A VIAGEM DE NAVIO
Esta carta foi escrita pelo esposo de Elisabeth Göller no ano de 1847, gentilmente cedida por Fábio Anschau, descendente de Johann Anschau. As famílias Anschau e Göller fizeram a mesma viagem da Alemanha para o Brasil, sendo este documento um precioso relato dos principais acontecimentos ocorridos durante a travessia destes imigrantes no veleiro brigue-escuna Antonia, até a chegada ao seu destino no Rio Grande do Sul. Ao longo da narrativa, Johann Anschau também descreve com detalhes a vida dos imigrantes alemães procurando adaptar-se à difícil realidade brasileira daqueles tempos, expressando, em algumas passagens, um afeto sincero e respeitoso para com os seus amigos e parentes na Alemanha. As ilustrações foram introduzidas no texto, com o propósito de conduzir o leitor a esta breve viagem pelo tempo.
CARTA DE JOHANN ANSCHAU - 1847
Tradução da primeira carta enviada por este imigrante da Família Anschau, para seus familiares na Alemanha, a qual foi traduzida por um padre, cujo nome é por nós desconhecido, na década de 1960. A carta original foi escrita no alemão gótico.
"Escrevo na selva, no dia 25 de outubro de 1847.
Minha muito querida irmã, cunhado e todos os amigos,
No momento em que pego a pena para escrever, estou chorando, em amor profundo a todos vocês, saudades e também as experiências são indescritíveis. A viagem definitiva aconteceu, a despedida de vocês também. O que começou a se realizar com dificuldade agora está se tornando em alegria máxima. Nós todos chegamos a esta terra com uma boa saúde. A nossa viagem de Gobis até esta colônia alemã, assim eu queria contar um pouco o seguimento da viagem.
Saímos de casa no dia 22 de abril e, no mesmo dia, às 14 horas chegamos a Ellm e, no dia 23, chegamos à Holanda. Lá nos paramos, tivemos abrigo, mas o nosso mantimento nós tivemos que providenciar. No dia 28 fomos adiante e, antes da noite, chegamos a Wien. Lá nós ficamos até o dia primeiro de maio, indo então adiante e, lá pelas 12 horas, chegamos ao rio Elbe, onde lançamos âncora, porque a maré ficava muito alta à noite. Às 2 horas, velejamos adiante e, ao raiar do dia, chegamos a Hamburg, onde fomos levados, despachados para o navio Antonia. Zarpamos no dia 4 de maio.
Antigo Porto de Hamburgo - Alemanha |
O brigue Antonia zarpou do Porto de Hamburgo na data de 04/05/1847 |
Porto da cidade de Rio Grande RS |
No dia 12, podíamos entrar. Foi uma alegria muito grande que não dá para descrever.
O brigue Antonia atracou no Porto de Rio Grande na data de 12/07/1847 |
E foi mais alegria ainda quando, no outro dia, recebemos mantimentos, alimentos e, nas custas do Imperador, fomos despachados para um vapor. No dia 16, chegamos à capital da colônia alemã.
Chegada a Porto Alegre na data de 16/07/1847 |
Lá pagamos uma pequena quantia, e fomos levados para outro vapor que balançou bastante, mas chegamos rapidamente. A viagem durou da manhã até a noite e, então, chegamos a São Leopoldo no dia 18.
Chegada a São Leopoldo na data de 16/07/1847 |
Então, veio ao nosso encontro Jacob Sommer, que já está há 20 anos no Brasil. Também a sogra do Johann nos recepcionou com alegria, para nos levar à colônia que distanciava da cidade de São Leopoldo umas 5 horas. Lá conhecemos o cunhado do Johann. Depois de 3 dias, começamos na nossa colônia. Tomamos posse dela e de mais uma colônia para o nosso cunhado Johann. Elisabeth e o seu marido ainda estão conosco. Ele ainda está agradecendo ao Anton por ter ficado ali com eles até agora. Ele trabalha numa ferraria, e ganha por dia 2 pilsen.
A nossa colônia dista do primo Sommer 4 horas e a do Dhein 5 horas. Este já veio antes, voltou, e de novo voltou ao Brasil. Até agora estamos “deitados” (quer dizer acomodados) nas cobertas, nas camas do Sommer, e vamos bastante bem. Ele tem terras onde nós também podemos plantar. Plantamos bastante e, de agora até abril, não precisamos comprar mais nada, mas podemos vender, o que para nós é muito bom. A nossa colônia mede por medidas alemãs 300 braças. Plantamos batatas, feijão e milho, este é um tipo do qual podemos fazer farinha. Também temos plantas que se aproveitam as raízes (aipim). Temos muita terra para plantar e outras qualidades. É tudo como na Alemanha, mas aqui não se planta tão seguido, pois não custa tanto.
Tudo vai do jeito mais barato. Vocês querem saber como é a composição da terra aqui? Ela é como lá, mas é fácil de trabalhar nela. No mais, é tudo a mesma coisa, mas aqui não é preciso entregar nada. O colono é livre de todos os impostos. No Brasil, quase todos são colonos. Eles precisam do colono, porém este país tem as suas dificuldades, nada é perfeito no mundo. Tem muitas cobras, macacos, porcos selvagens e bichos de pé.
Com as igrejas e escolas, é como na Alemanha, mas a cada dia fica melhor. Tem uma igreja em frente à casa do Lerner, na qual o Johann e a Elisabeth e todos nós participamos da Santa Comunhão, mas não tinha uma confissão antes, como é costume na Alemanha. Também os batizados são como lá, com três a quatro padrinhos.
Querida irmã e irmão, se vocês quiserem vir, então confiem em Deus, e comecem a viagem nos braços Dele. Se deixem agregar pelo agente em Mainz, pois o Johann tem o endereço do navio. Nós também pagamos a carta.
No dia 10 de setembro, o Lorens Gerhardt também chegou com boa saúde e bem alegre aqui no Brasil, e nos entregou a carta pela qual nos alegramos muito. Por isso, também queremos participar tudo o que nós passamos aqui desde que nos separamos de vocês. O Lorens casou e não tem nada. Como nós só temos 30, ele precisa de tudo.
Querida irmã, se tu vens, traga junto um fogão, e traga também alguns potes de barro nos quais se pode fazer manteiga. Encha os mesmos com algo de uso, e guarda, empacota muito bem. Traga ainda os manuais coloridos, custe o que custar. Louça de pedra ou de barro e o melhor que tu tiveres em mãos. Traga também para a viagem tudo o que podes precisar. Compre também um pouco de pão para o começo da viagem, pois primeiro todos ficam meio tontos, mas isto é só por alguns dias. Traga também sementes de cebola.
Ass. Johannes Anschau.”
Com as igrejas e escolas, é como na Alemanha, mas a cada dia fica melhor. Tem uma igreja em frente à casa do Lerner, na qual o Johann e a Elisabeth e todos nós participamos da Santa Comunhão, mas não tinha uma confissão antes, como é costume na Alemanha. Também os batizados são como lá, com três a quatro padrinhos.
Querida irmã e irmão, se vocês quiserem vir, então confiem em Deus, e comecem a viagem nos braços Dele. Se deixem agregar pelo agente em Mainz, pois o Johann tem o endereço do navio. Nós também pagamos a carta.
No dia 10 de setembro, o Lorens Gerhardt também chegou com boa saúde e bem alegre aqui no Brasil, e nos entregou a carta pela qual nos alegramos muito. Por isso, também queremos participar tudo o que nós passamos aqui desde que nos separamos de vocês. O Lorens casou e não tem nada. Como nós só temos 30, ele precisa de tudo.
Querida irmã, se tu vens, traga junto um fogão, e traga também alguns potes de barro nos quais se pode fazer manteiga. Encha os mesmos com algo de uso, e guarda, empacota muito bem. Traga ainda os manuais coloridos, custe o que custar. Louça de pedra ou de barro e o melhor que tu tiveres em mãos. Traga também para a viagem tudo o que podes precisar. Compre também um pouco de pão para o começo da viagem, pois primeiro todos ficam meio tontos, mas isto é só por alguns dias. Traga também sementes de cebola.
Ass. Johannes Anschau.”
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