UMA HISTÓRIA DE VIDA - ANTON JACOB RENNER
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Anton Jacob Renner (*07/05/1884/+27/12/1966) |
“E, nunca, decerto, foi mais necessária a franca atividade cívica da nossa gente do que neste momento de incerteza mundial. Nem a burguesia nem o trabalhador indiferentes encontram justificativa nesta hora para o absenteísmo das urnas. Esta é, sem dúvida, a hora de todos os que amam a liberdade alistarem-se eleitores e se prepararem para cumprir o dever da escolha de nossos destinos de amanha.” A. J. Renner, in Diário de Notícias, Porto Alegre, 6 de fevereiro de 1949.
Anton Jacob Renner é o patrono da indústria gaúcha, fundador do Centro da Indústria Fabril do Rio Grande do Sul no ano de 1930, transformado no Centro das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul, que originou posteriormente a Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul – FIERGS, incluindo o SENAI, além de ser um dos fundadores da Confederação Nacional das Indústrias em 1938.
A FAMÍLIA RENNER
Os imigrantes da Família Renner, Georg Philipp Renner, a esposa Catharina Kirsch e os filhos Friedrich, Margaretha, Georg Philipp Junior e Peter Renner, saíram do porto de Amsterdã em 25/08/1825, na galera sob a bandeira de Bremen denominada Friedrich Heinrich, chegando ao Rio de Janeiro em 08/11/1825. Desta cidade, partiram rumo ao Rio Grande do Sul em 03/12/1825, no bergantim-escuna Galvão, chegando a São Leopoldo na data de 29/12/1825.
O filho Friedrich casou-se com Catharina Lerner, tendo os filhos, Felippe, Catharina, Maria, Luisa e João Frederico. Friedrich faleceu durante a Revolução Farroupilha.
O neto Felippe Renner casou-se com Maria Josepha Mossmann na data de 01/07/1854, em São Leopoldo RS, indo residir na cidade de Ivoti RS, denominada na época de Bom Jardim. O casal teve doze filhos: João, Catharina, Jacob, Maria, Frederico, Carolina, Leopoldina, Alberto, Rosina, Henrique, João Felippe e Adelina Henriqueta.
JACOB RENNER – O PAI DE A. J. RENNER
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Jacob Renner e a esposa Clara Vetter |
Jacob Renner, filho de Felippe Renner, aos 14 anos, foi para a localidade de Picada 48 (localidade de Ivoti) aprender o ofício de construtor de moinhos e rodas d’água. Quando foi instalar um equipamento de moagem no sítio do Capitão do Exército Imperial, Jacob Vetter, conheceu sua futura esposa, Clara Vetter. Jacob Renner fixou-se no Alto Feliz por volta de 1882, abrindo uma padaria com a esposa. Vendia e consertava máquinas de costura, além de vender instrumentos musicais, para complementar a renda da família. Jacob montou uma refinaria de banha que, no ano de 1908, foi transferida para a cidade de Carlos Barbosa, antevendo a oportunidade de negócios com a construção da ferrovia Porto Alegre-Caxias do Sul. De lá, transferiu a empresa para a cidade de Montenegro. Mais tarde, esta fábrica de banha passou a ser administrada pelo filho Julio Renner, que veio a se transformar no conhecido frigorífico.
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A antiga Refinaria de Banha de Jacob Renner no início do Século XX - Montenegro RS. Foto: Blog Histórias do Vale do Caí |
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Vista aérea do Frigorífico Renner, hoje desativado - Montenegro RS. Foto: Acervo de Maria Fermanda D'Almeida Renner |
ANTON JACOB RENNER
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A. J. Renner - Início do Século XX. Foto: Reprodução/RBS TV |
Anton Jacob Renner, neto de Maria Josepha Mossmann e bisneto de Johann Jacob Mossmann, patriarca desta família, nasceu em 07/05/1884 em Alto Feliz. Aos 12 anos, trabalhou na refinaria de banha da família. Aos 14 anos, decidiu ir para Porto Alegre estudar e trabalhar como aprendiz, tornando-se artífice na Joalheria Foernges. Aos 19 anos, nos idos de 1903, inaugurou uma joalheria na cidade de São Sebastião do Caí. No ano de 1907, casa-se com Mathilde Trein, tornando-se sócio da empresa Christian Jacob Trein & Companhia, que pertencia à família do sogro. Esta empresa foi fundada em 1847 em Bom Jardim (Ivoti RS), a qual administrava a Empresa de Navegação do Rio Caí, possuindo três vapores, além de uma refinaria de banha.
Naquela época, as vendas eram realizadas por caixeiros viajantes, os quais realizavam nas colônias os negócios de compra e venda de uma infinidade de produtos, no interior e nas sedes dos municípios. Anton Jacob Renner realizou esta tarefa, com um cavalo e algumas mulas, durante quatro anos, enveredando pelas picadas até a ampliação da rede ferroviária de São Sebastião do Caí, passando por Montenegro, inaugurada no ano de 1910.
Com a competição da via fluvial e a via férrea, além da obsolescência do transporte animal, a empresa resolveu expandir-se para o mercado de Caxias do Sul e da Capital. Foi então que Christian Trein e Frederico Mentz se reuniram com investidores e fundaram uma tecelagem, vindo A. J. Renner a participar deste novo negócio. Embora o começo tenha sido difícil e espantado os investidores, Anton acabou por assumir a empresa, que se tornou a A. J. Renner e Cia. na data de 02/02/1912.
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Anúncio da A. J. Renner & Cia. com as ilustrações da famosa Capa Ideal - Porto Alegre RS |
Anton possuía uma aguçada percepção das oportunidades, pela simples observação das necessidades apresentadas pelas pessoas. Foi o que aconteceu quando ele desenvolveu e patenteou um tecido impermeável para a confecção da Capa Ideal, pensando naqueles que precisavam enfrentar as intempéries nas estradas gaúchas. A capa foi um grande sucesso de vendas. O setor de tecelagem da empresa teve que ser transferido para Porto Alegre, no Bairro Navegantes, pela conveniência de recepção dos novos maquinários, aquisição de matérias primas e proximidade do mercado consumidor, enquanto que o setor de fiação da tecelagem continuava a operar em São Sebastião do Caí. Este último foi transferido em definitivo para Porto Alegre somente no ano de 1914.
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Panorama das Indústrias Renner - Década de 1930. Foto: Prati |
Nos anos seguintes, foram criadas fábricas, que vieram a se transformar num grande complexo industrial. O comércio ganhava as Lojas Renner. Anton atuou com sucesso na indústria têxtil, diversificando as operações na confecção de vestuários, chegando a inovar na criação de uma rede de revendedores de produtos e no sistema de venda a prazo. Ao começar a fabricar chinelos e sapatilhas, teve a necessidade de montar um curtume para a confecção dos solados, acabando por desenvolver toda uma linha de calçados.
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O antigo prédio das Lojas Renner, que veio a sofrer um incêndio em 1976 |
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São Duas Roupas numa só - Renner - A Boa Roupa, Ponto por Ponto |
Em 1927, participou na fundação da fábrica de tintas. No ano de 1933, começou a se dedicar ao cultivo de linho e à tecelagem com o emprego deste na produção de tecidos. A partir de 1934, começava a operação da fábrica de máquinas de costura e, no ano de 1933, foi desenvolvida uma seção de latoaria para fábricas de querosene, banha, café e balas. No ano de 1947, teve início a fábrica das Porcelanas Renner.
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Anúncio das Porcelanas Renner - 1969 |
Anton Jacob Renner era conhecido pela sua capacidade de empreendedorismo e de liderança da classe empresarial. Mas é também é lembrado por ter valorizado as relações humanas no trabalho e por contribuir na promoção social dos trabalhadores no âmbito de suas empresas. Levou as suas ideias ao Governo Federal na área de direitos trabalhistas, tais como a jornada de 8 horas, férias, salário mínimo e acidentes de trabalho. Sua visão empresarial, norteada pela postura humanista, lançou iniciativas além de seu tempo, como na implantação das creches para funcionárias que estavam começando a entrar no mercado de trabalho e na preocupação com a higiene do ambiente de trabalho. Instalou refeitórios, qualificou a mão de obra, instalou cursos de alfabetização e de nutrição, além de incentivar atividades esportivas e culturais, criando até mesmo uma caixa de aposentadoria, oferecendo assistência médica, antes mesmo da criação do Instituto dos Industriários.
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O Grêmio Esportivo Renner - 1954 |
Ele apostou no investimento social e humano que dava o seu devido retorno na produção, acreditando no elo solidário entre o Capital e o Trabalho, inovando ao dar participação nos lucros aos empregados através de gratificações extras.
Na sua senda política, deixou como legado algumas contribuições nesta esfera, como a elaboração da legislação trabalhista após a Revolução de 1930. No ano seguinte, fez parte do Conselho Consultivo do Estado, foi eleito deputado estadual como representante classista em 1935, participou durante o período do Estado Novo em postos estratégicos, mas retirou-se desiludido do cenário político no ano de 1937, voltando a dedicar-se inteiramente à militância de sua classe.
Anton Jacob Renner faleceu no dia 27/12/1966, aos 82 anos de idade. Teve oito filhos: Elzire, Egon, Heinrich, Christian Jacob Kurt, Walter Hugo, Otto Rudi, Herbert Bruno e Anna Louise.
HOMENAGENS E CONDECORAÇÕES
Medalha de Honra ao Mérito do Trabalho (1952), Cruz do Mérito da Alemanha (1956), Ordem Nacional do Mérito (1959), Medalha do Mérito do Trabalho (1966), Medalha Roberto Simonsen do Mérito Industrial (1966).
Nota da Pesquisadora: as Lojas Renner se desvincularam do grupo formado por A. J. Renner em 1965; dois anos depois se tornou uma empresa de capital aberto e, na década de 1990, expandiu-se pelo país. Em 1998 a J. C. Penney Brazil Inc. adquiriu o controle acionário da companhia. Em 2005 os administradores optaram pela venda do controle da companhia, através de oferta pública de ações na Bolsa de Valores, pulverizando assim o seu capital, com quase 100% das ações em circulação. Comprou no ano de 2011 a Camicado Houseware, além de possuir lojas da Blue Steel.
Fontes:
Parlamentares Gaúchos, nº 5 – A. J. Renner: Perfil, discursos e artigos (1931/1952), organizado por Gunter Axt – Porto Alegre, Gráfica Ética Impressora, 2003.
O Biênio 1824/1825 da Imigração e Colonização Alemã no Rio Grande do Sul, Carlos H. Hunsche – Porto Alegre, A Nação, 1975.
Wikipedia
Ilustrações e fotos: Internet