segunda-feira, 13 de outubro de 2014

A Genealogia de um Sobrado - 1ª Parte

Autora: Lisete Göller


À memória de meu tetravô Johannes Joseph Welter


A casa possui uma espécie de vida própria, definida pelas pessoas que habitam ou nela habitaram algum dia. Os tijolos, o chão de tábuas, as camadas de tinta da parede, as escadas com degraus gastos, as portas e janelas vencidas pelo tempo podem contar uma história. Quem possuía o terreno em que a casa foi construída? Quem a construiu? Quem foram as pessoas que nela moraram? Quais acontecimentos fizeram com que a sua propriedade mudasse de mãos? Às vezes, é preciso retroceder no tempo, talvez décadas, talvez séculos... Além disso, é preciso alargar os horizontes, compreender a vida da comunidade em que ela esteve ou está inserida e o momento histórico dentro do qual foi erigida. Já disseram que podemos aprender mais sobre as nossas vidas e os nossos valores, aprofundar o conhecimento da nossa história familiar, quando aprendemos algo a mais sobre as casas de nossos antepassados.



O sobrado em Rio Pardo RS - 2007 - Foto: Lisete Göller


Esta é a história de um sobrado na cidade de Rio Pardo, na esquina da Rua Júlio de Castilhos (antiga Rua da Ladeira, esta tombada pelo Patrimônio Histórico Nacional) com a Rua Gen. Câmara (antiga Rua da Praia), que conheci no ano de 2007, após pesquisar a genealogia da família de José Welter (Johannes Joseph Welter). Tomei como ponto de partida o inventário de meu tataravô e outras fontes de pesquisa. Contando com informações de determinadas pessoas residentes em Rio Pardo, finalmente consegui encontrar a casa que havia sido de propriedade de meu tataravô. O fato de constatar que ela ainda preservava a sua identidade causou-me surpresa e admiração. Embora estivesse em mau estado, pois sofrera um incêndio há alguns anos atrás, o sobrado resistia bravamente à marcha implacável do tempo. Mas é melhor contar a sua história desde o começo...


A cidade de Rio Pardo foi essencialmente militar no início, fato que levou à construção do Forte Jesus-Maria-José em 1737, a chamada ''Tranqueira Invicta'', por ele jamais ter sido tomado em decorrência das divergências existentes entre portugueses e espanhóis. A construção do Forte Jesus-Maria-José também marcou o início da chegada dos primeiros colonizadores açorianos, que foram inicialmente povoando a cidade em volta do Forte. Por esta razão, a arquitetura sofreu forte influência da colonização açoriana e portuguesa. Na antiga planta da Fortaleza de Jesus-Maria-José, observamos a distribuição das casas de moradia, a Igreja, o cemitério, a Casa do Governador, os Corpos da Guarda, o armazém de El Rey, a Praça de Armas, entre outras construções. A Fortaleza não existe mais, porém dela ainda restaram três canhões e uma lápide feita posteriormente com a planta do Forte, para que as pessoas consigam visualizá-lo.


Forte Jesus-Maria-José - 1754


Os militares que residiam no Forte foram recebendo sesmarias, de modo que Rio Pardo foi sendo povoado, e seus habitantes foram se tornando homens de posses. No ano de 1789, iniciava-se o ciclo da pecuária intensiva devido ao maior volume de sesmarias. Depois de criada a Capitania de São Pedro, em 7 de outubro de 1809, através do Decreto Real assinado por D.João VI, foi criado o município de Rio Pardo, juntamente com Rio Grande, Porto Alegre e Santo Antônio da Patrulha. O Rio Grande do Sul dividia-se em quatro partes, correspondentes a estas quatro cidades. Por causa disto, Rio Pardo contou de início com uma grande extensão territorial.


OS PRIMEIROS PROPRIETÁRIOS DO TERRENO DO SOBRADO DA RUA DA LADEIRA


I-Capitão Manoel José Machado




O terreno pertencia inicialmente ao Capitão Manoel José Machado (Filho) (*1785 Rio Pardo RS/+1843 Rio Pardo RS), que provavelmente tenha herdado de seus pais, o também Capitão Manoel José Machado (*1755 Rio Grande RS/+09/06/1803 Rio de Janeiro RJ - Sinopse dos inventários e testamentos do Cartório da Provedoria de Porto Alegre – 1776 a 1852, Emilio D’Artagnan Carvalho, 1952) e Maria Antonia da Encarnação (*1760 Rio Pardo RS/+1821). O Capitão era neto paterno de Thomé Machado Ourique (*1710 Biscoitos, Ilha Terceira, Açores, Portugal) e de Maria de Jesus (*1715 Biscoitos, Ilha Terceira, Açores, Portugal). Manoel casou-se em Rio Pardo com Gertrudes Maria de Borba (*1785/+1833), na data de 26/12/1816, com quem teve quatro filhas. A família possuía bens em Rio Pardo, Porto Alegre e no Rio de Janeiro.


II-Herdeiros do Capitão Manoel José Machado




Depois do falecimento do Capitão Manoel José Machado, na data de 20/12/1843, foi lavrada a Escritura de Contrato, Inventário e Partilha amigável, pelos bens deixados pelo Capitão. No documento há referências de sua viuvez e de sua primeira filha, já falecida, chamada Rosa Machado (*1817/+1834). As demais filhas e seus respectivos genros eram (Arquivo Público do RS, Rio Pardo, Livro de Transmissões/Notas, 1º Tabelionato, nº 8, fls. 154 a 162 v. - 1832-1845):

1-Maria José de Machado Chaves (*1819/+1878), casada com o Desembargador Pedro Rodrigues Fernandes Chaves (*27/04/1810 Porto Alegre RS/+23/06/1866 Pisa, Itália), o Barão de Quaraí, magistrado, estancieiro, jornalista e político;

2-Josefa de Machado Dias de Castro (*1820), casada com o Dr. João Dias de Castro (*1807 Piratini RS/+11/08/1875 Porto Alegre RS), o qual foi Presidente da Província do Rio Grande do Sul por três vezes;

3-Francisca Machado Freitas Travassos (*1821), casada com Manoel José de Freitas Travassos Filho (*08/07/1812 Porto Alegre RS/+24/08/1885 Niterói RJ), magistrado, político e Ministro do Supremo Tribunal de Justiça.


III-João Fischer (Johann Fischer)




Durante a referida lavratura do Inventário e Partilha amigável, na data de 20/12/1843 relatada acima, foi declarado pelos herdeiros que: “não foram mencionados a casa térrea nesta vila na Rua da Praia (Rua Gen. Câmara) e um terreno contíguo em frente à Rua Direita (Rua da Ladeira ou Rua Júlio de Castilhos), por termos repartido igualmente a quantia de dois contos de réis, pelos quais vendemos ao alemão João Fischer (escrito “Fixer”)” (Arquivo Público do RS, Rio Pardo, Livro de Transmissões/Notas, 1º Tabelionato, nº 8, fls. 159 v). João Fischer, casado com Anna Maria Fischer, era comerciante em Rio Pardo. Este comprou a casa térrea na Rua da Praia, ou Passo do Jacuí para sua residência e o terreno contíguo a esta casa, sobre o qual seria construído o futuro sobrado. O terreno foi vendido posteriormente a Carlos Oestreich. João teve um filho chamado João Fischer Filho, falecido em 24/03/1873, aos 26 anos de idade de moléstia pulmonar.


IV-Carlos Oestreich (Johann Carl Oestreich)




No dia 23/03/1846, no 2º Cartório da cidade de Rio Pardo, compareceram para efetuar a venda e escriturar o terreno do futuro sobrado os vendedores João Fischer, sua mulher Anna Maria e o comprador Carlos Oestreich, todos moradores da vila de Rio Pardo. Na escritura consta que o terreno situava-se na “Rua da Ladeira, que faz canto ao virar da rua que segue para a Praia do Jacuhy, dividindo-se pela frente da Rua da Ladeira, com as casas de José Ignácio da Silveira e, na frente da rua que segue para a praia, fazendo divisa com casas pertencentes aos vendedores, que o houveram por compra que fizeram aos herdeiros do falecido Capitão Manoel José Machado.” O preço ajustado foi de 400 mil réis. Assinaram o documento: o vendedor João Fischer, João Rodrigues Palhares a rogo de Anna Maria Fischer e Carlos Oestreich, além da testemunha e o Tabelião (Arquivo Público do RS, Rio Pardo, Livro de Transmissões/Notas, 2º Tabelionato, nº 10, fls. 109 e 109 v - 1839-1846).


Johann Carl Oestreich (Östreich) (*1802 Fauerbach ou Stokheim, Hessen, Alemanha/+13/06/1855 Rio Pardo RS), agricultor, católico, veio ao Brasil com a esposa Anna Catharina (*1802 Hessen/+RS), como passageiros da galera holandesa Company Patie. Na Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Volume 263, Abril-Junho 1964, fl. 21, baseado no mapa apresentado pela Inspetoria de Colonização Estrangeira, apresenta o registro como: “João ‘Galo’ (Carl) Oestrich, 23 anos casado, lavrador, passaporte de Frankfort . E sua mulher; Catarina, 23 anos, casada, passaporte de Frankfort .” Obs.: a grafia é a do documento histórico.


Tiveram pelo menos quatro filhos no Brasil:


1-André Marques Oestreich (*25/04/1828 Torres RS/+20/08/1911 Santa Maria RS) casou-se em Rio Pardo com Maria Margaretha Schlitzer (*1818), filha de Johann Georg Schlitzer e Margaretha Schlitzer. Na data de 28 de outubro de 1882, o Coronel Marques Oestreich assumiu o comando superior da Guarda Nacional da Comarca de Santa Maria (Relatório dos Presidentes das Províncias Brasileiras - 1ª Sessão da 21ª Legislatura da Assembleia Legislativa, Porto Alegre, 1883, pág. 10). 
O casal teve pelo menos dois filhos: José Bernardo Oestreich (*06/01/1840 Taquari RS) e José Oestreich (*19/11/1843 Rio Pardo RS);




Túmulo do Coronel André M. Oestreich em Santa Maria - Foto: Tania Redel



2-Anna Catharina Esméria Oestreich (*1830 Torres RS), viúva, casou-se novamente em 22/07/1853, na cidade de Rio Pardo, com Friedrich Schilling (*1809 Bad Kreuznach, Renânia-Palatinado, Alemanha/+após 1874 Candelária RS), filho de Jacob Schilling e de Elisabetha Neumann, marceneiro, o qual transferiu-se para Rio Pardo e, aos 60 anos de idade, foi um dos fundadores da cidade de Candelária RS, onde possuía um armazém (Arquivo Público do RS, Rio Pardo, Livro Casamentos n. 4, fls. 78 e 78 v). O casal teve pelo menos um filho: Rodolfo Frederico Schilling (*30/07/1855 Rio Pardo RS/+13/11/1940 Santa Maria RS);


3-Maria Joaquina Oestreich (*Santo Antonio da Patrulha RS/+RS) casada com Antonio Bernardo Vernes (*Rio Pardo RS/RS), filho de Francisco Bernardo Vernes e Sebastiana Peixoto de Moraes na data de 10/02/1852 em Rio Pardo RS;


4-Anna Oestreich (*20/03/1840 São Leopoldo RS/+RS);


5-Carolina Oestreich (*09/11/1845 Rio Pardo RS/+RS);


6-João Luiz Oestreich (*RS/+RS) casado com Belmira do Amaral (*RS/+04/07/1904 Porto Alegre RS), tendo o casal sete filhos: Thimotheo do Amaral Oestreich (*1871/1872 RS/+04/01/1939 Porto Alegre RS; Gabriel do Amaral Oestreich (*1877/1978 RS/+22/08/1929 Porto Alegre RS); José Carlos do Amaral Oestreich (*1878/1879 RS/+1896/1897 Canudos, Bahia); Franklin do Amaral Oestreich (*RS/RS); Mario do Amaral Oestreich (*RS/RS); Maria Belmira do Amaral Oestreich (*RS/RS) e Maria da Gloria do Amaral Oestreich (*RS/RS).


Um pouco da história da família Oestreich. A galera holandesa Company Patie, com 300 colonos a bordo, partiu da Europa em 10/10/1825 com destino a Buenos Aires. Como foi declarada a guerra às Províncias Unidas do Rio da Prata em 10/12/1825, ao chegar próximo ao Rio em Janeiro de 1826, a galera foi aprisionada por corsários a serviço dos castelhanos, sendo levado ao sul com destino à Argentina. Na entrada do porto de Buenos Ayres, a embarcação foi interceptada por um navio de guerra brasileiro, e os passageiros foram instalados na Ilha das Flores, situada em frente a Montevidéu. Dos 281 passageiros, cerca de 200 fugiram para a Argentina com o "comandante do transporte" Karl Heine, que dizem ter sido um agente de imigração a serviço de Rosas. Os 81 restantes voltaram ao Rio de Janeiro, onde chegaram em 17 de maio de 1826.


Depois de chegar ao Rio de Janeiro, por Aviso do Império de 17 de maio de 1826, os imigrantes foram entregues ao inspetor de colonização estrangeira, o Mons. Pedro Machado de Miranda Malheiro, que no dia 22 de maio fê-los desembarcar, transportando-os para o depósito da Armação da Praia Grande. Renunciando às vantagens concedidas aos colonos, ficaram no Rio duas famílias, tendo as outras embarcado para Porto Alegre (15 famílias, compostas por 81 pessoas e 2 avulsos), na segunda viagem da sumaca Nova Sociedade, na data de 01/06/1826. Chegaram a Porto Alegre em 22/06/1826 e, posteriormente, a São Leopoldo em 24/06/1826, onde ficaram até setembro de 1826, quando foram novamente transferidos para Porto Alegre e, em novembro do mesmo ano, foram levados para a nova Colônia Alemã de Torres (São Pedro de Alcântara) pelo Tenente-Coronel Francisco de Paula Soares.


Conforme a Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Volume 263, Abril-Junho 1964, o Kumbang Iatie (Company Patie) partiu de Amsterdã no dia 15/10/1825, sendo capitão Francis Stavers, com aproximadamente 310 passageiros, com destino a Buenos Aires. Em 27/12/1825, entravam no Rio da Prata. Em 27/12/1825, foi apresado pela corveta da esquadra imperial Maceió, visto que o Brasil estava em guerra contra a Argentina, onde ficou até 12/04/1826, quando partiu para o RJ. Nesta data, partiu de Montevidéu, chegando ao RJ no dia 27, com 82 colonos (mais um que nasceu no RS). Em 03/06/1824, seguiram para o RS.


Assim foi a chegada da família Oestreich à Colônia Alemã de Torres. Em novembro de 1826, foi instituída a 2ª Colônia Imperial do Rio Grande do Sul, denominada Colônia Alemã das Torres. Esta colônia, devido ao maior número de imigrantes para lá enviados por parte das autoridades e também a uma enchente do rio Mampituba, foi dividida em dois núcleos: o de São Pedro de Alcântara (atualmente Colônia São Pedro), mais próximo à vila de Torres e formado por imigrantes católicos, e o de Três Forquilhas (atualmente Itati), mais distante do centro urbano, composto por imigrantes protestantes. No núcleo de São Pedro de Alcântara, foram assentados 184 colonos.


Não se sabe em qual ano Carlos Oestreich foi se estabelecer como comerciante em Rio Pardo. Provavelmente, ele tenha residido nesta cidade com Henrique José Oestreich, possivelmente um parente seu, primo ou irmão, pois este imigrou juntamente com Carlos e sua família. José era casado com Anna Maria Krey, comerciante, sendo estes moradores na Rua da Ponte (Rua Gen. Osório). Na mesma Revista do IHGB consta: “José Oestreich, 34 anos, casado, lavrador, passaporte de Dusseldorf. E sua mulher; Rosália, 37 anos, casada, passaporte de Dusseldorf. E filha do casal, solteira. Catarina, 10 anos.” Presume-se que José tenha ficado viúvo de Rosália depois da chegada ao RS, e que tenha se casado com Anna Maria Krey.


A construção do sobrado ainda levaria alguns anos. Carlos Oestreich precisaria de maiores recursos.




Vista de Rio Pardo RS - Meados do Século XIX


Em 22/07/1850, foi lavrada uma escritura de dívida e hipoteca, sendo hipotecantes Carlos e sua mulher Catharina Oestreich e como credor hipotecário Pedro Badet, residente em Porto Alegre, o qual foi representado pelo seu Procurador Guilherme Bormann e Companhia. O valor do empréstimo era de 2 contos, 688 mil réis, que seriam destinados à construção de uma propriedade de casa de sobrado, sendo que a mesma serviria de garantia hipotecária ao credor. Nesta escritura, é feita a primeira menção da soteia, que fazia parte da casa. É referida, ainda, a rua lateral como Passo do Jacuhy. O vizinho ao lado, na Rua da Ladeira, é mencionado como “o velho José Ignácio”, e o outro vizinho, que lhe vendera o terreno, João Fischer, que continuava a residir no local. Ficou estipulado que, após o prazo de um ano, se não fosse quitada a dívida, os devedores deveriam pagar dali em diante o prêmio de 1% ao mês, até o total reembolso, não podendo dispor, alienar, nem sujeitar a alguma dívida, sem que o hipotecário fosse satisfeito tanto do valor principal, quanto dos prêmios. Assinaram as partes, a testemunha e o Tabelião (Arquivo Público do RS, Rio Pardo, Livro de Transmissões/Notas, 2º Tabelionato, nº 11, fls. 159 v a 160 v - 28/08/1846-01/02/1851).


Na sequencia, ou seja, na data de 22/07/1850, e no mesmo Cartório, outra escritura de dívida e hipoteca era realizada por José Oestreich e sua mulher, Maria Ostreich, com Guilherme Bormann e Companhia. Está registrado que os primeiros eram devedores da quantia de 1 conto, 139 mil e quatrocentos réis de gêneros, com os quais supriam o giro de seu negócio comercial. Não podendo satisfazer ao hipotecário a referida quantia, eles estavam hipotecando a casa de sua propriedade, situada na Rua da Ponte (Rua Gen. Osório), fazendo canto no beco, que segue para o Pau da Bandeira, dividindo-se por um lado com casas de Dona Sebastiana, viúva de Francisco Bernardo Vernes e fundos correspondentes. O prazo fixado foi de seis meses, findos os quais, não satisfeita a dívida, pagariam 1% ao mês, até o total reembolso, tanto do principal, quanto dos prêmios. Assinaram o documento o devedor José Oestreich, Carlos Oestreich a rogo de Anna Maria Oestreich, além da testemunha e do Tabelião. José assina o sobrenome como Östreich (Arquivo Público do RS, Rio Pardo, Livro de Transmissões/Notas, 2º Tabelionato, nº 11, fls. 160 v, a 162 - 28/08/1846-01/02/1851).


Na data de 30/07/1851, Carlos Oestreich utiliza novamente o Cartório para efetuar outra escritura de dívida com hipoteca, porém chamou o Tabelião para ir até a sua casa. O casal Oestreich havia feito um empréstimo com José Welter, no valor de 2 contos e 240 mil réis em moeda corrente, com garantia hipotecária do sobrado de sua propriedade. O credor, José Welter, meu tataravô, residia na Colônia de São Leopoldo (no Campo Ocidental, que corresponde atualmente à Estância Velha). A finalidade da dívida era a construção da casa de sobrado com soteia. Quanto à localização do imóvel e à menção dos vizinhos são utilizados os mesmos termos constantes da escritura de dívida anterior de Carlos Oestreich para com Pedro Badet. O casal teria o prazo de um ano, a partir do dia 1º de agosto, de saldar a dívida, caso contrário, deveria pagar ao credor 1% de juros ao mês, até saldar a dívida e os prêmios mensais. Assinam: Carlos e Catharina Oestreich, José Welter, uma testemunha e o Tabelião. Ao que parece, ele utilizou este empréstimo para quitar a dívida com Pedro Badet, pois a mesma vencia no mesmo mês. Por ter certa urgência e por estar certamente doente ou convalescendo, o documento foi feito em sua própria casa (Arquivo Público do RS, Rio Pardo, Livro de Transmissões/Notas, 2º Tabelionato, nº 12, fls. 37 a 38 v - 15/02/1851-11/08/1853). 


Um fato relacionado ao vizinho João Fischer vem comprovar que, na data de 09/10/1851, havia de fato só o terreno ou a casa não havia ainda sido concluída. Trata-se de uma escritura de dívida de João Fischer para com Christiano Hasslocher, que residia em Cruz Alta. A dívida, com garantia hipotecária de sua casa, no valor de 800 mil réis tinha a finalidade de suprir o giro de seu negócio, pois era comerciante. No trecho em que são descritos os limites de sua propriedade, lê-se: “por um lado com terrenos de Carlos Oestreich...” (Arquivo Público do RS, Rio Pardo, Livro de Transmissões/Notas, 2º Tabelionato, nº 12, fls. 45 a 46 - 15/02/1851-11/08/1853).


No dia 23/10/1852, no 2º Cartório da cidade de Rio Pardo, compareceram, para efetuar a venda da casa de sua propriedade, o casal José e Anna Maria Oestreich a Guilherme Bormann e Companhia, negociante de Porto Alegre, representado por Nicolau Hasslocher e Companhia, a quem haviam hipotecado a casa como garantia de uma dívida registrada neste mesmo Cartório na data de 22/07/1850. Desta forma, o casal deu a casa como pagamento da dívida restante que correspondia à quantia de 800 mil réis. Assinaram as partes. (Arquivo Público do RS, Rio Pardo, Livro de Transmissões/Notas, 2º Tabelionato, nº 12, fls. 93 a 95 - 15/02/1851-11/08/1853).


OS PROPRIETÁRIOS DO SOBRADO DA RUA DA LADEIRA


Por este último fato relatado acima, acreditamos que a casa tenha sido concluída numa data próxima à de 23/10/1852, pois José Oestreich entregou ao devedor a casa e o seu provável local de negócios ao seu credor hipotecário, devendo ter em mente a sua transferência, juntamente com a família de Carlos Oestreich, para o sobrado da Rua da Ladeira. O sobrado de dois andares teria espaço suficiente para abrigar as duas famílias. No andar de baixo, os Oestreich manteriam o negócio de secos e molhados e, no andar de cima, utilizariam os cômodos destinados à moradia.


O sobrado construído por Carlos Oestreich na Rua da Ladeira, próximo à Igreja Matriz de Rio Pardo - 1865-1870


I-Carlos Oestreich (Johann Carl Oestreich) e sucessão

Vamos falar sobre o sobrado, tentando compreender a época de sua construção. Rio Pardo possui relevo acidentado, e é por esta razão que a área urbana recebeu ruas sinuosas, acompanhando a declividade do terreno, resultando num traçado irregular. Após o estabelecimento do primeiro núcleo da Fortaleza, foram sendo construídas edificações nas áreas mais baixas, como a da Rua da Ladeira, onde foi edificada a Igreja Matriz a partir de 1779. A demarcação dos terrenos urbanos inicialmente contemplou militares, capelães e médicos, tendo início no ano de 1780. 


O período em que o sobrado foi construído está inserido na 2ª fase da formação urbana da cidade de Rio Pardo, ou seja, entre 1809 e 1865, período importante que a colocava entre as mais belas e ricas cidades do Brasil. Seguia-se a influência portuguesa na arquitetura, e é nesta fase que começaram a serem construídos os sobrados no alinhamento com a via pública, o Colégio Militar e a Igreja Nosso Senhor dos Passos. O Professor Moacyr Flores afirma que a contribuição dos açorianos foi pequena, por serem estes mais pobres e sem instrução, e que “as casas são, na verdade, de arquitetura popular portuguesa, existentes em Portugal e nos Açores”. Naquele tempo, a mão de obra utilizada na construção era a escrava. No sobrado, observam-se detalhes de riqueza, como vidros, que eram raros, e caixilharias nas janelas, o que era considerado um luxo no século XIX. As telhas canoa revelam outro detalhe de distinção: a existência de eiras e beiras no telhado. A eira era um prolongamento do telhado, que servia como proteção para a chuva, e as beiras eram ornamentos colocados por sobre as eiras. Vai daí que nasceu a expressão para os mais humildes: “sem eira, nem beira”. A cobertura do sobrado em duas águas fazia com que parte da chuva fosse lançada na rua e parte no pátio interno, sem a necessidade de calhas.



O sobrado (à esquerda) situado na Rua da Ladeira (Rua Dr. Julio de Castilhos), esquina com a Rua da Praia (Rua General Câmara) - Anos 1940


A existência de muitas portas e janelas indicava que a família era abastada. Na casa original, pelas fotos colhidas no século XIX e na década de 1940, calcula-se que possuía pelo menos 15 janelas e 12 portas. As portas e janelas eram retangulares, sendo estas últimas do tipo guilhotina. Uma particularidade do sobrado e que foi sempre mencionado nos documentos é a existência de uma soteia, uma espécie de terraço na edificação. A palavra soteia é uma variação de açoteia, que vem do árabe e quer dizer “o terraço que deu nome à casa”. O termo é mais usado para as casas antigas. Especula-se que a soteia pode ter surgido com base nas estâncias gaúchas, valendo-se de elementos da arquitetura argentina e uruguaia. O mais certo é que as soteias são comuns nas casas do Algarve, em Portugal. O terraço pode ser utilizado para aproveitamento de águas, secagem de frutos e, especialmente, como espaço de lazer. A soteia do sobrado localizava-se no lado direito da casa. Conforme a informação do senhor Carlos, de Rio Pardo, ela foi inicialmente construída em madeira. Pelas fotos antigas que se dispõe, entre 1870 e 1880, ela não possuía nenhuma cobertura de telhado. Já numa foto dos anos 1940, a soteia, que fora reconstruída posteriormente em tijolos, revela a adição de um telhado sobre a mesma.


A soteia do sobrado, originalmente de madeira, foi reconstruída em alvenaria - Anos 1940


A inexistência de arborização na via pública e recuo para o ajardinamento da residência era característico daquela época. Assim sendo, originalmente, a casa foi construída junto à rua. A calçada estreita, assim como as das outras edificações da parte antiga de Rio Pardo, foi feita posteriormente, quando começaram a circular os veículos a motor. No ano do término de sua construção, em 1852, a iluminação das ruas era feita com lampiões, uma realidade desde o ano de 1848. Eles eram acesos manualmente, quando caía a noite, sendo apagados ao amanhecer. No ano de 1846, o governo da Província autorizou o fornecimento de 72 lampiões para as ruas de Rio Pardo. Primeiramente eles eram de azeite, os quais foram substituídos pelos de querosene.


Lamparina do final do Século XIX na Rua da Ponte (Rua General Osório) - Acervo: Miguel Costa


A construção do sobrado, desde o seu início, foi direcionada para o comércio. O local não poderia ser melhor, pois fora construído na Rua da Ladeira, ponto estratégico no comércio e transporte de mercadorias. Nas imediações da zona da praia e da Igreja Matriz situava-se a zona comercial da cidade. Entre os séculos XVIII e XIX, Rio Pardo destacava-se pela intensa atividade comercial. O transporte pluvial foi fundamental para abastecer este entreposto, que revendia para as casas comerciais da Campanha, Missões e Campos de Cima da Serra, produtos como sal, açúcar, bebidas, móveis, tecidos, etc. Os habitantes da cidade frequentavam as feiras, como a da Praça da Matriz. A maior delas funcionava em frente à Capela de São Francisco. A Câmara Municipal estabelecia os horários de funcionamento das feiras. Mas elas entraram em declínio no final do século XIX.


Algumas feiras eram realizadas em frente à Capela de São Francisco


Era comum aos casarões servirem de estabelecimento comercial e residência. O sobrado seguia este padrão: o comércio funcionava na parte de baixo e, no piso superior, localizavam-se as peças de moradia, como quartos, sala e cozinha. Era usual naquela época que os quartos se situassem no meio da casa, sem janelas, portanto, com ventilação deficiente, principalmente em função das filhas que deviam permanecer puras até o casamento. A porta do quarto das moças dava para o quarto dos pais. Acreditamos que isto não devia fazer parte da cultura dos alemães e o sobrado não tenha seguido a esta regra. O número de aposentos e o material usado para a construção do sobrado denotam ser o construtor uma pessoa de posses. Em geral, a peça que tinha as janelas que davam para a rua era a sala, e, através de um corredor, chegava-se aos quartos. No final ficava a cozinha. Devido à ausência de chaminés - relata-se que até de janelas -, as cozinhas ficavam enfumaçadas. Se houvessem escravos, havia aposento para eles no porão, o que não existe no sobrado. Assim sendo, poderiam alojá-los em qualquer lugar, até junto ao fogão. Esta é uma questão afeita ao meu tataravô Joseph Welter, que possuía uma escrava chamada Thomazia.


Dentro de casa, o mobiliário era modesto, revelando pouco conforto para os seus habitantes. Havia poucas cadeiras e mesas, guardam-se as roupas em baús, que costumavam colocar em cima de estrados, para evitar a umidade e o assédio dos ratos. Os cabideiros também eram usados para colocar as roupas e chapéus. Os utensílios que se usavam à mesa eram escassos, e as famílias mais abastadas possuíam os de superior qualidade. No inventário de José Welter, constam os seguintes móveis que provavelmente já existissem no sobrado, quando este tomou posse do mesmo: marquesas, cama de armação, cama de vento, mesas, aparadores, relógio de mesa, cadeiras, quadros, banco e par de vasos de porcelana. Naquele tempo, havia festas nas igrejas, torneios, saraus familiares e espetáculos teatrais. A vida social era intensa e sofisticada.


O interior de uma casa abastada dos Andrade Neves no início do Século XX - Agência Assmann


Como não havia água encanada naquela época, provavelmente os moradores do sobrado tenham se servido da água de um poço artesiano existente no terreno, ou até mesmo de fontes públicas, ou do rio ali próximo. O abastecimento de água era feito por escravos ou pelos aguadeiros, que cobravam pela pipa que era fornecida. Como não havia banheiros naquela época, os dejetos eram levados em recipientes e jogados numa sanga determinada. O lixo era colocado em qualquer lugar. Mas o Código de Posturas de 1850 determinava o horário proibido para fazer qualquer tipo de despejo, salvo das águas de lavagem. A saúde pública era precária naquele tempo, utilizando-se métodos como a sangria, as ventosas e as ervas medicinais. Não havia hospital, e o que foi construído posteriormente não conseguiu recursos para a sua implantação, tendo se transformado mais tarde na Escola Militar.


Carlos Oestreich não desfrutou por muito tempo da casa e dos negócios, pois este faleceu em 13/06/1855, pouco mais de dois anos depois do término do sobrado. “Aos treze dias do mês de junho de mil oitocentos e cinquenta e cinco anos, nesta Cidade de Rio Pardo, faleceu de inflamação e com cinquenta anos de idade, Carlos Oestreich, natural da Alemanha, casado e com filhos. Foi por mim encomendado e será sepultado no Cemitério desta Igreja. E para constar mandei fazer este registro que assinei. O Vigário João Baptista da Motta Velloso (Cúria Metropolitana de Porto Alegre, Rio Pardo, Livro de Óbitos nº 5, fl. 139).” O cemitério mencionado era o antigo cemitério que existia atrás da Igreja Matriz de Rio Pardo, do qual não existem vestígios. No lugar, posteriormente, foi construída a Casa Paroquial. Naquela época, ainda não existia o Cemitério Municipal, pois este somente foi inaugurado anos depois.


José Oestreich na época do falecimento de Carlos Oestreich, possivelmente tenha ido morar em Santa Cruz, que pertencia a Rio Pardo naquela época. Na data de 24/09/1861, Anna Maria, a viúva de José Oestreich, residente em Santa Cruz, compareceu ao Cartório de Rio Pardo para efetivar a venda a Nicolau Neu de um prazo colonial na antiga Picada e Distrito de Santa Cruz, que lhe coubera na partilha (Arquivo Público do RS, Rio Pardo, Livro de Transmissões/Notas, 1º Tabelionato, nº 13, fls. 99 v a 100 - 1861-1862).



II-José Welter (Johannes Joseph Welter) e sucessão





Na data de 09/07/1855, foi feita a escritura de venda e dação em pagamento (datio in solutum) entre André Marques Oestreich, autorizada pelo Juiz de Órfãos e com a carta alvará de autorização, e José Welter, comprador e credor de seu finado pai Carlos Oestreich. A viúva, filhos e genros haviam renunciado às suas quotas de herança, tendo em vista as dívidas deixadas pelo de cujus. A casa de sobrado na qual Carlos exercia o seu negócio estava com dívidas, e o filho André habilitou-se judicialmente para vender os bens da herança e, com o produto da venda, poderia pagar todas as dívidas da mesma. Entre os credores estava José Welter, a quem a casa fora hipotecada. Neste documento é referida como “casa de sobrado coberta com soteia, sita na Rua da Ladeira, fazendo canto com a que segue para o Passo de Jacuí (em outro trecho é substituída por Rua da Praia), com fundos competentes, dividindo-se por um lado com casas de José Ignácio da Silveira e por outro com as de João Fischer, pela quantia de 3 contos de réis, e porção de mercadorias e móveis nela existentes, pela quantia de 2 contos de réis, perfazendo 5 contos de réis, abatidos 3 contos, 180 mil réis que a herança devia ao credor e comprador, restando 1 conto e 820 mil réis, recebendo a importância das mãos de José Welter. No documento constam os nomes dos filhos ainda menores: Carolina e João Luis Oestreich. Assinam André Oestreich, José Welter, uma testemunha e o Tabelião (Arquivo Público do RS, Rio Pardo, Livro de Transmissões/Notas, 2º Tabelionato, nº 14, fls. 6, 6v, 7, 7 v e 8 - 09/06/1855-14/09/1857).


José Welter e sua família começariam uma nova vida em Rio Pardo. Antes disso, venderam as terras e cabeças de gado que mantinham no Campo Ocidental (Estância Velha), que pertencia à São Leopoldo, além de vender metade das terras que formavam o Lote nº 17 da Picada Bom Jardim (Ivoti RS), as quais foram vendidas a Pedro Müller, em 27/07/1855, pela quantia de 1 Conto e 300 mil Réis. Pedro Müller ficou com a área total de 79.030 braças quadradas. José Welter devia manter contatos comerciais de longa data com comerciantes de Rio Parto. Por esta razão é que conhecia Carlos Oestreich e provavelmente outros alemães que residiam naquela cidade.


No sobrado que havia tomado posse e onde seria a morada de sua família, Joseph estabeleceu a sua casa de negócios no andar térreo, comercializando diversas mercadorias, tais como: alimentos e bebidas (café, vinho, aguardente, cerveja inglesa, genebra, conhaque, absinto, capilé, latas de sardinha, pimenta do reino, canela, cravo, erva-doce, cominho, chás, alfazema, melado, vinagre, sal, erva, farinhas, feijão preto, arroz, açúcar, bacalhau e rapadura); mercadorias diversas (sabão, velas, chifres de vaca, charutos, fósforos, fumo, azeite, louças, utensílios de cozinha, pólvora, material de costura, linhas em novelos, botões de madrepérola, tinta de escrever e rapé); vestuário (tamancos, chapéus de palha, fazendas como chita, algodão e tecidos para calças, chapéus de Braga, lenços de seda, retalhos, paletó de riscadinha e pares de meias, inclusive para senhoras); ferragens (chumbo de caça, tesouras de alfaiate, cadinhos de ourives, balanças, foices, correntes), dentre outras mercadorias. Naquele tempo, as mercadorias vindas de Porto Alegre chegavam ao porto de Rio Pardo e iam para frente da Igreja de São Francisco, onde ficavam por cinco horas para comercialização. Entre os séculos XVIII e XIX, Rio Pardo destacava-se pela intensa atividade comercial. O transporte pluvial foi fundamental para abastecer este entreposto, que revendia para as casas comerciais da Campanha, Missões e Campos de Cima da Serra, produtos como sal, açúcar, bebidas, móveis, tecidos, etc.


Armazém de Miudezas e Ferragens


Johannes Joseph Welter viveu por alguns meses no sobrado, pois veio a falecer em 13/02/1856, aos 45 anos de idade, por afogamento, sendo sepultado no antigo cemitério existente atrás da Igreja Matriz daquela cidade (Igreja de Nossa Senhora do Rosário). Conforme informações obtidas em seu inventário, Joseph teria desaparecido no dia treze daquele mês, tendo sido encontrado morto no dia seguinte, data em que foi sepultado (Arquivo Público do RS, Inventários, Nº 260, Maço 9, Estante 71, Ano 1860, 1º Cartório Órfãos e Ausentes, São Leopoldo - Porto Alegre).


Foram inventariadas a casa e as mercadorias, definidos os devedores (Christóvão Baum, do Faxinal e Rita e Pedro Heissmann, de Capivari) e os credores (João Jaeger de Porto Alegre, Guilherme Bormann, da campanha, Kopp & Rech, José Rodrigues de Oliveira, João Raupp e Irmãos, Holtzrreisig e Companhia, Guilherme Stoll, Francisco P. da Rocha Paranhos e a viúva de Valentim Diehl). A viúva Catharina pediu ao juiz que alguns dos gêneros e fazendas não entrassem na partilha, para que pudesse saldar as dívidas. Assim foi feito, porém o dinheiro dos devedores não conseguiu cobrar.


Catharina Welter, na data de 09/05/1856, pede um alvará ao juiz para a venda da casa da família. Querendo retirar-se para as colônias do município de São Leopoldo, onde dizia ter amparo de parentes e família, pediu a remoção dos bens de seus filhos que tinham partes da casa de moradia, para a aquisição de outros bens de raiz em São Leopoldo, além de poder vender a sua própria parte para esta aquisição, ou seja, queria aplicar o produto da venda das partes na aquisição de outros bens imóveis. Dizia ser mais vantajoso, porque o aluguel da casa era bom, mas não dava sequer o juro da lei. Prometeu prestar contas da venda. Provavelmente, neste mesmo ano, Catharina tenha ido morar com os filhos em Ivoti (ou Picada Bom Jardim que pertencia a São Leopoldo), onde viviam alguns membros da família Mossmann e da família Welter. O negociante Jacob Luchsinger, estabelecido na cidade de Rio Pardo, ficou sendo o seu locatário, tendo o encargo de vender os gêneros. Parte destes Catharina levou para Ivoti e parte foi vendida em leilão em Rio Pardo, rendendo, porém, menos do que valiam. Jacob Luchsinger foi o próximo proprietário do sobrado.


FINAL DA 1ª PARTE




Um comentário:

  1. Lisette. Quero te agradecer pelo lindo trabalho publicado na internet. Atraves dele pude ter conhecimento de parte da historia de meu trisavo que era o Johann Carl Oestreich. Tomei a liberdade de utilizar sua pesquisa em meu al um de familia que fiz em homenagem a meus pais. Te enviarei o link assim que terminar. Um abraço Helena Oestreich helenaoest@globo.com

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