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sábado, 28 de fevereiro de 2015

Família Schmitz (Phillip) - O Moinho Construído por Phillip Schmitz


Post Scriptum: no dia 19/05/2015, a velha casa do moinho foi desmanchada, deixando de existir para sempre. As partes integrantes do moinho foram compradas por uma pessoa de Nova Hartz RS, com a finalidade de remontá-las, fazendo a moenda funcionar novamente nesta cidade. A madeira utilizada na construção deverá ser tratada, para que a casa possa ser reconstruída. Neste momento, a publicação sobre o moinho torna-se um registro muito importante, a fim de que o seu papel e o seu lugar na História não se percam. E coube a mim, Lisete Göller, tataraneta de Philipp Schmitz, resgatar as derradeiras imagens e recompor os fragmentos de histórias que ainda puderam ser reunidos.   


Agradecimento: ao primo Blasio Alberto Bervian pelas informações recebidas e pelo apoio na pesquisa de campo.



O moinho construído por Phillip Schmitz, por volta de 1850, na Picada Feijão, Ivoti RS - Foto: Arquivo Pessoal


O moinho construído por meu tataravô Philipp Schmitz, apelidado de o Pequeno (para diferenciá-lo do primo de mesmo nome e sobrenome, apelidado de o Grande), situa-se na localidade de Bohnental ou Picada Feijão, na cidade de Ivoti, no Rio Grande do Sul. O chamado Moinho dos Biehl, utilizado para o processamento de amendoim, está hoje em ruínas, e foi construído na técnica enxaimel por volta do ano de 1850, nas terras dos Schmitz, que habitavam o Lote nº 2, na Ala Leste, da antiga Picada do Café.


Localização (círculo em vermelho) do moinho na Picada Feijão - Fonte: Google Maps


A existência do moinho de 165 anos é relatada com breves palavras pelo Padre Karl Schlitz, nas Crônicas de Bom Jardim, publicadas no Deutsches Volksblatt, no ano de 1897. As crônicas eram fruto de entrevistas do jesuíta com os primeiros imigrantes que ainda viviam naquela época. No mesmo parágrafo, relata que o outro Philipp Schmitz, o Grande, que residia no Lote nº 5 da Ala Leste, construiu antes do final da Revolução Farroupilha uma ponte de madeira no Buraco do Diabo (Teufelsloch), local em que foi erguida posteriormente a Ponte do Imperador, entre os anos de 1857 a 1864, sobre o Arroio Feitoria. Esta ponte tinha o objetivo de possibilitar o escoamento da produção colonial. Philipp, o Grande, de profissão carpinteiro, ficou famoso por ter tido a ideia de cortar os mastros do navio Cäcilie, que enfrentava uma grande tempestade em alto-mar, a fim de evitar o naufrágio.


Localização do moinho na área do antigo Lote nº 2 na Ala Leste da Picada Feijão - Fonte: Google Maps


Ao que parece, Philipp, o Pequeno, deve ter aprendido o ofício com seu primo na chegada ao Brasil, pois no Familienbuch de Klüsserath, sua cidade-natal, consta que era agricultor. O ancestral faleceu em 09/01/1853 na localidade de Picada Feijão ou Bonhental. A data de falecimento é um marco importante, pois Carlos Biehl, proprietário histórico do moinho, comprou após a morte de Phillip a metade norte do lote dos Schmitz. Primeiramente, comprou a parte de Mathias em 21/07/1853, por 400 mil réis; depois, a parte do lote do casal José Schmitz, filho de Philipp Schmitz, o Grande, e Ignês (ou Agnes) Schmitz, filha de Philipp, o Pequeno, na data de 06/06/1864, por 300 mil réis.  É possível, entretanto, que ele já arrendasse as terras, tendo contratado Philipp Schmitz para a construção do moinho. 



A estrutura de madeiras encaixadas e preenchidas com tijolos usada na técnica enxaimel - Foto: Arquivo Pessoal


O filho Mathias Schmitz, por sua vez, comprou as áreas relativas à parte sul do lote, pertencentes a Antonio e Catharina Junges em 25/04/1861, por 600 mil réis, e a Pedro e Margarida Dorscheid em 18/01/1868, por 400 mil réis (Códice C-389, Arquivo Histórico do RS). Assim sendo, Carlos Biehl ocupava a parte norte ou B do Lote nº 2 da Ala Leste, com 62.963 braças quadradas. Por sua vez, Mathias ocupava a parte sul ou A, com 98.963 braças quadradas. No Livro 1º de Memoriais da Ala Leste da Picada do Café (Códice C-385, Arquivo Histórico do RS), onde foi feita a medição da área e as confrontações do terreno do Lote nº 2, na parte norte é mencionada a existência de um ribeirão ou córrego, o qual corria para o norte. Devido à existência deste curso d’água, que é chamado de Arroio Serraria, tornou-se viável a construção do moinho. 


O Arroio Serraria - Foto: Arquivo Pessoal


Os moinhos coloniais, conhecidos há séculos, aproveitam a energia cinética obtida pela movimentação das águas para a moagem de grãos. A água favorece a movimentação de rodízios de madeira, que estão ligados a uma pedra redonda e pesada chamada mó, que acaba por triturar os grãos, transformando-os em farinha ou, ainda, para possibilitar a extração de óleo, como era realizado no Moinho de Biehl, para a fabricação de óleo de cozinha ou de combustível usado nas lamparinas, para iluminação das casas. Este óleo produz menos cheiro e fumaça.


No caso do moinho de óleo de amendoim, uma ou duas mós de pedra rolavam sobre uma base fixa, onde era colocado o amendoim, esmagando as sementes e transformando-as numa espécie de bolo pastoso. A seguir, este bolo era levado ao forno, onde era aquecido. Depois, o bolo era colocado embaixo de uma tora de madeira que, movida pela energia gerada pela roda d’água, prensava o amendoim. Esta prensagem provocava o escoamento do óleo, que saía por um orifício localizado embaixo da prensa. O resíduo do processamento do amendoim, chamado de ‘torta’, era usado na alimentação dos porcos. No tempo dos imigrantes alemães, havia quatro moinhos de amendoim na Picada Feijão.



A parte interna do moinho, com a extensão da roda d'água - Foto: Arquivo Pessoal


A parte interna do moinho, onde era amassado o amendoim - Foto: Arquivo Pessoal


O interior do moinho - Foto: Arquivo Pessoal


O interior do moinho - Foto: Arquivo Pessoal


Vista externa do prédio do antigo moinho de 165 anos de existência - Foto: Arquivo Pessoal


A demolição do Moinho - 19/05/2015 - Picada Feijão RS - Foto: Blasio Alberto Bervian


A demolição do Moinho - 19/05/2015 - Picada Feijão RS - Foto: Blasio Alberto Bervian





Nota 1: No Livro 2º do Registro de Títulos, onde está incluída a Picada do Café, Mathias Schmitz recebeu o Título de Propriedade na data de 01/12/1868, mas teve que pagar a posse em excesso de 2.963 braças quadradas, no valor de 2.963 réis, além das taxas e impostos (Códice C-363, Arquivo Histórico do RS). Mathias também foi proprietário do Lote nº 3, Ala Leste, parte sul ou A, com 62 mil braças quadradas, que foi vendido a Felippe Weber por escritura lavrada em 01/10/1860 (Códice C-389, Arquivo Histórico do RS).




Nota 2: O Moinho hoje se encontra na propriedade de outra família, pois não há mais descendentes da Família Biehl na área deste antigo lote colonial. Entretanto, há um ramo dos Biehl que reside em outro local da Picada Feijão.



Nota 3: Não foi possível determinar o parentesco sanguíneo entre o Philipp Schmitz Pequeno e o Grande dentro das informações do Familienbuch de Klüsserath, isto é, não foi encontrado o ancestral em comum em linha direta para os mesmos.








3 comentários:

  1. Boa noite. Você fala que o Moinho foi vendido para um morador de Nova Hartz. Você sabe dizer o nome ou sobrenome de quem comprou?

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    1. Desculpe-me mas não forneço este tipo de informação para pessoas anônimas.

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  2. Muito interessante e importante o seu relato! Estes moinhos estão se tornando cada vez mais raros. Minha família ainda tem um moinho de óleo de amendoim em Sapiranga, que vamos tentar restaurar. Vou entrar em contato com a sra. para ter mais informações. Abraço e parabéns pelo trabalho!

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