A primeira turma da Faculdade de Nutrição do IMEC - 14/08/1982 |
A FACULDADE DE NUTRIÇÃO
Hoje comemoro mais um aniversário de formatura na Faculdade de Nutrição. Mas este não foi o meu primeiro curso. O meu primeiro vestibular foi prestado na PUCRS, para o curso de Ciências Sociais, no mês de julho de 1977, embora naquela época não houvesse ainda concluído o 2º Grau. Como fiz as provas dos exames supletivos em duas etapas, em julho e dezembro de 1977, ainda não possuía o certificado para ingressar no curso acadêmico.
No ano de 1978, inscrevi-me para o vestibular de Agronomia na UFRGS e no vestibular de Geografia na PUC. Achava este que seria mais parecido com o curso de Agronomia, o qual gostaria muito de ter feito. Assim sendo, como não me classifiquei na UFRGS, mas passei na PUCRS, cursei o 1° semestre de Geografia. Mas ficava difícil conciliar o horário das cadeiras do curso com o trabalho. Foi neste período de impasse que abriu o primeiro vestibular para o curso de Nutrição do IMEC, o que resultou no abandono do curso de Geografia.
Recebendo o aguardado diploma! |
O curso de Nutrição do Instituto Metodista de Educação e Cultura, entidade mantenedora da Faculdade e do Colégio Americano, criado no ano de 1973, teve seu primeiro vestibular em julho de 1978. Para mim era uma oportunidade tentadora. Foi neste embalo que enfrentei o vestibular, sendo classificada em 4º lugar. As provas eram à noite, e lembro-me que o meu pai me acompanhou durante este período, que por sinal foi bem cansativo. Naquela época, trabalhava no IAPAS. No dia do resultado, fomos eu e o meu namorado Carlinhos ver no que tinha dado. Fiquei surpresa ao ver o meu nome na listagem... O Carlinhos me esperava lá fora, e fui correndo contar a novidade. Naquela mesma noite, começaram a pintar os novos bixos, mas saí de fininho...
Foram quatro anos bem legais na maior parte do tempo. Das coisas não tão boas assim, lembro-me das aulas de Anatomia Humana, que foram um pouco traumatizantes, não só pelos cadáveres, mas principalmente pelo cheiro de formol que era insuportável. Desde aqueles tempos, guardo esta poesia com a qual me identifiquei e que traduz de certa forma a atmosfera daqueles tempos. A poesia é de uma aluna do curso de Medicina dos Anos 1970, atualmente uma respeitada profissional que, se não me falha a memória, foi publicada num dos antigos livros do Premio Apesul de Revelação Literária. Aqui vão reproduzidos os versos, esperando que ela não se incomode por tomar esta liberdade, aproveitando para enviar-lhe do túnel do tempo os meus cumprimentos!
RETRATO DE MIM EM 78
Autora: Clarice Kowacs
Não importa a estação vigente:
Na nossa sala sempre é frio e claro.
Nas geladas mesas de alumínio
Repousam cadáveres de peitos abertos.
Já estudamos seus cérebros e, de crânios serrados,
Lembram casas sem telhado.
Para eles, não há descanso:
Não tiveram parentes ou amigos que os sepultassem.
De seus braços pendem músculos ressecados cujos nomes
decorei e esqueci.
Todas minhas tardes, eu as passo aqui.
Não toda eu – apenas o que é em mim sólido e visível
A outra parte, a impalpável, escapa pelas janelinhas
e vai passear nas ruas.
Vê o inverno que termina, o colorido das coisas, o rosto
das pessoas e os cartazes dos filmes.
Quando chove corre para casa e, instalada na poltrona,
lê poemas e bebe chá
Ao som de baladas medievais.
Às vezes, une-se à outra parte e permanece aqui na sala
Onde mesmo triste e enojada
Contempla maravilhada
A perfeição do corpo humano.
Pobre deve ser assim dividido!
Acha tão lindo conhecer Anatomia
E ao mesmo tempo quer tempo para conhecer a si e aos outros.
E enquanto suas mãos dissecam mãos
Fica a imaginá-las vivas, empunhando um lápis
Ou acariciando os cabelos de uma criança.
E os dias vão passando
E minha/sua juventude com eles.
Mas a lembrança do futuro abafa a vontade de ser livre
e responsável.
E, (com)vencidas, seguimos adiante.
Pousado em meus dedos
Um coração cinzento que um dia foi pura força e movimento,
Verte lágrimas de formol e sangue coagulado.
Durante e depois do curso, fiz inúmeros cursos de extensão em Nutrição. Acho que foi bem proveitoso aquele período. Lembro-me dos relatórios de estágio que elaborei durante a época em que trabalhava no Hospital Presidente Vargas. Foram quatro ou cinco relatórios que me deram muito trabalho, mas ficaram muito bons, e devem estar ainda em alguma prateleira da biblioteca da Faculdade. É bom relembrar as colegas com as quais fiz amizades durante o curso, como a da Neide Nunes Tavares, a Roseli Saciloto Frigo, a Nilva Francisca Pereira, a Wilma Gonçalves Lippel e a Denise Calgaro Jamardo, além certamente de outras...
Da esquerda para a direita: Roseli e Nilva (atrás), Neide e Wilma (à frente) e eu (centro) |
Hoje parece-me que o tempo passou voando, mas ainda sinto muito orgulho de ter conquistado o diploma. A formatura foi em 14/08/1982, aos 26 anos de idade. Naquele dia, fui dirigindo o carro até a Faculdade levando os meus pais. Lembro-me da roupa que usava - um conjuntinho de seda bege, com plumas nos punhos e na gola -, pena não ter nenhuma foto com ele para recordar. Dos parentes, compareceram o tio Flávio e o tio Arlindo. Recebi diversos telegramas e cartões com felicitações. A cerimônia foi um pouco longa, mas teve seu brilho eternizado. No final, foi uma confusão, com gente andando para todo o lado. O que me deixa triste até hoje foi não ter tirado uma foto com a família, porque os fotógrafos se dispersaram, e o número de pessoas era grande demais para atender aos pedidos. Mas as fotos com a turma ficaram bem bonitas. Lembro-me que era proibido o uso de bebidas alcoólicas dentro da faculdade. Então, tomamos o champanhe lá fora em copinhos de plástico.
Antes da formatura houve uma missa pela manhã na Igreja Metodista. Compareceu o Dr. Poli, o nosso pediatra, já referido em minhas memórias de infância. Deixo aqui o registro em agradecimento. Que Deus o abençoe onde estiver...
Nos primeiros tempos, pensava em trabalhar em Nutrição. Depois que saí do INAMPS, ou seja, do Hospital Presidente Vargas, deixei currículo em alguns hospitais. Fiz concurso para Nutricionista na Universidade Federal de Santa Maria. Passei, mas não assumi por questões pessoais. Na verdade, o curso abriu outro caminho, quando fiz um concurso público que exigia nível superior.
De qualquer sorte, é mais um capítulo encerrado. Não pretendo voltar a estudar ou trabalhar em Nutrição, embora tenha me qualificado. Foi por causa da cadeira de Bioquímica que resolvi fazer Farmácia na UFRGS, história esta que teve início em 1982.
Nota: o Instituto Metodista de Educação e Cultura passou a integrar a Rede Metodista de Educação do Sul no ano de 2005, que englobou outras instituições, como o Instituto Porto Alegre - IPA.
Um novo encontro com as colegas da Faculdade de Nutrição (esq. p/ dir.): Maria Isabel, Maria da Graça, Wilma, Sirlei, Maria Elisa, Elaine, Lisete, Regina e Maurien – 12/11/2016 – Porto Alegre RS |
Lindo o blog sobre tuas memórias de estudante. Parabéns!
ResponderExcluirObrigada, amiga Sônia! É muito bom relembrar as coisas boas da nossa existência. Beijos.
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