Fernando Pessoa (1888-1935)
APOSTILA
“... Aproveitar o tempo!...
Ah, deixem-me não aproveitar nada!
Nem tempo, nem ser, nem memórias de tempo ou
de ser!
Deixem-me ser uma folha de árvore, titilada por
brisas,
A poeira de uma estrada involuntária e sozinha,
O regato casual das chuvas que vão acabando,
O vinco deixado na estrada pelas rodas enquanto
não vêm outras,
O pião do garoto, que vai a parar,
E oscila, no mesmo movimento que o da terra,
E estremece, no mesmo movimento que o da alma,
E cai, como caem os deuses, no chão do Destino.”
(Heterônimo Álvaro de Campos)
No Café A Brasileira - Lisboa - Portugal |
Nenhum comentário:
Postar um comentário