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Os artigos veiculados neste blog podem ser utilizados pelos interessados, desde que citada a fonte: GÖLLER, Lisete. [inclua o título da postagem], in Memorial do Tempo (https://memorialdotempo.blogspot.com), nos termos da Lei n.º 9.610/98.

sábado, 29 de junho de 2013

Memórias de Infância I














O NASCIMENTO


Nasci em 06/02/1956, sob o signo de Aquário, às 4 horas e 45 minutos, numa segunda-feira de lua quarto minguante, na Maternidade do Hospital Beneficência Portuguesa de Porto Alegre.



Porto Alegre nos Anos 1950
                                                               

A antiga entrada principal do Hospital Beneficência Portuguesa

                            

Minha mãe, Philomena Giuseppe Göller, contava que na noite do dia anterior ao meu nascimento estava com o meu pai Egon e o meu irmão Roque sentados nos bancos ao ar livre do antigo Auditório Araújo Viana (local onde hoje se encontra a Assembleia Legislativa), ao lado da Praça da Matriz, assistindo a uma apresentação de dança tirolesa, segundo me contou o meu irmão anos mais tarde. Quem sabe a antiga Banda Municipal estivesse tocando a música... Naquela noite quente de verão, ela começou a sentir as contrações do trabalho de parto, com medo de que talvez eu nascesse ali mesmo... Mas tudo deu certo, e o parto ocorreu na maternidade.




O antigo Auditório Araújo Viana, ao lado da Praça da Matriz
                                  

Minha mãe dizia que queria muito ter uma menina, já que tinha perdido a primeira filha que se chamava Eneida. Desta forma, foi realizado o seu desejo. Ela tinha sua fé religiosa em Santa Catarina, possuindo uma imagem da santa em seu quarto. Ela dizia que eu teria os braços tão delicados quanto os de Santa Catarina. Depois do meu nascimento, naquele período em que estava no Hospital, contava que despertou surpreendendo o meu irmão tentando me dar de comer uma bolacha “Maria”. Ele estava preocupado comigo, já que ninguém havia me dado nada para comer... Fui amamentada até os 18 meses de idade.



Com 1 mês de idade, junto com meu pai e irmão - 1956 - Pareci Novo RS
                        

Com 1 ano de idade junto à minha mãe - 1957 - Porto Alegre RS
                     

O meu nome foi dado pelo meu irmão. Naquele tempo, havia uma cantora famosa chamada Elizeth Cardoso, porém, o nome escolhido foi Lisete, sem o “h” e com “s” e “e” no final. Na origem francesa, a grafia correta seria Lisette, sendo uma variação de Louisette ou “Luizinha”. Descobri isso em um antigo dicionário de francês que pertencera ao meu pai. Fui registrada apenas com o sobrenome paterno Göller, um hábito comum entre os pais descendentes de alemães.



No colo do meu irmão Roque - 1956 - Pareci Novo RS
                                           

Fui registrada em 10/02/1956. Os meus avós paternos eram Jacob Göller Sobrinho e Idalina Schmitz Göller. Os meus avós maternos eram Rocco Di Giuseppe e Alfonsina Abarno Giuseppe. As testemunhas do registro foram Eny de Oliveira Castro, funcionário público e José Carlos Mota Soares, bancário. Pela certidão, eles moravam na mesma pensão em que meus pais haviam morado provisoriamente. Foram, portanto, amigos daqueles tempos.



Com a vó Idalina e meu irmão Roque - 1956 - Pareci Novo RS
                                  

Naquela época, meu pai estava fechando o negócio de um apartamento na Rua Riachuelo, que foi comprado em 14/02/1956, quando eu tinha apenas oito dias de vida. Antes de nos mudarmos para lá, em 02/03/1956, quando já tinha 25 dias de vida, ficamos morando na Rua General Bento Martins. Este prédio ainda existe, mas acredito que não como uma pensão. Na entrada, há uma longa escada que leva aos cômodos superiores, e imagino como a minha mãe não deve ter passado uns maus bocados para subir e descer os inúmeros degraus... Sei que, quando nos mudamos, o prédio de nosso apartamento da Rua Riachuelo ainda não estava completamente pronto. Os elevadores nem estavam funcionando, além de outros contratempos. Mas minha mãe queria se mudar para lá assim mesmo...



No quarto dos meus pais no apartamento da Rua Riachuelo  - 1957 - Porto Alegre RS
                 

O MEU BATISMO

 
Fui batizada em 22/04/1956, aos 2 meses de idade, na Catedral Metropolitana de Porto Alegre. Foram meus padrinhos Antônio Ribeiro Abarno e a esposa Morena Silva Abarno. O tio Antoninho, como a mãe o chamava, era seu primo, sobrinho da minha avó Alfonsina. Foi celebrante o Padre Job Pizzato.




A Catedral Metropolitana de Porto Alegre
                                              


A Certidão de Batismo na Catedral Metropolitana de Porto Alegre
                            


Tenho poucas lembranças de infância de meu padrinho, que faleceu na data de 10/09/1984, aos 76 anos de idade. Lembro-me melhor de minha madrinha, a tia Morena, da sua maneira mansa de falar e de sua voz com certo timbre grave. Nos últimos anos, eles moravam na Rua Demétrio Ribeiro. Mantivemos um contato mais distanciado com o passar dos anos. A minha madrinha faleceu em 04/02/1996, aos 88 anos de idade, poucos dias antes de a minha mãe falecer no dia 10/02/1996.




Comemoração de bodas de meus padrinhos Antônio e Morena Abarno - 1953 
  

A mãe contava que, quando era inverno, eles iam passar esta estação no Rio de Janeiro e, quando era verão, voltavam para Porto Alegre. A mãe os estimava muito. No ano de 2003, tive a felicidade de encontrar o site deste ramo da família Abarno. Entrei em contato por e-mail com primo Jorge, filho de meus padrinhos, e desde então mantivemos contato com frequência. O primo trouxe-me notícias de seus irmãos e de seus descendentes, e posso dizer que este ramo dos Abarno transformou-se numa grande e especial família. Com simpatia e admiração, dedico-lhes estas breves linhas, pois todos terão para sempre os seus lugares dentro do meu coração...


A minha mãe dizia-me que fui batizada e crismada no mesmo dia. Não sei bem como isso foi feito. A minha madrinha de crisma era Maria Conceição Göller, esposa do tio de meu pai, Reinaldo Göller, o qual eu não conheci, pois este faleceu anos antes.





No meu primeiro aniversário com a madrinha de crisma Maria Conceição Göller
         


Com a morte do tio Reinaldo, a viúva trabalhou arduamente para o próprio sustento e o de sua filha, Elizabeth Göller, nascida em 09/03/1951. Ela continuou tocando o negócio do marido, uma serraria na Rua Voluntários da Pátria com a Av. Sertório. A minha mãe gostava muito dela. Depois que a tia Conceição faleceu, a prima Elizabeth ainda continuou morando no mesmo endereço, na Av. Borges de Medeiros, esquina com a Rua Demétrio Ribeiro. Mantínhamos contato esporadicamente. Trabalhou nos últimos tempos no SENAC, pois, infelizmente, ela faleceu de leucemia em 15/02/1996, doença diagnosticada tardiamente.



O aniversário de 3 anos de meu irmão na casa de Maria da Conceição  - 1953 - Porto Alegre
            

O PRIMEIRO ANO DE VIDA



Não tenho muitas lembranças dos meus primeiros anos de vida. É difícil recordar. A mãe contava, por exemplo, que havia uma época quando era bebê em que chorava muito. Dizia que alguém havia posto “quebranto” em mim, porque muita gente vinha me conhecer. Então, ela chamou uma “preta velha” conhecia e que me benzeu. E deu certo... Lembro que muitas vezes a mãe me benzia na testa. Ela “provava” a minha testa com a ponta da língua. Se ela estava “salgada”, fazia um sinal da cruz, dizendo algumas palavras, as quais eu não lembro. Outra coisa que fazia era ficar deitada olhando as minhas próprias mãos. Aliás, essa é uma necessidade que sinto de vez em quando. É algo que me dá certa tranquilidade, como se os dedos e a mão formassem uma misteriosa mandala.


Sobre o meu 1º ano de idade, pelas fotos que tenho, posso dizer que foi uma festa bonita. Servem também para matar a saudade do nosso apartamento da Rua Riachuelo, no Edifício Buriti. Vivi lá os meus primeiros treze anos.



A festa do meu 1º Aniversário - 06/02/1957 - Porto Alegre RS
                                    

AS NOSSAS FÉRIAS

Começo pelas minhas primeiras viagens, além das idas à casa de minha avó na cidade de Pareci Novo. Em fevereiro de 1959, viajamos para Santa Catarina e para o Paraná, quando tinha 3 anos de idade. Não tenho lembranças destas viagens. Só algumas fotos.


Aos 3 anos com meu irmão em Florianópolis SC (com permanente no cabelo) 
          


Nas férias de verão, íamos para a Colônia de Férias do Banco Agrícola Mercantil S. A., localizada na Zona Nova da praia de Tramandaí, perto da Plataforma. Depois dos meus 13 anos, a Colônia passou a pertencer ao Unibanco S. A., por causa da fusão daquele Banco com o Banco Moreira Salles S. A. Era uma bonita colônia de férias, com apartamentos para o veraneio dos funcionários, mas eram simples. Os armários, por exemplo, eram fechados com cortinas. Lembro-me que havia beliches no quarto, onde dormíamos eu e meu irmão. Havia uma pia no apartamento para fazermos uma refeição rápida ou para guardar alimentos, já que havia o refeitório e o bar, para pormos os pedidos na “conta” do pai...




A Colônia de Férias do Banagrimer (o meu pai está marcado na foto) - 08/07/1961 - Tramandaí  RS
                       


Tive amizades naqueles tempos, e que duravam somente aquele período de verão. Vinha gente de todo o Estado, mas com o tempo chegavam pessoas de São Paulo. Íamos à praia de manhã, caminhando poucas quadras. Lembro-me do ecônomo, o Sr. Vítor, que tinha uma voz bem rouca, e que era divertido. Foi lá que passei a data dos meus 15 anos, no ano de 1971. Arrumaram o refeitório, fizeram-me homenagens, e deram-me flores com um cartão que guardo até hoje. Dancei uma valsa com meu pai. Ele estava todo sem jeito, meio “enferrujado”, como disseram. A data foi bem marcada, deixando uma bela lembrança. Infelizmente, não tiramos fotos para relembrar. O meu irmão não chegou a participar. Estava de namoro com a futura esposa, a Bete, que tinha uma casa em Tramandaí. Acho que foi nessa época que se conheceram.



Cartão acompanhado de flores que recebi no aniversário de 15 anos
                  

OS PASSEIOS


 
Recordo-me que íamos à Praça da Alfândega. Brincava nos escorregadouros e nos balanços, estes muito disputados. Quase sempre as crianças eram diferentes, mas não tinha dificuldades em me entrosar com elas. Lembro-me daqueles recantos por mim tão apreciados, como o da estátua da mulher com um jarro d’água, a Samaritana. A praça tinha mais sol naquele tempo. Hoje, parece-me que a praça tem um aspecto mais sombrio e bem menos seguro. Bom mesmo era à noite, principalmente nas noites quentes de verão. Era belíssimo ver aqueles chafarizes de luzes coloridas, que jorravam água bem para o alto. É uma das minhas melhores lembranças de infância.



Vista da Praça da Alfândega e da Rua da Praia - Anos 1950
                                    

Nós também frequentávamos a Praça da Matriz, ou Praça Marechal Deodoro, com aquelas escadarias todas. Era um desafio subir pelo dragão de bronze, e chegar até aquele patamar que existe em torno do monumento de Julio de Castilhos. Tinha cuidado para não cair, porque as minhas pernas eram curtas. Essas praças eram as mais importantes.

  
Vista da Praça da Matriz e do antigo Auditório Araújo Viana - Anos 1950
                             

Passeava no Parque da Redenção aos sábados ou domingos, geralmente para com o meu pai, enquanto a mãe preparava o almoço. O parque parecia-me ser mais bem cuidado naquela época. O mini-zoo ainda existia, e dava para a rua perto da Reitoria da UFRGS. Gostava de ir aos recantos, como o Oriental. O pequeno lago deste recanto não é nem parecido com o de outrora. Chegamos a levar plantas aquáticas deste local para utilizar no nosso pequeno aquário de peixes. Havia também nenúfares amarelos naquele tempo.


Minha mãe e meu irmão no Recanto Oriental - 1951
                                


Lembro-me do bicicletário que havia no lago, por onde hoje navegam os pedalinhos de cisnes, com um monte de carpas robustas. Levávamos pedaços de pão para elas. Comiam de tudo, por isso eram tão grandes.





Passeando com meu pai e irmão no pedalinho no lago do Parque da Redenção - 1959
                                     

Lembro-me do trenzinho que era bem barulhento, e que sempre dava alegria ao vê-lo passar, dos vendedores de cataventos, do algodão-doce, das pipocas... As grandes árvores, na época, causavam-me certo medo, mas aquele verde todo do parque era inigualável, e era bom tocar nos ramos, nas folhas... Creio que a maioria das árvores são as mesmas daquele tempo. Estão lá apesar de tudo, apesar do tempo, apesar do Homem... Os lugares e os caminhos parecem ser os de ontem. Talvez, resida aí um secreto significado...



Na frente do Zoo do Parque da Redenção (na sacola levava meu peniquinho)
          

 AS DOENÇAS DA INFÂNCIA


O pediatra da nossa infância era o Dr. Poli Marcelino Espírito. Tinha um ótimo conceito naquela época. Seu consultório era na Av. Sen. Salgado Filho, n. º 111. Eu e meu irmão fomos bem cuidados por ele. Na maior parte das vezes, prescrevia fórmulas que tinham um gosto peculiar. Na verdade, pareciam ser sempre a mesma coisa, mas funcionavam muito bem. Eram aviadas nas farmácias. Ele também vinha em casa quando precisávamos. Era, acima de tudo, um amigo de meus pais. Lembro-me de uma vez em que fomos visitá-lo, quando já estava bem velhinho e doente. Morava, se não me falha a memória, na Rua João Telles. Sou grata por ele ter ido à missa da minha formatura da Faculdade de Nutrição. Foi num sábado pela manhã. Aliás, ele foi especialmente me ver naquela missa.


O Dr. Poli Marcelino Espírito
                                            

No ano de 2004, numa tarde de trabalho na Taquigrafia, folheei o jornal Zero Hora, e descobri o convite para Missa de 7º dia do Dr. Poli. Era o dia 25/05/2004. Soube então que o nosso pediatra falecera aos 100 anos de idade. Fiquei triste por não tê-lo visitado antes, pois achei que ele já havia nos deixado. Gostaria de ter me despedido dele. Mas não consegui ir à missa. Infelizmente, fiquei presa no trabalho. Não chegaria à Igreja de Santa Teresinha antes das 18 horas..


A foto acima foi copiada de seu livro biográfico, que encontrei por acaso num sebo de livros. Estava bem no cantinho da estante, enquanto estava procurando por livros  sobre o tema dos imigrantes. Chamou-me a atenção a cor amarela da capa e, quando li o seu nome, fiquei surpresa. Parece até que ele estava me esperando. Custou-me apenas R$ 3,00. Tão pouco para uma vida de valor inestimável. Ele foi um médico muito importante de sua época. A biografia conta toda a sua trajetória, as pessoas importantes com quem conviveu, tanto na história de Porto Alegre, quanto na do Rio Grande do Sul, mas o que mais há de importante a ressaltar era a sua bondade e a sua preocupação com as pessoas, fossem elas humildes ou ricas. Fala de sua fé no Espírito Santo, que o guiou em situações difíceis, inspirando-o na maneira de como proceder. Foi o precursor de procedimentos na higiene escolar, assim como na implantação da merenda escolar. Fez-me lembrar da Nutrição. Ele havia sido o nosso aliado, mesmo sem ser reconhecido no nosso aprendizado diário como universitários. Mas o orgulho do reconhecimento só é importante para pessoas menores. Ele foi, sem sombra de dúvida, um grande homem. O meu adeus ao Dr. Poli. Que o Espírito Santo o envolva com a sua Luz...


Tivemos, eu e meu irmão, essas doenças comuns da infância. Às vezes, eu tinha problemas de estômago, talvez por comer demais. No Colégio, cansei de passar mal e me davam chazinho na Secretaria. Às vezes, até me levavam em casa, ou mandavam me buscar.






O meu primeiro dentinho apareceu no dia 21/06/1956, aos 4 meses de idade. Isto me fez lembrar o nosso dentista, o Dr. Luiz Fabian. Ele era da região de onde o pai nasceu. Dizia que tinha certa vergonha de falar que tinha nascido em Cafundó, uma localidade que ele dizia não existir no mapa (Cafundó hoje se chama Santos Reis, e pertence ao Município de Montenegro). Ele era uma pessoa muito afável. Já tinha certa idade, e dizia ter conhecido o meu avô Jacob, contando-nos que este tocava piano. Chamava-me de “pintinho”. Ele tinha consultório no Edifício Bragança, na Rua Mal. Floriano com a Rua dos Andradas. Lembro-me, ainda, da primeira vez em que fui ao seu antigo consultório. Ele ia dar uma olhada nos meus dentes. Depois, teve outro consultório no mesmo edifício, só que desta vez maior.


Foi então que a palavra “dentista” passou a ser sinônimo de “martírio”. Mesmo marcando hora, ficávamos de duas a três horas esperando, porque ele não tinha pressa. Sempre apareciam aqueles desesperados do interior que entravam na nossa frente. Era meticuloso. Para obturar um dente, tínhamos que ir umas três vezes ou quatro vezes para trocar a “massinha”. Isso significava semanas em tratamento de um único dente. Só então, quando não havia sinal de protesto do dente, ele obturava em definitivo. Era contra a anestesia. Dizia que era preciso saber onde dói, porque saberia que não estava atingindo o nervo, para não matá-lo inadvertidamente. Assim, eu ficava em estado de permanente tensão. Era também um excelente protético, mas não tinha pressa de terminar as próteses. Aliás, ele usava sempre ouro como metal nas próteses.


A espera no consultório servia para pensar na vida, nesta e nas das outras encarnações. Eu passeava pelo corredor, ia ao banheiro do andar que era chaveado, olhava pelas janelas... Qualquer coisa servia. O edifício era bem antigo. Os elevadores eram do tipo belle époque, desses que a gente tem vista panorâmica do caminho pelos andares. Pelas janelas, ouvia-se o barulho dos camelôs e dos vendedores de frutas da Rua Marechal Floriano. Era assim o dia inteiro. O Dr. Luiz era casado e não tinha filhos, mas criou um menino. Faleceu não sei em qual ano. O irmão dele, o Dr. Armin, também era dentista. Sua sobrinha, a Dra. Ana Maria, seguiu a mesma carreira. A mãe e eu consultávamos com ela. Lembro-me que, logo que a mãe morreu, fiquei emocionada de entrar novamente naquele prédio que fazia lembrar-me da minha infância... Foi bom ter o Dr. Luiz como nosso dentista. Tentava fazer as coisas com perfeição. Isso vale como um bom exemplo de vida.


AS LEMBRANÇAS DA INFÂNCIA


Algo de especial na infância era a minha preferência por ouvir histórias, principalmente as que eram contadas no rádio. Lembro-me bem da nossa “radio vitrola” de madeira, com pés altos Anos 50. Possuía rádio e toca-discos. Naquela época, havia um programa de rádio que contava histórias infantis, e eu ficava imaginando as cenas de cada episódio narrado. Depois, íamos buscar o meu irmão Roque no Colégio das Dores. Tivemos um disco com as histórias do Aladim e a Lâmpada Maravilhosa e histórias curtas como “A Cigarra e a Formiga”, “O Burrinho Teimoso” e “O Cágado e o Gambá”. Eu sabia tudo de cor. Elas continham músicas, e adorava cantá-las. Acho que essa coisa de contar histórias, com as inflexões características, ajudaram-me não só a ter facilidade para escrever e criar, como também a ler corretamente. Quando fazíamos exercícios de leitura no Colégio, as professoras gostavam da minha maneira de interpretar o texto.




A nossa radio-vitrola era como esta, mas a cor da madeira era mais clara
                      


O pai possuía discos clássicos e de músicas populares orquestradas. Vem daí a minha preferência pela música clássica. Lembro-me também dos discos de músicas alemãs, além de um disco de cantos de pássaros, que foram gravados por um pesquisador alemão.


Uma das coleções de discos de meu pai comprada através das Revistas Seleções
             

Quando tivemos a nossa televisão de marca “Mullard”, tínhamos, na verdade, um belo trambolho. Era embutida num móvel grande, e era do tempo do tubo de imagem, coisa que os mais jovens nem sabem do que se trata. Mas era moderna naquele tempo. Top de linha...


O nosso aparelho de televisão era da mesma marca e de modelo semelhante
               

As coisas nos primórdios da televisão eram em preto e branco. Havia uma febre de seriados, como o do Rin-Tin-Tin, da Lassie, do Vigilante Rodoviário (filme brasileiro, com cachorro policial), e programas como o da Vila Sésamo. Víamos também muitos filmes nacionais. Havia os desenhos. Gostava muito de ver Disneylândia. Com o passar dos anos, vieram os enlatados: Ultra Man, A Feiticeira, Jeannie é um Gênio, Perdidos no Espaço, Jornada nas Estrelas, Missão Impossível... Foram séries que deixaram saudades...



O seriado Rin-Tin-Tin
                                                                 

Quem lembra da música de Bonanza?
                                                    

Deste seriado gostava muito: Papai Sabe Tudo
                                           

Este seriado era antigo, mas sempre passava na TV
                                    

  
Um dos meus preferidos: A Feiticeira
                                                     

Jeannie é um Gênio marcou época na TV
                                                 

Jornada nas Estrelas era a Número 1 das séries de TV
                                          

A família espacial que deixou saudades...
                                                       
Os eternamente perdidos no Túnel do Tempo
                                                     
A Missão Impossível original marcou época
                                                    

O Agente da U. N. C. L. E. dos tempos da guerra fria
                                             


O melhor desse tempo era não ter grandes compromissos. Até os 7 anos, sem o Colégio, minha vida era brincar, ver televisão, ouvir rádio e dar asas à imaginação. Tenho saudades dos cafés da tarde que a mãe preparava, dos sonhos em dias de chuva (bolinhos de chuva), dos bolos que eu e meu irmão devorávamos, das sobremesas, da comida caseira...



De volta para o Passado...
                                                                   

Era bom ficar deitada de manhã por pura preguiça, enquanto a mãe cuidava da casa e de nós, o que trazia aquela sensação de “estar sendo cuidada”. Às vezes, imagino que ela está lá na cozinha preparando alguma coisa, não pelo fato de aguardar pelo que comer, mas sim por sentir que ainda existe alguém a zelar por nós, e que não estamos tão sós neste mundo. É como tentar religar um fluxo que foi interrompido. Hoje, já não tenho mais quem me dê um chá, me faça ficar na cama quando estou doente... Nada será como antes, como diz a música...







Brincava com o meu irmão Roque, que era cinco anos mais velho do que eu. Tínhamos um armário cheio de brinquedos e de bugigangas. Ele tinha patinete, rema-rema, jogos, tantas coisas que nem cabem inteiros na memória. Brigávamos muito também. Nós tínhamos jogos de vários tipos. Lembro-me das varetas, dos dominós, do jogo de damas, do Banco Imobiliário, dos jogos de cartas. Não faltaram os instrumentos musicais como o pianinho e a gaitinha. Os revólveres de tiro de espoleta faziam uma farra.



Meu irmão Roque e eu de cabelo encaracolado - 1959 - Porto Alegre RS
               

Como enriquecer sem fazer força...
                                                           

Tive inúmeras bonecas e de todas sabia os nomes. Recordo da Laurinha, que a punha sentada no meu colo para ver televisão. Ficava ajeitando a boneca, de modo que pudesse ter certeza de que seus olhos estavam na direção da tela do televisor. Tinha o boneco Pelé, que era um boneco vestido como na Seleção Brasileira, a Ivete, um pouco menor do que a Laurinha, o Julinho e tantos outros que não consigo mais lembrar os nomes. Acho que me desfiz delas no final da adolescência. Meu sonho era ganhar a boneca Beijoca ou, quem sabe, a Amiguinha. Mas o Papai-Noel nunca me trouxe...


Minha prima Cláudia, que nasceu muitos anos depois de mim, com a boneca Amiguinha - Alegrete RS
     

Gostava de brincar recortando objetos das revistas, como se eles virassem objetos de verdade. Até fazia “móveis” com as folhas das revistas. Algumas eram enroladas em tubos para confeccionar os pés dos móveis. Brincava de fazer shows de canto e dança para um público imaginário. Lembro que, numa ocasião, queria muito ganhar o brinquedo de comidinha “Brincar é Sopa”, da Estrela. A mãe ficou quase louca para achar, pois as lojas demoraram a receber, apesar da propaganda na televisão. Até que conseguiu comprar. Era todo de plástico vermelho: pratos, peneira, colher, etc. Foi uma alegria só. Cheguei a derrubar - acho que foi a peneira - no pátio da Dona Rina Ceriana a nossa vizinha do térreo. Foi em algum dos meus aniversários que ganhei um jogo de chá de brinquedo muito lindo, com bule, xícaras, açucareiro e colheres. Achava este conjunto o máximo. Acho que ganhei da tia Lotta (prima do pai), ou talvez fosse da tia Gescy. Não me lembro.



O Chá das 5 da Atma não era um luxo?
                                                      

Lembro-me de uma arte que fiz. Nos fundos da pensão, que existia ao lado do nosso prédio da Rua Riachuelo, havia sempre algum gato perambulando. Numa ocasião, um deles estava passando por cima do muro que fazia a divisa entre a pensão e o nosso edifício. O muro era alto e, lá embaixo, ficava o apartamento da Dona Rina. Então, eu peguei um grande pedaço de carne da geladeira, e fiquei oferecendo para o gato que se mostrou um tanto interessado. Para fazer isto, fiquei quase que dependurada na janela. Um perigo... O gato olhava para cima, ou seja, para a nossa janela que era longe dele e, para baixo, que era muito fundo. Descer ou subir para o gato seria morte certa. É claro que ele não teria coragem de pegar o pedaço de carne. Eu queria ter um gato. No meu raciocínio, achei que seria possível fazer com que ele entrasse em casa daquele jeito...



Era uma vez um gato...
                                                                   

Quando era menina, íamos à Churrascaria Urca aos domingos, que era bem conhecida na época. Já não existe mais. Ficava numa das esquinas da Avenida Júlio de Castilhos. Lembro-me de providenciarem uma cadeira alta de criança para mim, na qual eu coube durante algum tempo. Nós os quatro: a mãe, o pai, o meu irmão e eu íamos comer um bom churrasco e uma salada de batatas de dar água na boca. O pessoal do Banco em que o meu pai trabalhava também organizava churrascos muito concorridos em Belém Novo. Fomos a vários deles até os primeiros anos de aposentadoria do pai, que fazia parte da Associação dos Aposentados do Grupo Unibanco (ex-Banagrimer).



Com a minha família, aos 9 anos de idade, num dos churrascos do Banagrimer no Bairro Belém Novo - 1965


Recordo-me que na infância tinha medo de fantasmas. Lembro-me de um sonho que tive, sendo que para mim era uma realidade absoluta. Sonhei que estava em casa mesmo, de noite, como se estivesse acordada, e vi sombras de pessoas que pareciam índios na parede do nosso corredor do apartamento da Rua Riachuelo. Jurava que era verdade. Naquela época, não havia muita separação entre sonho e realidade. Esse problema me acompanhou durante anos. Ficava, às vezes, toda a noite acordada pensando no que poderiam ser aqueles barulhos, pequenos estalos que ouvia, alguma sombra ou luz esquisita. Ficava praticamente em pânico. Foi então que a mãe resolveu deixar a luz do banheiro acesa durante a noite. Isso ajudou muito. Fiquei anos somente dormindo com a luz acesa.








Sobre a religião, na infância, tinha uma sensação de que, na realidade, não morreria. Iria presenciar o fim do mundo, driblando assim esse incômodo. Iria provavelmente direto para o céu. É engraçado, mas era assim que eu pensava. Simplesmente, tinha “certeza” de que assim seria. Cansava de ir à missa com o meu pai, pois a mãe ficava preparando o almoço em casa. Íamos à Catedral Metropolitana, mas íamos mais à Igreja São José, pois o pai havia morado lá perto quando era jovem, na pensão da tia Leopoldina Göller Mayer. Esta Igreja fica em frente ao Hotel Plaza São Rafael. Ele gostava de frequentar no horário em que a missa era rezada em alemão.


A Igreja São José é uma referência na história da nossa família
                        

Lembro-me com saudades dos Natais da minha infância. Recordo-me que o mês de dezembro começava cheio de expectativas. A mãe costumava caprichar na limpeza da casa, encerando o chão e organizando as coisas. Estas lembranças vêm dos tempos de infância, quando morávamos na Rua Riachuelo. Costumávamos escrever as nossas cartinhas para o Papai-Noel, cheias de pedidos pretensiosos, que eram atendidos na medida do possível. Mesmo assim, ficava satisfeita com o que ganhava. O melhor de tudo era montar a árvore de Natal. Tivemos pinheiros diferentes com o passar dos anos. Bem mais tarde, os verdes e naturais foram substituídos pelos metálicos coloridos. Quando éramos maiores, eu e meu irmão ajudávamos a colocar os enfeites. O nosso presépio, montado sobre um fundo de papel crepom, era bem completo, com animais, pastores, casas e tudo o mais. O lago era uma tradição, feito sobre um pequeno espelho. Colocávamos os patinhos em cima para nadar. Quando a minha filha era pequena, fazíamos a mesma coisa. Com o tempo, o presépio foi descartado. Como as peças eram de gesso, faltavam-lhes algumas partes. Arrependo-me de ter feito isto. Alguma coisa deveria ter ficado como lembrança.






O Natal, na infância, era um acontecimento mágico. Quando era criança, ficava observando o brilho das bolas de Natal. Naquele tempo, eram todas feitas de vidro. Algumas eram lisas, outras desenhadas com purpurina, outras tinham formatos de pinhas, coração, sino... Quebravam-se várias a cada ano, ou então ficavam descoradas. Lembro-me do enfeite de cegonha, com um bebê pendurado em seu bico, das velas de cera fixadas com presilhas, que colocávamos nas pontas dos galhos da árvore, da ponteira em forma de cone sobre uma esfera... Havia as luzes com pisca-pisca, que tornavam o cenário ainda mais encantador. Quando se acendiam, à noite, era hora de sonhar...



Uma foto rara do Natal de 1973, já adolescente, no apartamento da Rua da Praia
                   

A mãe fazia coisas gostosas para comermos, e a noite de Natal era a mais esperada do ano por todos nós. A mãe contava que, na primeira vez em que o Papai-Noel esteve lá em casa, eu caí no choro. Em alguns Natais, ele aparecia e, em outros, só apertava a campainha e deixava o saco de presentes na nossa porta. Com o tempo, parou de aparecer. Talvez já estivesse no tempo da minha pré-adolescência. Ele só voltou a aparecer quando a filha Fernanda era pequena. A mãe até mesmo chegou se vestiu como tal para ela... A melhor coisa era ganhar brinquedos. Mais importantes do que as roupas. Ouvíamos músicas de Natal tocadas por harpa na nossa radio-vitrola. Na véspera do Natal, ou no próprio dia 25 de dezembro, quase sempre íamos à casa da tia Gerda, visitar os nossos tios e primos. Lembro-me da árvore de Natal dos tios, armada em cima do balcão da sala, perto do relógio-cuco, toda iluminada. Tempos memoráveis foram estes...



Natal com minha filha aos 2 anos - 1986
                                                  

A Páscoa da minha infância traz-me felizes recordações. Para esperá-la, dormia cedo para que a noite passasse depressa. Às vezes, tentava ficar acordada para ver o coelhinho, mas acabava pegando no sono. No Domingo de Páscoa, acordava sozinha, pois o meu irmão era preguiçoso e ficava dormindo. Seguia a trilha de ovinhos até achar o ninho cheio de gostosuras. Algumas vezes, havia mais de um ninho. Procurava atrás das poltronas, embaixo da mesa, mais ou menos sendo “guiada” pela minha mãe, sabedora que haveria mais outro ninho para procurar...


A minha primeira Páscoa foi na casa de minha avó em Pareci  Novo - 1956
                                           

Havia os ovos de galinha coloridos. Mais tarde, soube como eram feitos. O pai comprava numa livraria da Rua Vig. José Inácio uma embalagem, que continha pacotinhos de tinta em pó de quatro ou cinco cores. Bem mais tarde, passaram a ser pastilhas. A mãe contava que dava trabalho pintar os ovos de galinha cozidos. A gente tinha que sair de casa para passear e não presenciar a façanha. A tinta costumava tingir os recipientes em que era preparada, e dava trabalho para limpá-los. Quando já não era mais criança, desempenhava esta tarefa: diluir as tintas na água quente em diferentes recipientes com um pouco de vinagre, deixar de molho os ovos e, depois, passar um pouco de azeite neles para dar brilho. A tinta era alemã naquela época. A brasileira, que veio depois, já não era tão boa. Hoje, já nem deve existir mais a tal tinta, mas a Páscoa sempre me faz recordar daqueles ovos, principalmente os de cor violeta...


Os ovos coloridos remetem à tradição da Páscoa  através dos anos
                                           

Os ninhos com o passar dos anos iam diminuindo, mas não faltavam os ovos feitos de açúcar, o pão de mel em formato de coelho, o coelho de plástico cheio de confeitos de açúcar do tipo ‘delicado’... Lembro-me de um que era metade branca, metade transparente, e que permaneceu um bom tempo conosco para brincarmos com ele. No domingo, ia à missa na Igreja São José com o pai. Não me lembro bem, mas acho que o meu irmão não ia muito à igreja. Frequentávamos no horário da missa em alemão. Penso naqueles domingos de Páscoa como dias ensolarados e de grande satisfação. Comíamos tudo em pouco tempo, às vezes até passar mal. Os ovos de galinha coloridos eram comidos nos cafés da manhã da semana que entrava.






Lembro-me que, nas sextas-feiras santas de muitos anos atrás, não podíamos dizer nomes feios, nem brigar e nem ouvir música. Com o tempo, isto foi superado. No tempo de colégio, não tínhamos aula desde a quinta-feira, já que os nossos colégios eram católicos. A mãe preparava - é óbvio - peixe e bacalhau na Semana Santa. Aliás, bacalhau também me parece sinônimo de Páscoa. Dá-me muita saudade dos Domingos de Páscoa à tarde, em que íamos na casa da tia Gerda. Ela preparava com esmero os nossos pequenos ninhos quando éramos menores. Ela enfeitava as cascas de ovos de galinha, pintando-os com tinta ou eram decorados com “figurinhas de passar” de coelhinhos. Depois, eram recheados com amendoim açucarado. O coelhinho passava por lá e se lembrava de nós... De onde vinha o coelhinho, cansei de perguntar. A mãe dizia que ele entrava em casa pelas janelas, depois de subir pelos muros e escalar paredes. Acho que foi pelos 8 ou 9 anos que fui desconfiar de que ele não existia. No colégio, nós fazíamos trabalhos sobre o tema Páscoa, e cantávamos músicas como “Coelhinho da Páscoa que trazes prá mim?”...



Minha filha aos 4 anos - 1988
                                                                  

Lembro-me bem da Páscoa de 1994, no mês de abril, em que a mãe foi pela primeira vez a Capão Novo. A temperatura estava agradável, e fazia um daqueles dias de abril que Mário Quintana poderia descrever como sendo radiante como um cristal. O pai já havia falecido, posto que a sua longa doença não deixou a mãe viajar por muitos anos. Ela gostou muito de ir lá. Um incidente desagradável, já que ela não enxergava bem, foi tropeçar ao passar da rua para a calçada, caindo estatelada no chão. Foi bem na esquina do nosso edifício. Depois, ela dava muita risada do que lhe havia acontecido. Esta foi a única vez em que ela lá esteve. Em 1995, não quis ir durante o verão e, depois, tivemos a nossa mudança e o seu falecimento... A Páscoa teve a sua continuidade com a filha Fernanda, com o coelhinho fazendo as suas entregas de manhãzinha.


Cartão de Páscoa que ganhei da filha
                                                        
Sobre os nossos bichinhos. Na Rua Riachuelo, tivemos alguns peixes num aquário redondo. Depois de uma viagem, quando uma vizinha ficou de dar comida para eles, talvez pelo excesso dela, eles acabaram morrendo. Tivemos durante muito tempo passarinhos: canários, calafates, caturrita, e outros. Um casal de pássaros (não lembro a espécie) teve um filhote que chamávamos de “Pita”. Quando era frio, a gaiola ficava no banheiro. Outros bichos nós não podíamos ter. Bem mais tarde, quando a filha era pequena, tivemos um patinho e uma pomba que o nosso zelador salvou de morrer.




Da infância, lembro-me dos bondes de Porto Alegre. Davam certo ar de São Francisco, cidade que gostaria de conhecer. Faziam um barulho danado, principalmente quando andavam pela Avenida Borges de Medeiros. Guardo na memória os bondes amarelos da Carris. Andamos neles até que desapareceram...







Fui uma criança que não teve muitas dificuldades em fazer amiguinhos nos tempos em que ia às praças, levada pela minha mãe ou pelo meu pai. Era um tempo bem divertido e despreocupado. Lembro-me de ir à Praça da Alfândega andar de escorregador, de balanço, subir e descer nas escadas do monumento, nos bancos... Tudo era festa! Cada recanto era mágico, e cada momento era eterno... Antes de entrar para a escola, tive uma amiguinha, uma menina da minha idade, que se chamava Dulce Karin. Acho que é a única daqueles tempos tão longínquos de que me lembro. Ela morava em um edifício em frente à Praça da Alfândega, e cheguei a ir até a casa dela. O avô dela é quem a levava para a praça, pois os seus pais trabalhavam. Talvez ela tenha chegado a estudar no Sévigné, não lembro. Nunca mais soube dela.


A mãe tinha uma amiga dos tempos de moça, a “Tildinha”, apelido da Matilde. A família dela possuía uma lavanderia na Rua João Manoel, no andar térreo da casa. Com os quatro filhos dela, a Mara, o Jeferson, o Anderson e a Margareth, eu e meu irmão brincávamos a valer no andar de cima. No nosso edifício da Rua Riachuelo, havia crianças, mas eram mais velhas do que eu. Lembro-me apenas da Suzete, que era filha de uma vizinha. Cheguei a ir brincar com ela em algumas ocasiões. As amizades mais duradouras vieram depois que entrei para o Colégio Sévigné. Mas este é um outro capítulo...




Festa de casamento: nós, a Tildinha (de chapéu), ao lado da filha Mara e do esposo Rafael (ao lado da noiva) - 28/01/1961 - Porto Alegre RS