AS LEMBRANÇAS DE ALEGRETE
Viajamos várias vezes para “o Alegrete” com meus pais, quando eu e o meu irmão éramos crianças. Ficávamos na casa do tio Chico, Francisco Abarno Giuseppe, local onde ele também mantinha um armazém de secos e molhados. O tio residia na Rua Waldemar Masson, perto de onde meus avós haviam morado. Lembro-me que, para mim, os degraus da entrada do armazém eram tão altos... Foi quando caí de um deles é que arranjei uma hérnia inguinal. Devo ter sido operada, mais ou menos, aos sete anos de idade. Moravam com ele a tia Carmen e a prima Alfonsina, que recebeu o nome de minha avó. Lembro-me da outra casa onde residiam o primo Walter e a esposa Tereza, Mais tarde, vieram os filhos Cláudia e Marco Antônio. Havia outros tantos lugares em Alegrete que nem imagino a quem pertenciam...
Os meus tios Francisco Abarno Giuseppe e Carmen Juliani Giuseppe, no aniversário do neto Marco Antônio - Alegrete RS |
O primo Walter Juliani Giuseppe no ano de 1960 - Santa Maria RS |
Tenho na memória as viagens de trem. Será que chegamos a ir a Alegrete de trem? Nas fantasias da minha memória, acho que sim... Demorava-se mais para chegar a qualquer lugar que se fosse, mas a viagem nos reservava, a cada quilômetro percorrido, um encanto todo especial...
O saudoso Trem Húngaro (Foto: Internet) |
Passados muitos anos, já adulta, estive novamente em Alegrete no mês de julho de 1987, quando a minha filha ainda era pequena.
Uma foto recuperada: Carmen e a minha filha Fernanda no ano de 1987 - Alegrete RS |
Um longo tempo se passou depois disso. Somente em janeiro de 2002, quando recebi a carta da prima Alfonsina relatando que o meu primo Walter havia falecido naquele mês, achei que era tempo de rever os meus parentes. A mãe gostava muito de seus sobrinhos, e faria o mesmo se pudesse. Ela nasceu quando o irmão Francisco tinha 19 anos de idade. Assim, os sobrinhos foram os seus companheiros de infância. No mês seguinte, durante o Carnaval, foi visitar minha prima e a família de meu primo Walter. A prima Alfonsina ficou muito feliz em me ver. Naquela época, ela estava com 68 anos de idade. Sua vida continuava humilde. Estava muito triste por ter perdido o Walter, seu único irmão. Durante a visita, conheci seus vizinhos de longa data, que se tornaram a sua estimada família: a Cenira Matter Torres, sua vizinha e comadre, o esposo Fernando Torres e a afilhada Fernanda Matter Torres, filha do casal.
Fernando, Cenira, Fernanda e Afonsina no ano de 2002 - Alegrete RS |
Lembramos dos velhos tempos, das coisas engraçadas do passado, como aquela vez em que esteve em Porto Alegre, no nosso antigo apartamento da Rua Riachuelo, a mãe havia colocado uma camisa branca para quarar no sol, quando alguém atirou um pedaço de pano vermelho sobre ela, deixando-a manchada. A mãe ficou preocupada com que o pai fosse pensar sobre aquele infortúnio. Para piorar, no mesmo dia, um senhor foi fazer um conserto no apartamento, e acabou deixando a bagana do seu cigarro no cinzeiro. Quando perguntada, ela não conseguia se lembrar de quem havia feito tal gesto. No final, fizeram uma gozação com minha mãe, porque talvez tivesse recebido alguma “visita misteriosa”... A prima também relembrou histórias sobre o tio Chico, que, aliás, era bem engraçado, como também o era o Walter, assim como coisas do seu passado e do seu presente...
Na frente da casa de Alfonsina: Fernanda, Alfonsina, Lisete e Cenira - Alegrete RS |
Depois do almoço, fomos até a casa da esposa do primo Walter, visitar a Tereza, que naquela época estava com 72 anos de idade. Quando me viu, ela até chorou, e este foi um momento que emocionou a todos. Junto a ela estavam a filha Cláudia e o genro Renato. O filho Marco Antônio não morava mais em Alegrete. Foi tão bom revê-los. Ficarão para sempre estas ternas lembranças no meu coração. Somente retornei à Alegrete no ano de 2004, por razões de saúde da Alfonsina. A Tereza veio a falecer no ano de 2010.
Tereza ao lado de Alfonsina, com Cláudia e Renato - Alegrete RS |
Finalizo estes fragmentos de memórias de Alegrete, fazendo uma pequena homenagem à Alfonsina Juliani Giuseppe, nascida em 22/01/1936, e falecida em 01/10/2009, aos 73 anos de idade. Ela era professora aposentada do Município de Alegrete, vivendo humildemente, mas com dignidade e grandeza ímpar de coração. Depois de se restabelecer de um enfarte em julho de 2004, quando seu coração ficou ainda mais vulnerável, ela teve um derrame em 2009, o qual a deixou sem a fala e com perda dos movimentos num dos lados do corpo. Pouco tempo depois, ela sucumbiu a mais esta dificuldade que a vida lhe reservou. No ano anterior, o compadre Fernando também havia falecido, fato que deixou a todos nós surpresos e muito tristes. Apesar das dificuldades que teve na sua vida, ela sempre deixou a sua marca de otimismo e de bom humor.
A última foto: ao lado de Alfonsina, no ano de 2008 - Porto Alegre RS |
Já não poderei mais me comunicar com ela para desejar-lhe parabéns no seu aniversário, para as felicitações de Natal ou de Ano Novo, já não posso ouvir dela frases como “recebas um beijo, um abraço, da tua prima que muito te quer...”, nem terei dela as preces que fazia para que a minha vida ficasse melhor, e para que eu superasse as minhas próprias dificuldades... Ainda guardo algumas cartinhas que ela me enviou e os últimos cartões de Natal e de Páscoa, com a sua letra inconfundível. Não pude ir até ela nos seus últimos dias por razões de saúde. Espero que ela me perdoe por esta falta, onde quer que esteja. Queria também dizer a ela que foi a irmã que eu nunca pude ter ao meu lado, que a sua voz e a maneira com que ela atendia ao telefone lembravam a minha mãe, que tinha certa semelhança física com ela e isto me emocionava, que foi o elo de uma época de ouro da minha existência, mas que, de certa forma, nunca estará totalmente perdido. Esteja em paz onde quer que tu te encontres Alfonsina, junto dos nossos amados, dos quais fomos separados provisoriamente no curso desta vida!
Participando de um evento, na torcida pela vitória da equipe de Fernando Torres - Esteio RS |
Trechos de textos escritos nos anos de 2001, 2002 e 2010.
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