. Trata-se de uma montanha média, limitada pelos vales dos rios Mosela ao norte, Nahe ao sul e Reno a leste. O clima desta região é caracterizado pelo tempo chuvoso. 



O arroio de Dörrebach deu origem ao nome da cidade





A VIAGEM PARA O BRASIL 



Susanna Lunkenheimer Göller, tendo ficado viúva de Jakob Göller, decidiu emigrar da Alemanha para o Brasil com os seus quatro filhos: Elisabeth, Anna Elisabeth, também chamada de Clara, Maria Anna e Johann. A filha Catharina viajou para o Brasil, segundo os arquivos de Koblenz, em 28/08/1854, após ter casado com Joseph Ums , vulgo Haas, (Heddesheim, Baden-Württemberg/+RS), em 31/05/1849, em Dörrebach. Este casal teve provavelmente um único filho, chamado Johann Haas (*14/03/1851 Dörrebach/+27/04/1860 Picada Holanda – Picada Café RS). Rosina Haas (*26/08/1848 Dörrebach/+RS), que veio com o casal, era a enteada de Catharina, filha do primeiro casamento de Joseph Haas com Catharina Christ (*1816 Alemanha/+13/11/1848 Dörrebach). Joseph e Catharina foram proprietários de metade do Lote nº 60, na Ala Oeste, em Picada Café RS, cuja medida era de 58.506 braças quadradas, que foi comprado de Pedro Weber. Posteriormente, venderam a Daniel Weyand por 300 mil Réis em 07/10/1862 (Códice 389 Arquivo Histórico do RS). Catharina faleceu em Picada Café em 30/10/1887, com hidropisia, aos 74 anos de idade (Cúria Metropolitana de Porto Alegre, Óbitos, Livro nº 1, pág. 20 v). Os filhos de Susanne Lunkenheimer Göller, Johann Wilhelm, Susanne e Christine, faleceram na infância; de Jakob não se tem notícias, provavelmente tenha se casado em outra cidade; Bartholomeo casou-se com Anna Maria Gerhard, tendo falecido em Dörrebach na data de 10/01/1883. 



Uma observação importante a fazer é que o nome de nascimento e de batismo de Johann era Wilhelm, sendo que a sua data de nascimento obtida na certidão da Alemanha confere com a de sua pedra tumular, provando tratar-se da mesma pessoa. Por motivos ignorados, ele era chamado de Johann (João), e este último nome é o que aparece em todos os registros no Brasil. Há um registro de que “Guillelmo” Göller, forma adaptada de Wilhelm no português, foi padrinho (ele era casado naquela época) de um dos filhos da irmã Anna Elisabeth (Clara) Göller.O mencionado registro de batismo do filho de Anna Elisabeth foi o único documento em que apareceu o seu verdadeiro nome em terras brasileiras. Não há probabilidade de que Johann tivesse tido um irmão gêmeo, pois foram verificados o Familienbuch e o Kirchenbuch de Dörrebach, além das informações do registro civil. Ao que parece, ele deveria ter sido registrado com o nome do primogênito da família, Johann Wilhelm, falecido aos 4 meses de idade, pois era um fato comum na Alemanha os pais colocarem os nomes dos filhos falecidos nos filhos nascidos posteriormente.


O Porto de Hamburgo


A família Göller partiu de Dörrebach até o porto de Hamburgo, provavelmente descendo o Rio Elba, que atravessa o território da Alemanha e vai desaguar no Mar do Norte. No trecho de 15 km em que o rio se separa no Elba do Norte e no Elba do Sul, forma-se o delta interior que é onde fica o maior porto da Alemanha. O Rio Reno possui um amplo sistema de canais que permitem o acesso ao Rio Elba, além de outros cursos fluviais. Sabe-se que o curso médio do Reno, no passado, era de difícil navegação, por causa das fortes correntes e do estreitamento de suas margens junto aos perigosos rochedos. Esta é a explicação mais plausível de haverem escolhido o Elba e não o Reno para chegar ao porto de Hamburgo.



Representação de um veleiro brigue-escuna






Segundo o relato de viagem descrito em uma carta de Johann Anschau, esposo de Elisabeth Göller, aos seus familiares e amigos na Alemanha, este afirma que zarparam no dia 04/05/1847 no brigue-escuna Antonia do porto de Hamburgo. No dia 08 de maio, antes do cair da noite, houve um temporal que somente veio a cessar pela manhã. Johann afirma que não se mostravam doenças no navio, mas, no dia 10 de maio, uma criança, filha de um imigrante, morreu e foi jogada ao mar, enrolada em panos. No dia 19 de maio, ocorreu um temporal que os deixou com muito medo. A tempestade desta vez durou dois dias. Já no dia 25 de maio, chegaram a mar aberto, tendo quase sempre bom vento. No dia 07 de junho, passaram o Canal da Mancha e os imigrantes chegaram finalmente ao Oceano Atlântico. Entre os dias 12 e 19, quase não havia vento e o narrador declara que o navio ficou completamente parado. No dia 20 de junho, deu à luz a uma criança a esposa do imigrante Jacob Witt. No dia 23 de junho, chegaram à linha do Equador, tendo que enfrentar um calor muito grande, mas suportável. No dia 25, o vento soprou novamente, vindo o navio a navegar muito bem entre os dias 28 e 11 de julho, quando chegaram - embora não o diga a carta - ao Porto de Rio Grande. Eles não puderam desembarcar nesta data por causa de um desastre, mas no dia 12 de julho foram liberados. Estavam todos alegres e mais ainda quando receberam os mantimentos em 13 de julho, e foram despachados num vapor chamado Porto-Alegrense. 



Johann Anschau relata que, no dia 16 de julho, chegaram à capital da chamada colônia alemã, Porto Alegre, pagando uma pequena quantia (que seria de 1.200$000 Réis). Depois, foram levados a outro vapor com destino a São Leopoldo que teria balançado muito, mas que chegara rapidamente. Refere que a chegada seria no dia 18 de julho, porém, no Códice 333 (Arquivo Histórico do RS), consta a data de 19/07/1847. Johann afirma que seus parentes na Alemanha deveriam deixar-se agregar por um agente em Mainz, se estes quisessem vir para o Brasil. Mainz é a capital da Renânia-Palatinado. Foi o que deve ter ocorrido com a família Göller para que fosse possível a sua vinda para este país. No Códice acima referido, o sobrenome foi escrito como “Geller”. 



O destino da família Göller era a localidade de Picada Café, ou Linha Café, dividida esta em 140 lotes com 140.000 braças quadradas cada, a qual fazia parte da então Colônia de São Leopoldo. Esta antiga colônia não se confunde com a atual cidade de São Leopoldo. Naquele tempo, São Leopoldo pertencia à cidade de Porto Alegre, possuindo uma área de 78.408 hectares. No sentido norte-sul, seus limites eram Caxias do Sul e Esteio e, no sentido leste-oeste, Taquara e São Sebastião do Caí. Na data de 01/04/1845, emancipou-se de Porto Alegre. A Picada Café daqueles tempos também não corresponde exatamente ao atual município de mesmo nome. Nos primórdios da nossa história, ela era a ponta da Colônia de São Leopoldo, e representava um corredor de passagem para os Campos de Cima da Serra. Com o passar do tempo, Picada Café foi sendo repartida entre vários municípios, como os de Dois Irmãos, Ivoti, São Sebastião do Caí e Nova Petrópolis. 



A antiga Picada ou Linha Café era dividida nos seguintes Lotes ou Prazos: do nº 1 ao nº 63 na Ala Oeste, e do nº 1 ao nº 77 na Ala Leste. O atual Município de Picada Café conservou as áreas correspondentes aos Lotes de números 28 ao 61 na Ala Oeste, e dos números 25 ao 76 na Ala Leste, mais os lotes que pertenceram a Dois Irmãos, que são os de números 76 ao 85 na Ala Oeste, e dos números 90 ao 105 na Ala Leste. Nos documentos, por exemplo, o lote de nº 2 B, que pertenceu a Johann Göller, aparece como situado na Picada Café, porém comprovou-se posteriormente que estava inserido nos limites do atual Município de Ivoti, mais precisamente na Picada Feijão ou Bohnenthal. Susanna Lunkenheimer Göller permaneceu junto às filhas, Elisabeth e Maria Anna, que se radicaram com suas respectivas famílias na Picada Holanda, localidade de Picada Café, local onde foram sepultadas. Anna Elisabetha, depois de seu casamento, residiu em Picada Feliz, Tupandi e Linha Bonita, onde faleceu. Johann foi proprietário de um lote na colônia de Picada Feijão, onde viveu com a sua família durante vários anos, até o seu falecimento nesta localidade.



Picada Holanda é uma localidade de Picada Café RS


Johann Anschau relata que os colonos contavam com muitas terras para a agricultura. Plantavam-se principalmente batatas, feijão, milho e aipim. Gastava-se pouco na agricultura, e a terra era considerada “mais fácil de trabalhar” do que na Alemanha. Os colonos eram livres de impostos, o que era vantajoso para incentivar a imigração. Queixavam-se, porém, das cobras, dos macacos, porcos selvagens e bichos-do-pé. Havia escolas e igrejas, mas não havia confissão antes da comunhão. Os batizados eram como na Alemanha, com três ou quatro padrinhos. 



Conforme pesquisas, os colonos que chegavam ao Rio de Janeiro ficavam alojados em galpões na Praia Grande, hoje Niterói, aguardando a viagem de ida para o sul. As viagens de travessia do Oceano Atlântico eram feitas em barcos de três mastros, enquanto que as viagens para Porto Alegre, por exemplo, eram feitas nos barcos de dois mastros. Posteriormente, utilizaram-se barcos a vapor. Se fossem utilizados os barcos à vela, a viagem durava cerca de três semanas. Aqui chegando, eram recepcionados pelo Presidente da Província de São Pedro, ficando alojados no extremo sul do porto, no prédio do Arsenal de Guerra, na proximidade da atual Usina do Gasômetro. Para o transporte até São Leopoldo, eram utilizados lanchões toldados, movidos à vela e remo. Os colonos chegavam à Feitoria do Linho-Cânhamo em carretas, estabelecimento fabril que foi desativado pelo Governo Imperial, de onde partiam para tomar posse de seus lotes. 



No ano de 1849, a lei provincial em prol da colonização previa que os colonos casados, viúvos com filhos e os que se casassem, depois da chegada, receberiam gratuitamente 100 mil braças quadradas de terras, com a obrigação de nelas residirem e as cultivarem, no mínimo, pela oitava parte, no espaço de dois anos, sob pena de perderem o direito às mesmas. Além disso, os cofres da Província cobririam as despesas de transporte do porto de Rio Grande dos colonos até as colônias, assim como das ferramentas e sementes. Isto vigorou até 30/11/1854, quando foi promulgada uma nova lei, quando os lotes passaram a ser vendidos. 



Durante a Revolução Farroupilha (1835 a 1845), começou a ocupação da Picada Feijão ou Bohnental, a partir da Picada 48, que lhe era contígua. Foi o primeiro vale que pertenceu à antiga Picada Café. Posteriormente, estas duas picadas vieram a ser incorporadas ao Município de Ivoti (Bom Jardim). O segundo vale a ser ocupado em Picada Café, no ano de 1846, foi o de Picada Schneider (Schneiderstal), e o terceiro vale foi o de Picada Holanda (Hollandschneis), por volta de 1850. 



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